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Artigo

Minhas férias, artigo de artigo de Montserrat Martins

 

[EcoDebate] Diante da crise global todos temos 8 anos, cheios de teorias mas ávidos por alguém que nos explique tudo. Na minha infância, o primeiro dia de aulas tinha a tradicional redação “minhas férias”, não sei se hoje ainda tem. Nela narrei a experiência do meu primeiro emprego, vender sapatos na loja do meu avô em Soledade, seguido pelo meu primeiro negócio, vender limonada para os passantes na rua, em sociedade com duas irmãs. Lembrei disso agora, na volta das férias que tirei para viajar com meu filho de 17 anos, o Marcelo, porque não estamos mais em colégios e não nos pediram essa redação. Mas que conto em homenagem aos 8 anos que todos já tivemos um dia, quando o mundo ainda girava em torno de nós, como antes de Galileu ou no “Show de Truman”.

Logo no primeiro dia, descobrimos que a tranqueira nas ruas de Paris se devia à posse do novo presidente, o socialista François Hollande. Sendo o primeiro não-conservador eleito na região desde a crise de 2008, foi um marco importante e imaginei que a companhia de turismo tinha pensado em tudo para termos férias mais agradáveis, começando por festejos de posse. No sábado seguinte achei que os eventos eram dádivas pessoais, mesmo, quando fomos a um Pub em Londres torcer pelo Chelsea e ele ganhou o título europeu, com direito a festa em meio a muita cerveja e até torcedoras inglesas histéricas pela vitória. Em Berlim deve ter acontecido algo, mas não entendemos devido ao problema da língua (a propósito, os ingleses dizem que os holandeses não tem uma língua, mas uma infecção na garganta). Na Espanha, se diz que a Alemanha, depois de perder duas guerras, agora está dominando a Europa sem precisar delas. E na TV se ironiza que a Bélgica (capital de fato da União Européia), não é um país, mas uma franquia da Alemanha. Não vimos nada sensacional na Espanha, além de grevistas no aeroporto. Mas na volta ao Brasil, no último dia do mês, o noticiário era de que a Espanha é agora “o centro da crise do euro”.

Seria bom se o mundo girasse em torno de nós, porque poderíamos escolher mais presidentes como o da França e menos como o da Espanha, um conservador criticado por injetar muito dinheiro público num banco (Bankia) falido. E que prosperem movimentos como o M-15 (15 de maio), contestadores dos sacrifícios sociais impostos, em contraste com a ajuda aos bancos. Eles estão em sintonia com intelectuais espanhóis engajados, como os autores de um livro para leigos sobre o mercado financeiro, que desconstrói a tese dos sacrifícios sociais “inevitáveis” mas que mantém os privilégios dos banqueiros. Hoje há 17,4 milhões de desempregados nos 17 países da zona do euro, com taxa de 11%, a mais alta da história da união monetária (desde 1995). Há crescentes discrepâncias pois na Alemanha o desemprego caiu para 5,4%l, mas na Espanha subiu para 24,3%. Nos 27 países da União Européia (com Inglaterra e outros fora do euro), a taxa é 10,3%, com 27,4 milhões de pessoas sem trabalho.

Mas nos disseram, também, que a crise européia gira em torno de gastos exorbitantes com obras exageradas, quando todos achavam que eram tão milionários quanto os alemães; foram construídos aeroportos em cidades espanholas que sequer tem vôos regulares, por exemplo. Os desequilíbrios dos países de economia mais fraca seria fruto de maus planejamentos, pois quando começou a União Européia (espontaneamente entre Bélgica, Holanda e Luxemburgo), a união foi um grande sucesso econômico, que por isso atraiu Alemanha, França e Itália. Um sucesso que chegou ao ponto de fazer exigências para ingresso no bloco, sendo este a grande potência mundial em energias renováveis (importantes para reduzir dependência energética e alterações climáticas).

Economistas, decifrem e nos expliquem didaticamente, por favor (como os espanhóis), algo mais complexo que uma mera crise do capitalismo global, já que vemos um modelo que funciona bem em alguns países, mas não em outros. Explicações para essa caixa postal, enquanto procuro um colégio interessado na redação sobre as “minhas férias”.

Montserrat Martins, Colunista do Portal EcoDebate, é Psiquiatra.

EcoDebate, 05/06/2012

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