Vale a pena investir na educação e conscientização ambiental dos cidadãos a favor da vida, artigo de Julio Cesar Rech Anhaia
Imgem: IHU
“A preocupação básica da Educação Ambiental é a de garantir um meio ambiente sadio para todos os homens e tipos de vida existentes na face da Terra,” (AB´SABER, 1991, p.1).
A EDUCAÇÃO AMBIENTAL FRENTE À CRISE AMBIENTAL HODIERNA
[EcoDebate] Três de junho, comemoramos o primeiro Dia Nacional da Educação Ambiental, a data tem como referência a abertura da Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, ocorrida no Rio de Janeiro em 1992, conhecida como Rio-92.
A Educação Ambiental trata-se do processo de aprendizagem comunicação de problemas relacionados à interação dos homens com seu ambiente natural. É o instrumento de formação de uma consciência por meio do conhecimento e da reflexão sobre a realidade ambiental.
A educação não é um fim em si mesma, é um direito fundamental e um instrumento chave para mudar valores, comportamentos e estilos de vida, para alcançar um futuro sustentável é necessário fomentar, entre a população, a consciência da importância do meio ambiente. Uma das formas das pessoas adquirirem esta consciência, os conhecimentos e habilidades necessárias à melhoria de sua qualidade de vida se dão por meio da Educação Ambiental.
Estamos na Década da Educação para o Desenvolvimento Sustentável, de 2005 a 2014, que possui em sua essência uma idéia simples com implicações complexas, pois, após vivermos durante séculos sem nos preocupar com o esgotamento dos recursos naturais do planeta, temos que aprender, agora, a viver de forma sustentável.
O grande desafio é estimular mudanças de atitude e comportamento nas populações, uma vez que as capacidades intelectuais, morais e culturais do homem nos impõem responsabilidades para com outros seres vivos e para com a natureza como um todo.
A Década dá ênfase ao papel central da educação na busca comum pelo desenvolvimento sustentável. Mas o que exatamente é a Década? É um conjunto de parcerias que reúne uma grande diversidade de interesses e preocupações. É um instrumento de mobilização e advocacia. E é um veículo de responsabilidade pelo qual os governos, organizações internacionais, sociedade civil, o setor privado e comunidades locais ao redor do mundo podem demonstrar seu compromisso prático em aprender a viver sustentavelmente.
Sob a coordenação da UNESCO, essa iniciativa das Nações Unidas, instituída por resolução de sua Assembleia Geral, procura estabelecer um grande plano internacional de implementação, tendo como referência os preceitos da Agenda 21, em seu capítulo 36. Assim, os governos são chamados a aderir às medidas necessárias para a aplicação do que propõe a Década em seus planos e estratégias educativas. O interessante é que mais do que por sua abrangência, essa convocação atualiza o desafio paradigmático da educação ambiental quando a nomeia como Educação para o Desenvolvimento Sustentável.
Os que convivem com a educação ambiental podem constatar a surpreendente diversidade sob o guarda-chuva desta denominação. Um olhar um pouco mais detido seja por parte daqueles que estão aí a muito tempo, dos recém-chegados ou dos que estão de passagem pela área, observará as inúmeras possibilidades que se abrem sob a esperança de Pandora, como Santos & Sato apropriadamente denominaram o estado do debate em educação ambiental.
Uma vez legitimada a esfera da educação ambiental, emerge uma nova exigência de escolha ético-exigência de escolha ético-política. Afinal, a definição da educação como ambiental é um primeiro passo importante, mas também insuficiente se queremos avançar na construção de uma práxis, uma prática pensada que fundamenta os projetos põe em ação. É possível denominar educação ambiental a práticas muito diferentes do ponto de vista de seu posicionamento político-pedagógico. Assim, torna-se necessário situar o ambiente conceitual e político onde a educação ambiental pode buscar sua fundamentação enquanto projeto educativo que pretende transformar a sociedade.
