Paulistanos consomem menos frutas, legumes e verduras que o recomendado
Os paulistanos estão comendo mal, indica pesquisa da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP. De uma amostra de 725 pessoas, em média, 95% consomem menos frutas e sucos que o recomendado pelo Guia Alimentar para a População Brasileira, elaborado pelo Ministério da Saúde. Os números são preocupantes também para o grupo “cereais, tubérculos, raízes e derivados”, com 88%. Mas o pior índice está em “leite e derivados”, em falta na dieta de 100% da amostra avaliada.
Os adolescentes são o grupo com maior defasagem. Eles consomem três vezes menos frutas, legumes e verduras que os idosos. “Essa é uma fase da vida em que os hábitos alimentares ainda estão em formação. Quer dizer que, no futuro, os jovens podem tornar-se adultos com propensões a desenvolver doenças crônicas”, alerta o nutricionista Eliseu Verly Junior, responsável pelo estudo que integrou sua tese de doutorado, orientada pela professora Dirce Maria Lobo Marchioni. Verly utilizou a amostra obtida por meio do Inquérito de Saúde (ISA) de 2008, no município de São Paulo.
O Guia Alimentar para a População Brasileira mostra as porções recomendadas de grupos de alimentos que se deve consumir diariamente para reduzir o risco de doenças crônicas não-transmissíveis, como as cardiovasculares e o câncer. Entre as fontes, estão relatórios da Organização Mundial de Saúde (OMS), feitos com base em pesquisas da área de nutrição e saúde realizadas no mundo tudo.
Além dos já mencionados, 83% da população ingere menos açúcares e doces do que deveria. Para legumes e verduras, o número é de 72%. Feijões, 43%. Estão mais próximos do adequado carnes e ovos, com 11%.
Na análise por renda e escolaridade, notou-se uma diferença grande apenas em legumes e verduras. Entre os mais pobres com menor escolaridade, 92% consumiam menos que o recomendado, enquanto a ocorrência é de 54% entre os mais ricos.
Em relação ao sexo, foi observada uma maior proporção de homens que não atingem a recomendação dos grupos de “frutas e sucos naturais” e “verduras e legumes”, em comparação as mulheres.
Método
O levantamento do consumo de grupos de alimentos pela população enfrenta um problema. Suponhamos que alguns participantes da pesquisa sejam consumidores habituais de banana. No entanto, por alguma razão, durante o período da coleta de dados, não ingeriram a fruta em nenhum dia. Nos resultados, constaria consumo igual a zero para esta parcela da amostra, o que é falso.
Para evitar esse problema, Verly utilizou-se de um método recente de análise, desenvolvido pelo National Cancer Institute, nos Estados Unidos. Em vez de coletar o consumo de alimentos de uma determinada pessoa por um longo período, é calculada a variação do dia-a-dia, com base em dados de um tempo mais curto de coleta. Assim o método corrige os dados de consumo desta parcela da amostra, atribuindo-lhe um consumo estimado semelhante ao que seria obtido caso o período da coleta fosse mais extenso.
“São dados mais precisos que os de antes. Assim, facilita para as autoridades tomarem medidas de prevenção com base em números mais próximos da realidade”, diz o pesquisador, que é agora também professor do Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).
Mais informações: verlyjr@ims.uerj.br , com Eliseu Verly Junior
Por Thiago Minami, especial para a Agência USP e publicado pelo EcoDebate, 11/05/2012
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