O preço da liberdade de imprensa, artigo de Nara França
[EcoDebate] Aproveito o ensejo, após assistir uma sessão jurisdicional, ao vivo, do Tribunal Superior Eleitoral, quando sete ministros do TSE julgavam mais um caso. Mas o tema central da sessão, que parecia jogo de futebol (com dois tempos, e tudo mais), foi mesmo a liberdade de imprensa. Vossas Excelências (acho que viciei no termo, depois de ouvi-los tanto) demonstraram acreditar na liberdade de imprensa. Da forma como falaram a respeito, lembrei os tempos de ditadura, época em que, na minha opinião, houve, de fato, liberdade de imprensa.
Hoje, o que existe é troca de favores. Vossas Excelências do TSE estais enganados quanto ao fato de “não haver cooptação (que palavrão horroroso!) dos meios de comunicação”. Nem sempre a ‘moeda’ utilizada é a reconhecida oficialmente. Na verdade, o escambo é a ‘moeda’ dos corredores da comunicação. Quem dá mais, leva – e, às vezes, não é dinheiro, mas sim, o ‘poder’ ilusório, efêmero.
Ah, lembrei agora, durante a sessão do TSE, até um advogado citou a palavrinha ‘peremptoriamente’, numa entonação de fazer inveja (acredite!).
Sobre a liberdade de imprensa, acho que posso falar livremente, já que sou profissional no setor, e nunca fiz outra coisa na vida, a não ser mesmo ‘jornalisticar’. Liberdade de imprensa é utopia, recurso de oratória, e, hoje, infelizmente, não vai além disso, nem tentativa. Em todos os meios de comunicação (rádio, TV, jornal, informe web), liberdade de imprensa é sinônimo de interesse do ‘chefe da empresa’. Aliás, todas as matérias jornalísticas, desde a manchete, até o pequeno parágrafo, no canto da última página, tudo mesmo é determinado pelo ‘cabeça’, que conduz o que chama “linha da empresa”. Se falam o contrário disso por aí é mentira, ilusão mesmo.
Nem vou relatar aqui o que já presenciei de extorsão, troca de favores, alterações de textos, etc e tal, nas ‘senhoras empresas de comunicação’. Aqui no sul, inclusive, existe um termo bastante conhecido, principalmente entre repórteres, que é o “molhar a mão”, que quer dizer receber algum dinheiro (às vezes, uns trocados mesmo, o que envergonha ainda mais a classe), para fazer uma determinada entrevista, ou matéria “especial”. A expressão é bastante ‘utilizada’ entre políticos, que, em tempos de campanha eleitoral, ou em momentos ‘complicados’ de carreira, são diretos, e oferecem “molhar a mão” dos profissionais de comunicação. Também eu já recebi este tipo de proposta, fiquei tão indignada, e manifestei toda minha raiva na ‘cara’ do dito político. Acabei saindo do jornal, ou “sendo saída” – nem lembro mais.
Como qualquer ser humano, também o proprietário de um jornal, ou canal de televisão, ou rádio, tem seus princípios, sua pirâmide de valoração. E é por esses caminhos (conhecidos dele) que conduz o meio de comunicação que tem nas mãos. Por outro lado, cada funcionário dele enxerga e pensa de forma diferente. A realidade é que todo meio de comunicação é corruptível – senão hoje, ontem já se deixou corromper, desviando o foco de uma informação pública importante, e/ou deturpando os fatos, tendo barganhado, com isso, alguma(s) vantagem(s) – bem maior(es), provavelmente, da imaginada por Gérson.
Por isso, é muito complicado falar de liberdade de imprensa, quando sabemos, todos nós, profissionais da área, que ela não existe. Tive um colega de redação que sempre dizia que, naquele jornal, a liberdade de imprensa tinha nome, e citava (claro!) o nome completo do proprietário, sem esquecer o Dr., na frente. É até engraçado lembrar disso, mas é com tristeza que percebo a liberdade de imprensa afastar-se cada vez mais dos nossos meios de comunicação, deixando-nos sem voz, nem vez.
Tenha certeza: neste espaço, tudo o que comunico é meu exercício de liberdade, construída e estruturada, a partir do que tive acesso tomar conhecimento, para, depois, então, elaborar conscientemente. Por isso, nenhuma verdade conceitual, ou absoluta.
Quando você ler, assistir, ou escutar uma reportagem, questione – ou não…
Nara França é jornalista gaúcha, tendo sempre trabalhado em redação de jornal, e hoje atuando em entidades sindicais e movimentos sociais, no sul do Brasil. Também, mantém o blog http://ironia-cronica.blogspot.com.br/
EcoDebate, 01/06/2012
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