Um dos bons encontros, promotores de potência de ação, é o encontro da educação ambiental com o pensamento crítico dentro do campo educativo. A educação crítica tem suas raízes nos ideais democráticos e emancipatórios do pensamento crítico aplicado à educação. No Brasil, estes ideais foram constitutivos da educação popular que rompe com uma visão de educação tecnicista, difusora e repassadora de conhecimentos, convocando a educação a assumir a mediação na construção social de conhecimentos implicados na vida dos sujeitos.
Paulo Freire, uma das referências fundadoras do pensamento crítico na educação brasileira insiste, em toda sua obra, na defesa da educação como formação de sujeitos sociais emancipados, isto é, autores de sua própria história.
“Somente os seres humanos que podem refletir sobre sua própria limitação são capazes de libertar-se, desde, porém, que sua reflexão não se perca numa vaguidade descomprometida, mas se dê no exercício da ação transformadora da realidade condicionante. Desta forma, consciência de e ação sobre a realidade são inseparáveis constituintes do ato transformador pelo qual homens e mulheres se fazem seres de relação. A prática consciente dos seres humanos, envolvendo reflexão, intencionalidade, temporalidade e transcendência, é diferente dos meros contatos dos animais com o mundo”. Estes elementos conformadores da prática consciente e a unidade dialética entre teoria e prática, na construção do conhecimento sobre a realidade, para transformá-la, com a mediação de critérios éticos, são à base da Educação no Processo de Gestão Ambiental.
Um processo educativo eminentemente político, que visa ao desenvolvimento nos educandos de uma consciência crítica acerca das instituições, atores e fatores sociais geradores de riscos e respectivos conflitos socioambientais. Busca uma estratégia pedagógica do enfrentamento de tais conflitos a partir de meios coletivos de exercício da cidadania, pautados na criação de demandas por políticas públicas participativas conforme requer a gestão ambiental democrática.
Acrescentar à educação a dimensão ambiental é uma tentativa de diferenciá-la da educação conservadora que, tradicionalmente, não se tem mostrado ambiental.
A educação ambiental crítica, transformadora, emancipatória, buscou a superação da educação ambiental chamada conservadora ou conservacionista, por acreditarmos que a mera transmissão de informações ecologicamente corretas não consegue solucionar os problemas ambientais que vivenciamos hoje. Por isso, nossos trabalhos buscam a construção do conhecimento de forma coletiva, participativa e contextualizada, incluindo o ser humano como parte integrante do ambiente.
Um “ambiente sadio”, para os homens, pressupõe que todos tenham uma vida digna, com condições de alimentar-se adequadamente, morar em um local seguro, ter garantido o acesso à saúde e à educação de qualidade. Porém, vivemos em uma sociedade com profundas desigualdades sociais e sabemos que esses direitos, garantidos pela Constituição, não estão disponíveis de fato para toda a população. A educação ambiental, portanto, pode instrumentalizar os sujeitos a quem são negados esses direitos, para que eles mesmos possam reivindicá-los e lutar por eles, passando, assim, a buscar soluções para os problemas que vivenciam.
A temática Educação Ambiental numa perspectiva Biocêntrica, valorizando e respeitando a sacralidade da Vida. Entende-se que as propostas atuais de Educação Ambiental definem demais, criam conceitos em demasia, mas falham quando não objetivam integrar, em primeiro lugar, o ser humano com a natureza, a Educação Biocêntrica proporciona essa integração.
Comumente o ambiente é entendido como a árvore, o rio, a água. O que se espera é que os processos de Educação Ambiental comecem a definir sociedade, cultura e as inter-relações entre tudo que existe no planeta como integrantes do ambiente. Enxergar o ambiente de uma perspectiva mais complexa, onde árvores, ar, água, homens e mulheres, sociedade e cultura encontram-se inseridos em uma relação sagrada, onde todos fazem parte do Todo, e tem o Todo em si mesmo. Sabendo que a vivência, a forte emoção do sentir-se vivo, ultrapassa a totalidade.
