MST: ‘Soberania alimentar é a solução para os problemas discutidos na Rio+20’
[Por José Coutinho Júnior, da Página do MST] A Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, mais conhecida como Rio+20, irá reunir chefes de Estado e representantes de vários países para debater soluções para a crise ambiental que vivemos.
Em contraste com a ECO 92, conferência realizada em 1992, que debateu o mesmo tema com maior respaldo da sociedade civil, a Rio+20 apresenta a supremacia dos interesses das empresas transnacionais e do capital financeiro sobre as necessidades da sociedade.
Isso se dá, em grande parte, pelo fato do capital financeiro, que hoje domina em grande parte a agricultura, por meio das sementes transgênicas, uso de agrotóxicos e monopólios de mercados, além de ser o grande responsável por tornar os bens naturais em mercadorias, precisar de um “passe livre” para avançar.
Eis que surge, então, a ideia de “economia verde”, principal ponto a ser debatido na Rio+20. “Está na hora de reconhecer que a natureza é a maior empresa do mundo, trabalhando para beneficiar 100% da humanidade. E faz isso de graça”, avalia Jean-Cristophe Vié, diretor do Programa de Espécies da União Internacional pela Conservação da Natureza (IUCN, sigla em inglês), principal rede global pela conservação da natureza
Para ele, a lógica que está por trás da economia verde é transformar a natureza em si uma mercadoria à mercê das transnacionais e corporações supostamente “ecologicamente responsáveis”, removendo quaisquer obstáculos para sua exploração.
Segundo Martin Drago, da organização Amigos da Terra Uruguai, “a economia verde não é solução para os problemas sociais e ambientais, pois reproduz o sistema que criou as crises em que vivemos. O sistema tenta se reinventar vestindo-se de verde. Isso não é a solução para as crises”.
Mudança de modelo
Drago avalia que a proposta da economia verde está ligada ao quadro de crise do capitalismo, quando o capital tenta ampliar suas fontes de acumulação para outras áreas, como florestas e o meio ambiente.
“É preciso mudar esse modelo de exploração da gente pela gente e repensar o padrão de consumo desenfreado que temos. Devemos pensar na vida, não só do meio ambiente, mas a vida humana também”, defende Drago.
Para Martin, a alternativa é a implantação da Soberania Alimentar. “A soberania alimentar passa pelo controle das sementes, do uso das águas, da terra pelos camponeses. Não é só algo que atinge o campo, mas também a cidade. Deve-se construir mercados locais, que aumentam a relação produtor-consumidor e eliminem o intermediário que especula e aumenta preços”, propõe.
Aliada à Soberania Alimentar está a agroecologia, um modelo de produção no campo que procura ligar o processo de produção agrícola ao respeito à natureza.
Assim, fortalece-se o laço do agricultor com a natureza para produzir alimentos saudáveis livres de agrotóxicos, por meio do investimento público na pequena agricultura e da Reforma Agrária, que além de distribuir terras aos camponeses deve dar condições materiais para possam produzir.
“Para implantar a soberania alimentar, tem de mudar muito. Não há soberania alimentar no capitalismo, em grande parte pelo controle corporativo da agricultura. O povo tem que deter esse controle e os governos, apoiar os produtores de alimentos, apoiar a pequena produção com crédito, estrutura e ajudar a criar os mercados locais. É central desmantelar o modelo capitalista e fortalecer os pequenos produtores”, afirma Martin.
Os movimentos sociais do campo avaliam que a Rio+20, cujo slogan é “o futuro que queremos”, irá debater o futuro que corporações e o capital financeiro querem, pois é impossível se falar em proteção ambiental sem que se discutam mudanças profundas no sistema econômico que as causa em primeiro lugar.
“Não há muitas expectativas em termos de soluções na Rio+20, mas acho que o capital vai sair fortalecido devido à aprovação de conceitos como o da economia verde”, prevê Martin.
Nesse quadro, diversos movimentos sociais, como a Via Campesina, o MST e os Amigos da Terra, que irão compor a Cúpula dos Povos, um evento paralelo à Rio+20 que irá debater a crise ambiental sob a ótica da sociedade civil.
“A ideia da Cúpula dos Povos é fazer uma grande mostra a partir dos próprios povos e demonstrar que não há necessidade de grandes empresas continuarem acumulando e privatizando a riqueza. Diversos povos, campesinos, quilombolas, sindicatos, organizações que já fazem concretamente uma proposta de sociedade diferente do que está colocada – e que socializa a relação com a natureza, a riqueza, gera trabalho – estarão reunidas nesse espaço”, afirma Marcelo Durão, da Via Campesina.
EcoDebate, 28/05/2012
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