Equilíbrio Hidrológico, artigo de Roberto Naime
[EcoDebate] Em hidrologia, a ciência que estuda as águas superficiais, é bem conhecida a equação denominada balanço hídrico. Esta contabilidade representa a quantidade de chuva de uma determinada região, que representa a disponibilidade hídrica, subtraída das águas que sofrem infiltração nos solos e/ou evapotranspiração.
As águas que sofrem escoamento superficial, denominado “run off” representam as reservas hídricas superficiais disponíveis. As águas superficiais das bacias e sub-bacias hidrográficas, atualmente são gerenciadas pelos comitês de bacias hidrográficas e se destinam prioritariamente às necessidades do consumo humano, servindo para finalidades agrícolas e industriais posteriormente (JORDÃO et al, 2005).
Conforme as características físicas dos solos e rochas subjacentes da bacia hidrográfica considerada, temos a interação entre os rios e os lençóis freáticos ou subterrâneos adjacentes. Considerando principalmente a variável permeabilidade, que é a capacidade das águas de migrarem em um determinado meio e medida em cm/s, temos os regimes fluviais.
Em geral, na estação quente as águas migram dos rios para o interior dos solos e das rochas, caracterizando o regime influente. Dependendo das demais variáveis, evidentemente.
Nas estações de alta pluviosidade, as águas tendem a realimentar os rios a partir dos solos e rochas, constituindo o denominado regime efluente (NASCIMENTO, et al, 2007).
Este fenômeno muito evidente, conforme se observa na Figura 1, explica porque a poluição dos continentes atinge os rios e a poluição dos mananciais hídricos atinge os lençóis freáticos (chuvas) ou subterrâneos (água acumulada nas rochas).
Este fenômeno comprova mais uma vez a complexidade e a inter-relação de todas as variáveis dos meios físico, biológico e antrópico, pois a água com suas características de solvente universal é o grande promotor das disseminações da poluição, através de ocorrências conhecidas como plumas de contaminação.
As águas subterrâneas são aquelas que são armazenadas no interior dos maciços rochosos. Podem passar pelo estágio freático ou serem dirigidas diretamente para o interior das rochas.
As rochas que armazenam as águas subterrâneas são conhecidas como aquíferos (OLIVEIRA et al., 1998), e as rochas que deixam fugir as águas subterrâneas denominam-se aquífugos. Existem 2 tipos de aqüíferos principais entre as rochas: os aqüíferos denominados primários ou por poros e os secundários ou por fraturas e diáclases.
A melhor expressão dos aqüíferos primários são as rochas sedimentares psamíticas, os arenitos e conglomerados. Para os leigos arenitos também são conhecidos como “lage de grês”. Estas rochas chegam a exibir até 40% de porosidade e armazenam grande quantidade de água, que percola livremente na rocha, produzindo poços tubulares profundos com grande capacidade de vazão.
Aqüíferos secundários ou por fraturas, ocorrem em todo tipo de rocha, tem menor capacidade de armazenamento e conseqüentemente geram poços tubulares profundos com menor produção de água.
As águas subterrâneas por definição são aquelas que estão armazenadas em rochas, e originalmente são geradas pelas fontes pluviométricas, mas freqüentemente sofrem influência de outras águas:
Águas conatas: são as águas que ficam armazenadas com os sedimentos desde a superfície, após os processos diagênicos e ficam no interior das rochas sedimentares, como resultado da diagênese exibem freqüente contaminação com sais ou outros elementos químicos e podem tirar a potabilidade das águas subterrâneas;
Águas juvenis: representam os fluidos que sobram das cristalizações dos magmas, seja em condições plutônicas ou em condições vulcânicas, e por isso são ricas em metais e outros componentes magmáticos, principalmente aqueles que não conseguem entrar nos minerais em formação, tanto por tamanho grande ou pequeno do raio iônico, que impede as substituições diadóxicas, como por eletronegatividade ou outra característica química.
As águas subterrâneas que sofrem contaminação com águas conatas, freqüentemente são salobas e apresentam dureza (quantidade de sais e carbonatos) elevada, apresentando problemas para utilização em caldeiras (TUCCI, 1993).
As águas subterrâneas contaminadas por águas juvenis originam as denominadas águas minerais, de diversas naturezas, como fluoretadas, bicarbonatadas, etc.
Para muitas pessoas, com o decorrer do tempo reduz-se a capacidade de filtração do sangue pelos rins e podem ser desenvolvidos cálculos ou pedras renais. No organismo de alguns, a composição química da água mineralizada pode ser um dos motivos. Para outros, são segregações cálcicas, geradas pelo consumo de leite e derivados.
Por isso, atualmente, é muito incentivado o consumo de águas minerais ditas “leves” ou com baixo teor de constituintes mineralizantes, que podem ser maléficos em quantidade inapropriada para consumo humano ou para certos tipos de organismos ou condições devidas à idade cronológica.
Todos os rios tem uma faixa de domínio dentro da qual está estabelecido o curso de água principal e que atuam como áreas de extravasamento quando ocorrem cheias, mantendo o equilíbrio das bacias hidrográficas. Se todas as várzeas como são chamadas, fosse áreas de preservação permanente não haveria o cultivo de arroz irrigado em nosso país (NAIME e GARCIA, 2004).
Dr. Roberto Naime, Colunista do EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.
EcoDebate, 17/04/2012
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