A Terra vem nos dando sinais que, possivelmente, já não está mais suportando o modo de consumo e de “desenvolvimento” que vigoram atualmente e esses sinais podem significar que nossas Vidas e a Vida das gerações futuras estão correndo risco. Por ser também um organismo vivo o planeta parece não suportar mais, e nos dá sinais, que o consumo exagerado dos recursos naturais poderá acabar com a possibilidade de Vida na Terra.
É despertar a sensibilidade das pessoas e contribuir para que sintam a Sacralidade da Vida, apresentando a Educação Biocêntrica e o Princípio Biocêntrico como caminhos a serem trilhados. Objetiva-se também, demonstrar que é mister a integração dos problemas sociais nas propostas de Educação Ambiental, enfatizando que sociedade e cultura fazem parte do ambiente; e esclarecer que o cuidado é capaz de salvar a Terra e todas as formas de Vida que nela habitam.
Acreditamos que toda proposta de Educação Ambiental deva começar pelo resgate do sentimento de pertença, do sentir-se vivo. Segundo Boff (2004 a, p. 116) “o homem precisa sentir-se natureza”.
A busca de soluções para os problemas ambientais podem acontecer, primeiro com os relacionados a uma localidade mais próxima dos envolvidos, no espaço cotidiano, como a própria casa, a rua, o bairro, a escola, o local de trabalho, a praça, para só depois englobar o município, o Estado, o país e o mundo. Isto porque a Educação Ambiental envolve todas estas escalas, sendo impossível pensar as questões ambientais somente no nível nacional ou global.
A educação ambiental é, portanto, um processo permanente e contínuo, que não se limita à educação escolar, mas, introduzi-la na escola, inclusive na educação infantil, é uma das estratégias para o seu desenvolvimento.
O reconhecimento do impacto ambiental originado pelas mais diversas atividades econômicas, de dimensão mundial, exige uma nova postura e comprometimento das populações quando à atenção dispensada ao meio ambiente. Desta forma, consolida-se a necessidade de compreensão pela comunidade, sobre o estilo de vida alicerçado na ética, cultura e equidade, como imperativos morais, na mobilização dos diversos setores e motor da transformação das sociedades.
A educação é uma prática social, que se diferencia da aprendizagem pelo processo de interação do homem com o contexto, portanto, educar é uma atividade orientada para mudar as circunstâncias através da transformação dos sujeitos, interferindo nos seus processos de aprendizagem. Segundo os princípios preconizados na Conferência de Tbilisi, para exercer a educação ambiental é preciso definir que orientação se pretende dar aos processos de aprendizagem.
Nessa concepção, a aprendizagem cooperativa torna efetiva a proposta sócio construtiva do processo participativo com envolvimento da comunidade, e com o propósito de trabalhar a realidade ambiental local. Os educadores contribuem para melhorar o mundo, ao motivar a participação ativa da comunidade e atuar como agente de transformação na melhoria da qualidade de vida e proteção ao meio. Ao participar do processo de planejamento e execução de suas atividades de aprendizagem, o aluno tem a oportunidade de tomar decisões e aferir resultados, colaborando dessa forma, para a formação do cidadão do futuro. Dessa forma, a educação ambiental assume relevância operacional no contexto do desenvolvimento sustentável.
Atualmente, percebe-se que é inquestionável a importância que deve ser dada à Educação Ambiental para a reversão do quadro de degradação ambiental instalada no último século devido ao uso desenfreado e irresponsável dos recursos naturais causando danos ambientais muitas vezes irreversíveis.
A formação do cidadão para a Educação Ambiental tornou-se, pois, uma questão emergencial e transformadora dessa realidade e tem como propósito analisar e mostrar as correlações econômicas, políticas, sociais, culturais e, principalmente ecológicas do mundo, contribuindo, portanto, para o desenvolvimento de uma consciência ecológica, de responsabilidade e solidariedade entre os indivíduos e as sociedades.
