Destinação final conjunta entre matéria orgânica e lodos de ETAs e ETEs, artigo de Roberto Naime
[EcoDebate] O crescimento das estações de tratamento de águas e esgotos em todos os municípios está aumentando ou tende a crescer em curto espaço de tempo, pois existe um consenso social de que são necessários investimentos cada vez maiores em saneamento básico para manutenção e melhoria da qualidade de vida das populações.
As estações de tratamento águas e de esgotos produzem quantidades significativas e relevantes de lodo e não é possível tratar os esgotos e depois ter de enfrentar um problema ainda maior com a destinação dos lodos das ETEs (estações de tratamento de esgotos).
Análises bibliográficas (JANUÁRIO et al., 2007 e WANKE et al, 2002, dentre outros) indicam que a geração de lodo grosseiramente, equivale a 1 tonelada/dia para cada m3 de vazão da central de tratamento, e portanto podem ser esperados volumes de algumas toneladas por dia em cada um dos municípios que implanta centrais de tratamento de esgotos.
Não é conveniente fica aguardando para a adoção de soluções simplistas como a incorporação como adubo orgânico em solos, pois este tipo de solução necessita de tratamentos prévios como calagem para neutralização da acidez e geralmente infra-estruturas deste tipo, embora não sejam caras, não são planejadas para montagem e operação em grande escala.
Não é econômica a destinação para aterros sanitários de resíduos sólidos, embora esta seja uma solução tecnicamente adequada. Mas o custo final das operadoras das estações de tratamento torna proibitiva a adoção desta solução em escala de empreendimento e em caráter permanente.
Os lodos de estações de tratamento de esgotos são muito ricos em matéria orgânica e carbono, tendo já os efeitos microbiológicos de coliformes fecais e outros elementos sido neutralizado em geral por sistemas de tratamento que tenham sido eficientes.
Os lodos de ETEs constituem um resíduo extremamente rico para ser utilizado em processos de compostagem em associações com os resíduos de poda dos municípios, que constituem outra fonte rica em matéria orgânica, carbono e biomassa.
A incineração destes lodos após a desidratação completa também é indicada como recomendável (JANUÁRIO et al, 2007), não sendo apropriada quando realizada de forma isolada, mas sem qualquer contra-indicação quando associada a restos de matéria orgânica em geral, em processos que podem prever formas de compostagem em seu fluxograma ou mesmo se restringirem a incineração simples.
Quando realizada isoladamente, a incineração tem custos caros, mas quando realizada em consorciamento com outros resíduos sólidos urbanos não passíveis de reciclagem pode ser uma solução muito adequada. Separadamente os lodos podem não apresentar alto poder calorífico, mas em consorciamento com os demais resíduos orgânicos pode se tratar de uma boa alternativa.
Isoladamente o volume de cinzas corresponde a um máximo de 10 a 15% do volume de lodo inicial de estações de tratamento de efluentes que foi submetido ao processo de incineração.
Mas em qualquer que seja o caso, não se recomenda a utilização da destinação final através de incineração tanto para lodos de ETAs (estações de tratamento de água) e ETEs (estações de tratamento de esgotos) isolados ou consorciados com os demais resíduos sólidos, sem que os lodos tenham sido submetidos a rigorosos processos de desidratação para não prejudicar a operação dos sistemas de caldeiras associados a procedimentos com incineradores.
As estações de tratamento de água ou de esgotos produzem quantidades de lodos que variam conforme a qualidade da água e quantidade de produtos químicos utilizados nos tratamentos. A quantidade de lodo varia bastante durante o ano em função das características e da qualidade da água e dos esgotos a serem tratados, influenciando muito a pluviosidade de uma região.
Estes lodos de ETAs ou ETEs pode ser incorporado aos solos como fertilizante orgânico ou pode ser misturado às argilas vermelhas para utilização em processos produtivos de cerâmicas em pequenas quantidades, mas ambas as destinações embora tecnicamente muito adequadas, padecem da falta de gerenciamento sistêmico.
Por isto, na hora de realizar um planejamento integrado e sistematizado para todas as questões que envolvem os resíduos sólidos, não se pode deixar de planejar uma destinação final conjunta ou isolada para os lodos das ETAs ou ETEs.
JANUARIO, G. F. e FERREIRA FILHO, S. S. Planejamento e aspectos ambientais envolvidos na disposição final de lodos de estações de tratamento de água da região metropolitana de São Paulo. Eng. Sanit e Ambiental vol 12, n 2, abril/junho 117 -126, 2007
WANKE, R.; SILVA, G. M.; SANTANA, T. D. C. e GONÇALVES, R. F. Soluções integradas para gerenciamento de lodos de pequenas estações de tratamento de esgotos sanitários na região sudeste do Brasil. XXVIII Congresso Interamericano de Ingeniaria Sanitária e Ambiental. Anais…Cancun, México, 2002
Dr. Roberto Naime, Colunista do EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.
EcoDebate, 15/05/2012
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Meu caro Roberto,
Muito oportuna sua mensagem. É preciso com urgência cuidar do destino do lodo das ETAs e das ETEs.
A Copasa fez uma pesquisa na ETA de Rio Manso para utilização em processo produtivo de cerâmica, mas não deu certo. O lodo de ETA tem muita matéria orgânica, o que é prejudicial à fabricação de cerâmicas. O ideal seria que as ETAs tivessem um tratamento preliminar que removesse os resíduos minerais e, então, seu lodo poderia ser tratado como o lodo de uma ETE.
Por outro lado, o lodo de ETE, que contém muitos nutrientes, tem pequena quantidade de carbono, pois este é consumido no processo de tratamento. Sua ideia de compostagem por associação com resíduos de poda é muito boa. Esses resíduos fornecerão o carbono que falta no lodo das ETEs.
as idéias são boas, mas por enquanto pelo que me pareceu ….. estão a cargo das universidades e de quem produz estes lodos tanto a pesquisa e o convencimento do órgão ambiental da destinação nova da solução proposta. dado a brangência deste problema, não seria interesse de Estado, digo a União, Estados e Municípios buscarem esta solução, a desenvolverem e apresentá-la a sociedade ?