Rio+20 – Quando Acabar, artigo de Ana Paula de Carvalho
[EcoDebate] De nada adianta o direito de igualdade se não temos uma justiça que garanta este princípio, além de que nada adiantam as leis se criamos instrumentos para burlá-las, assim como nem tudo que é legal, é moral. Neste sentido não adiante discutirmos, estabelecermos agendas, definirmos metas se não as seguimos e criamos artifícios para fazer o que queremos. O Brasil tem tudo para viver ás custas de energia renovável, por outro lado estamos construindo termelétricas, assim como explorando inconsequentemente o petróleo, mesmo que às custas de tudo e de todos.
Criticamos muito a China, mas nestes últimos meses a mesma vem invertendo este cenário, firme em direção de um uso racional energético e investindo na renovação, isto é, investindo em energia renovável. Devíamos investir mais em energia solar, reuso de água cinza e de chuva, em mobilidade responsável.
O Estado do Rio de Janeiro, perdeu totalmente sua vocação de turismo e pior, está cego pelo petróleo esquecendo (ou fingindo não compreender) o esgotamento de suas reservas, isto é, acaba, e depois de acabar as cidades devem continuar a viver, mas já terão perdido toda a sua identidade. A dependência do petróleo, a que estamos sendo impostos, é como qualquer outra, como é fisicamente insustentável e ao acabar causa a depressão.
Há de se convir que mesmo as reservas do pré-sal são uma contribuição muito pequena para esta energia do mundo. Mas, esta febre faz com que sejam feitos vários outros empreendimentos atrelados á sua exploração e industrialização. A falta de planejamento faz com que ao fim desta matéria prima todos os negócios e empreendimentos se tornarão obsoletos, abandonados… Elefantes brancos.
Para todo o conhecimento que adquirimos neste tempo todo, é fora de moda nos limitar ao petróleo para desenvolvimento. Podemos ser melhores! Existem maneiras melhores de conquistarmos a prosperidade e garantirmos a qualidade.
Hoje cresce consideravelmente o número de polos navais por todo litoral brasileiro, será que o Brasil necessita de tantos? Parece mais uma forma de pulverizar, e assim sendo dificultar o controle (este em todos os sentidos) e através destes surge um surto de indústrias provocadas por estes empreendimentos, mas quais se manterão quando o ciclo do petróleo declinar nos próximos 20 anos de acordo com o crescimento mundial de demanda?
Regiões turísticas, como Saquarema, Maricá, entre outros simplesmente se tornarão polos industriais, é este tipo de desenvolvimentos que buscávamos? Acredito que a fórmula, (não mágica) para a garantirmos a Sustentabilidade Urbana, esteja na forma como se faz política e se queremos mudar o resultado, devemos mudar a política. Jamais mudaremos os resultados se não mudarmos fatores na operação.
Na Rio+20, deve-se abordar assuntos sobre a economia verde, algo importantíssimo, mas não podemos com ela encobrir a realidade de cidades do Estado do Rio de janeiro sobre a economia negra do petróleo a qualquer custo que vivemos indisfarçada e obscenamente. Sim, devemos abordar a erradicação da pobreza, este seria o eixo principal, mas todos esquecem da sinergia entre os impactos sociais em cidades desestruturadas, e sem pessoal capacitado para este mercado que só enxerga o ouro negro. Sem focar muito no ambiente, pois este está sendo parcelado, leiloado a quem ousar em investir sem tecnologias que garantam estas extrações do pré-sal, vide a Chevron.
Ao fim o Brasil está tentando se fantasiar de coerente. A clandestinidade neste mercado é o que garante que há algo de errado nele!
Não deve ser complicado ter o tão sonhado crescimento, com inclusão social e também com a proteção á natureza, é complicado nos livrarmos do vício da política politiqueira que estamos vivendo, mas se não o fizermos continuaremos nesta lengalenga. Às vezes me sinto como se vivesse em terapia de grupo, todos falam sobre os problemas, assumem responsabilidades, confessam até suas clandestinidades, mas é tudo ainda muito no campo filosófico e não prático.
A mobilização política, não está resumida a política partidária, sendo assim deveria ter mais participação da sociedade civil, pois ela é fundamental para incorporar a sustentabilidade às políticas públicas, e por esta razão devem ser ouvidas, e seus direcionamentos praticados pela administração pública. Ao fim de toda uma discussão de um problema junto à sociedade, se esta for ignorada e forçara a engolir aquilo que não quer, mais cedo ou mais tarde vai colocar tudo para fora!
Também não existe a apresentação de outras tecnologias ou alternativas para gerar de forma positiva a economia das cidades. Somente com acesso a todas estas informações é que a sociedade deverá escolher qual o modelo de desenvolvimento seria mais adequado.
O Brasil deixou de ser o país das oportunidades para ser de oportunistas governamentais. Devíamos nos atentar que pela escassez de matérias primas principalmente, mas também de outros recursos é o que nos faz estarmos num bom momento econômico, até mesmo pela alta na demanda para atender ao mercado internacional. Inovação e tecnologias não são nem vistas ou achadas neste sentido, o que é uma pena, esta alta demanda é o resultado daquilo que conservamos de nossos recursos, coisas que demais economias (em outros países) não fizeram.
Mas nestes últimos 10 anos, nós brasileiros, parecemos copiar o tipo de desenvolvimento que destrói, causando uma exaustão, para evitar isto, para pararmos de ir ao sentido contrário da modernidade deveríamos ter um desenvolvimento equilibrado e duradouro, com qualidade de vida. Estaremos poupando para o futuro e quando acabar certamente o mundo buscará em nós estes recursos.
Ana Paula de Carvalho, uma Brasileira que nunca desiste!
Ana Paula de Carvalho, é Engenheira Civil
WWW.CIVILIDADE.COM.BR
EcoDebate, 21/05/2012
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1º) No capitalismo, crescimento com inclusão social não é difícil. É impossível.
2º) O tipo de desenvolvimento que destrói foi implantado, no Brasil, na primeira metade do século XVI, pelos europeus.
Ana Paula de Carvalho tem algum blog ou pagina onde escreva regularmente?
Muito bom o texto… Gostaria de acompanhar mais seus pensamentos.