É preciso compreender a complexidade das questões sócia ambiental para poder intervir na realidade. Isto passa pela formação de novos quadros para lidar com as questões de educação ambiental, no âmbito do indivíduo e da coletividade direcionado para responsabilidade social e visando a sustentabilidade ambiental dos municípios.
A Educação Ambiental por sua natureza transversal, inter e transdisciplinar associada à urgência de se dar a devida relevância ao tema nas atividades cotidianas em sala de aula, na escola e seu entorno estabelece-se como objetivos principais realizar uma formação continuada em Educação Ambiental para professores do segundo ciclo do Ensino Fundamental e outros profissionais de educação.
Ainda se tratando da Educação Ambiental, as ações, atividades ou projetos devem ser planejados de modo a se compreender o “todo”, visão holística, considerar a disposição das partes ou dos elementos de um todo, coordenados entre si, e que “funcionam como estrutura organizada” abordagem sistêmica, com o apoio de diversas áreas do conhecimento e que cada uma dessas áreas atue como parte indispensável no desenvolvimento de um processo dinâmico, integrador e, sobretudo, dialógico, interdisciplinaridade.
A sociedade de consumo em que vivemos tem como hábito extrair da natureza a matéria-prima e, depois de utilizada, descartá-la em lixões, caracterizando uma relação depredatória com o seu habitat. Assim, grande quantidade de produtos recicláveis que poderiam ser reaproveitados a partir dos resíduos, é inutilizada na sua forma de destino final. Isso implica em uma grande perda ambiental, devido ao potencial altamente poluidor do mau gerenciamento dos resíduos gerados, comprometendo a qualidade do ar, solo e, principalmente as águas superficiais e subterrâneas, além do desperdício de recursos, especialmente os não recicláveis, inviabilizando sua obtenção no futuro.
Ao longo das últimas décadas, as pressões sobre o ambiente global tornaram-se auto evidentes, fazendo erguer uma voz comum pelo desenvolvimento sustentável. Essa estratégia requer um novo enquadramento mental e novo conjunto de valores. A educação é essencial à promoção de tais valores e para aumentar a capacidade das pessoas de enfrentar as questões ambientais e de desenvolvimento.
A educação em todos os níveis, especialmente a educação universitária para a formação de gestores e professores, deve ser orientada para o desenvolvimento sustentável e para forjar atitudes, padrões de capacidade e comportamentos ambientalmente conscientes, tal como um sentido de responsabilidade ética.
A Educação Ambiental é o instrumento mais eficaz para se conseguir criar e aplicar formas sustentáveis de interação sociedade-natureza. Este é o caminho para que cada indivíduo mude de hábitos e assuma novas atitudes que levem à diminuição da degradação ambiental, promovam a melhoria da qualidade de vida e reduzam a pressão sobre os recursos ambientais.
A espécie humana também faz parte da natureza. Então, agredindo a natureza, agride-se a si mesmo, com as poluições do ar, das águas, do solo, dos alimentos, do som, da paisagem das cidades. Elas atingem diretamente a pessoa humana, sua saúde, seu bem-estar. Nesse sentido, a defesa da ecologia é fundamentalmente uma defesa da qualidade de vida.
Fazer Educação Ambiental não só se preocupar com a conservação e preservação de espécies, nem muito menos apenas ensinar hábitos e atitudes corretas. Fazer Educação Ambiental é mais!
É, sobretudo, discutir a realidade que nos cerca. É perceber como caminha a sociedade que vivemos. Podemos começar a fazer isso de diversas formas. Discutir o consumo e a mídia pode ser um bom começo.
A mídia entra nas nossas vidas sem pedir licença, ditando uma forma de agir e pensar. Além do mais perdemos a nossa individualidade, pois passamos todos a ser apenas consumidores. As novas exigências de ter isso e aquilo para viver chegam cada vez mais cedo nas nossas vidas. Precisamos levar essas questões para dentro de nossas salas de aula, e também para nossas casas.
