Estudo indica que o aquecimento global afetará as principais capitais do País
Além de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Manaus, cidades do Nordeste estão entre as que mais sofrerão com a mudança de temperatura, afirma estudo do Inpe e da Unesp.
Um estudo que combinou modelagem climática com indicadores sociais das cidades brasileiras apontou onde estão as populações mais vulneráveis às mudanças climáticas no País. Em um cenário de aquecimento global, moradores de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Manaus e de vários municípios nordestinos serão os que estarão mais sujeitos a riscos.
O trabalho, realizado por pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e da Universidade Estadual Paulista (Unesp), considerou que as projeções que mostram para as próximas décadas aumento de temperatura e mudanças no regime de chuvas não contam sozinhas quais podem ser os impactos reais aos homens. Mas, ao cruzar esses dados com a densidade populacional e o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), os cientistas deduziram que seria possível oferecer uma noção melhor do problema.
O ganho de compreensão fica claro ao se observar um mapa feito a partir do chamado Índice Regional de Mudança Climática (RCCI, na sigla em inglês). Sintetiza, segundo o físico Roger Torres, do Inpe, mais de uma centena de projeções previstas por modelos climáticos apresentados no quarto relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), de 2007.
O mapa mostra que a área mais suscetível – onde as mudanças climáticas no Brasil comparativamente serão mais severas – envolve a região central e Norte do País. Isso significa que esses locais devem experimentar um aumento maior de temperatura, assim como mudança nas chuvas, que pode ser tanto nos totais anuais, como nas variações sazonais – secas mais compridas, por exemplo.
No entanto, quando são levados em conta os indicadores sociais, percebe-se que os mais vulneráveis aos problemas futuros estão no Nordeste e em algumas das principais capitais brasileiras. Nesses locais, o impacto na vida das pessoas será maior.
Dificuldades – O ecólogo David Lapola, da Unesp em Rio Claro, responsável por cruzar os dados, explica: “O Nordeste tem IDH (índice que combina educação, saúde e renda) baixíssimo, talvez alguns dos menores do País, e a densidade populacional é relativamente alta. São indicativos de que essas pessoas terão maior dificuldade para responder a um cenário de mudança climática, mesmo se ela não for a mais severa do País”.
Já em capitais como São Paulo e Rio de Janeiro, o problema é a grande densidade populacional e o agravamento, com as mudanças climáticas, de situações já comuns hoje quando acontecem eventos extremos, como enchentes e deslizamentos de terra, e que os governos ainda não conseguem resolver.
O contrário vale para o centro e o Norte do País. Apesar de lá o indicador climático apontar uma situação de mudanças climáticas mais severas, na comparação com os demais estados, os vazios demográficos tendem a possibilitar que a população seja menos vulnerável.
Os pesquisadores explicam que a ideia geral foi apontar quais serão as áreas mais problemáticas a fim de aproximar as informações climáticas dos tomadores de decisão, de modo que eles tenham melhores condições de desenvolver políticas públicas para essas cidades. “Com centenas de projeções climáticas, era mais difícil decidir, mas um trabalho como esse melhora a relações entre os cientistas e os políticos”, afirma Lapola.
“Os fenômenos recentes, como as cheias em São Paulo e os deslizamentos no estado do Rio por dois anos seguidos, mostram que não estamos preparados”, diz. “O estudo reforça que esses cenários só tendem a piorar. E que é preciso trabalhar já.”
Locais indefinidos – O trabalho, publicado ontem (6) na revista Climatic Change, não detalha, porém, exatamente o que pode ocorrer em cada lugar. Estudos anteriores, feitos com auxílio do Inpe, já mostraram onde as Regiões Metropolitanas de São Paulo e do Rio são mais vulneráveis, mas para as outras capitais ainda faltam estudos.
E as altas densidades demográficas mascaram as diferenças sociais, diz o ecólogo. “Trabalhamos com o IDH municipal. O de São Paulo é relativamente alto até, mas se considerarmos as diferenças dos bairros, temos desde locais com índice compatível a países nórdicos e outros tão baixos quanto no Nordeste. No futuro, queremos olhar essa heterogeneidade para mostrar um quadro mais preciso.”
Matéria em O Estado de São Paulo, socializada pelo Jornal da Ciência / SBPC, JC e-mail 4491.
EcoDebate, 08/05/2012
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