Construir uma nova educação, passando pelos graves e urgentes questões ambientais, é tarefa inadiável. Cumpre-nos, na condição de técnicos e educadores, não permitir que a mediocridade dos mercados impeça a realização desta tarefa. Além, disso é também importante que possamos saber transpor as formas dissimuladas de controle que o poder insiste em impor. A luta pela educação ambiental livre e aberta e, antes de tudo, política, política e ética. Vamos às ações.
No balanço do fim de um século restaram poucas contribuições positivas para garantir o futuro da humanidade no contexto do planeta que possibilitou o advento da vida. A Educação Ambiental será, com toda certeza, um dos poucos instrumentos de maior ressonância para a defesa do futuro. E, para reeducação dos pais através da consciência cultural de uma juventude que não admite o imediatismo, odeia a guerra e cultua justiça social.
“Existimos porque estamos vivos, somos porque nos damos conta da manifestação da Vida em nós. E a Vida em nós é o que realmente podemos chamar de milagre”.
Vivemos atualmente um momento de profunda crise socioambiental. Enfrentamos grandiosos problemas que demonstram a urgência de pensarmos sobre as relações que desenvolvemos entre nós mesmos e com o meio ambiente. Problemas tais como a desigualdade social nos países e entre os países, o desemprego crescente, o analfabetismo funcional, a miséria extrema, epidemias, doenças psicossomáticas, crise alimentar, crise energética, desertificação, perda de biodiversidade e tantos outros tornam inquestionável o fato de que precisamos construir novos caminhos, rever nosso modelo político-econômico, nossos valores e costumes. Para tal, acreditamos ser primeiramente importante reconhecer a multiplicidade de fatores envolvidos na constituição da nossa realidade, perceber a complexidade do mundo e de nossa existência.
A necessidade de nos aprofundarmos no entendimento dessa área é corroborada pelo acúmulo de um descrédito internacional crescente enfrentado pela educação ambiental nos últimos anos. E essa crise interna da educação ambiental pode ser explicada tanto pela fragilidade metodológica de sua prática quanto pela ausência de efeitos concretos, afinal, em mais de trinta anos de existência, ela não tem conseguido provar resultados na reversão da problemática ambiental no tocante as suas atribuições.
A fragilidade metodológica se faz perceber pela divergência entorno dos procedimentos nas atividades em educação ambiental, ainda não se sabe qual é a correta dosagem entre o domínio afetivo e cognitivo, entre abordagens positivas e negativas, ou entre os conteúdos reducionistas e biologizantes ou abrangentes e socioambientais. Permanecem dúvidas também sobre qual é o melhor momento da sensibilização dos educandos para a causa ambiental e o engajamento no enfrentamento dos problemas.
Assim, embora os princípios e objetivos da educação ambiental estejam razoavelmente esclarecidos, os meios para implementá-los são desconhecidos. Para pensar e avaliar algumas destas questões é preciso primeiramente conhecer o que vem sendo feito em educação ambiental e os sujeitos envolvidos com essa área de ação e de saber.
O objetivo da Educação Ambiental na Gestão do Meio Ambiente é proporcionar condições para o desenvolvimento de capacidades, nas esferas dos conhecimentos, das habilidades e das atitudes visando à intervenção individual e coletiva, de modo qualificado, tanto na gestão do uso dos recursos ambientais quanto na concepção e aplicação de decisões que afetam a qualidade do meio ambiente, seja ele físico natural ou construído.
A crise ambiental nunca foi tão seria. Percebe-se, no entanto, que a nova visão do mundo, baseada nas noções holísticas e ecológicas, infelizmente não foi absorvidas por todos; pouco por ignorância, outro tanto por relapso e também porque essa visão contrariava interesses mesquinhos individuais de grandes corporações. Assim a questão ambiental não apenas deixou de evoluir no sentido de proteção do meio, mas em muito piorou desde o surgimento dos primeiros movimentos preocupados com essa questão.
A crise de percepção afeta principalmente os líderes políticos que estão à frente da sociedade, pois esses ainda concordam com uma visão de mundo obsoleta que não se adapta mais a este mundo globalizado. Além disso, existe a falta de reconhecimento desses a respeito dos impactos das “suas” decisões sobre as gerações futuras. A verdade é que não existem crises e sim uma crise com diferentes enfoques. Para ultrapassar a visão cartesiana de mundo é necessário conhecer um novo tipo de visão: a visão sistêmica.
O alicerce da ética ambiental deve ser a premissa para a educação ambiental libertadora de velhos conceitos, que fundamenta a noção de que o meio ambiente é uma herança entre as gerações. É preciso reciclar o lixo e as ideias, reduzir o consumo supérfluo e produzir organicamente noções de respeito ao ser humano e as suas diferenças, acreditando no seu potencial para transformar-se e superar as adversidades como a avassaladora crise ambiental hodierna.
A distinção entre a “ecologia rasa” e a “ecologia profunda” tratando exatamente que se refere o Chefe indígena Seattle, em 1854, ao responder ao presidente dos EUA sobre a eventualidade de vender suas terras deixou claro que o homem branco deveria ensinar as suas crianças que “somos parte da terra e ela faz parte de todos nós”.
A ecologia rasa é antropocêntrica ou centralizada no ser humano. Ela vê os seres humanos como situados acima ou fora da natureza, como a fonte de todos os valores, e atribui apenas um valor instrumental, ou de “uso” a natureza. A ecologia profunda não separa seres humanos ou qualquer outra coisa, do meio ambiente natural. Ela vê o mundo não como uma coleção de objetos isolados, mas como uma rede de fenômenos que estão fundamentalmente interconectados e são interdependentes. A ecologia profunda reconhece o valor intrínseco de todos os seres vivos e concebe os seres humanos apenas como um fio particular da teia da vida.
A ignorância ambiental deve ser dizimada. A ausência de conhecimento acaba sendo mais uma fonte de degradação ambiental, motivo pelo qual a educação ambiental e o direito a informação ambiental são de primazia indiscutível a garantir a participação efetiva na proteção do meio. Para que seja atingida, o intento de chegarmos ao Desenvolvimento Sustentável por intermédio da participação de todos, sobre a base da educação e da informação ambientais, acima de tudo é fundamental a mudança de comportamento de todas as pessoas e de todos os segmentos da sociedade, sejam eles públicos ou privados.
Quando formarmos uma consciência pública livre e capacitada a realizar críticas construtivas em relação ao meio, quando houver bom nível de conhecimento sobre o que se pretende discutir, a proteção da qualidade ambiental, o equilíbrio ecológico e o desenvolvimento econômico e social serão atingidos com o auxílio da educação ambiental baseada, em princípios da ética ambiental, o que garantirá a qualidade de vida do planeta no futuro.
A Educação Ambiental é um instrumento de melhoria da qualidade de vida, a partir da formação de cidadãos conscientes de sua participação local no contexto de conservação ambiental global.
Julio Cesar Rech Anhaia – Eng. Agr. – 03 de Junho de 2012 – ANO DA RIO+20
EcoDebate, 04/06/2012
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Fantástico o texto de Júlio César!
Aprendi de forma bem clara o conceito e a finalidade de uma educação ambiental. Parabéns!
SÓ TEM UM PEQUENINO PROBLEMA: a educação e a conscientização ambiental não alteram a atuação do capitalismo, que é o promotor de toda a destruição.
Mas é sempre assim: o povo, que é o instrumento do capitalismo, sempre é apontado como o culpado de tudo. Até mesmo as eleições para os cargos dos Estados capitalistas só não resolvem todos os problemas porque o povo não sabe votar. É ironia demais. Todos os partidos políticos são os salvadores, capazes de resolver todos os problemas, mas o povo nunca acerta.
E não acerta mesmo, porque para acertar não é com voto.