O perigo do colapso ambiental, artigo de José Eustáquio Diniz Alves
[EcoDebate] Os ambientalistas estão alertando há anos sobre os perigos do colapso ambiental provocado pelo crescimento populacional e econômico. O atual padrão de produção e consumo da humanidade já é insustentável. A continuidade do crescimento só torna as coisas piores.
Mas o alerta mais recente não foi dado por ativistas radicais, mas pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico – OCDE. O relatório “Previsões ambientais para 2050: as consequências da inação”, divulgado em meados de março de 2012, mostra que o mundo caminha para um colapso ambiental, caso não haja mudança de rota. Os custos da inação podem ser incalculáveis para as economias, o ser humano e a biodiversidade. Os dados são alarmantes sobre as tendências das mudanças climáticas, da degradação ambiental, da demanda por água e sobre os impactos da poluição na saúde humana.
Segundo o estudo a demanda mundial por energia deve crescer 80%, até 2050, sendo que 85% dessa energia deve continuar sendo ofertada por combustíveis fósseis. Desta forma, as emissões de CO2 vão aumentar 50%, incrementando o efeito estufa e podendo elevar o aquecimento global a uma temperatura entre 3°C e 6°C, números bem acima dos 2º C estimados como toleráveis pelo Painel de Mudanças Climáticas da ONU.
A poluição do ar agravará os problemas de saúde pública, se somando à falta de acesso ao saneamento básico. O número de mortes prematuras relacionadas a males causados pela poluição do ar deverá mais do que dobrar, especialmente em países como China e Índia (que são os que apresentam maior crescimento econômico). Atualmente, as doenças respiratórias associadas à poluição matam milhões de indivíduos por ano.
O crescimento da demanda por água potável irá se agravar e aumentar o stress já existente. A OCDE estima que a demanda deverá crescer 55%, especialmente para uso na indústria (+ 400%), usinas termelétricas (+140%) e uso domiciliar (+130%). O aumento na demanda deve elevar a escassez hídrica e aumentar os riscos de conflitos e guerra pela água.
As florestas, que são fundamentais para os ciclos hídricos, devem perder espaço até 2050, devendo haver um encolhimento de 13% da cobertura vegetal, com enorme perda da biodiversidade e a extinção de espécies vegetais e animais.
A OCDE considera que a solução para minimizar o colapso ambiental passa pela implementação da economia verde, para tornar mais sustentáveis a agricultura, a indústria e a matriz energética mundial. Porém, uma economia verde nos padrões predatórios do consumismo global não vai resolver o problema.
Para evitar o colapso será preciso soluções bem mais radicais. Todavia, pelo andar da carruagem, o caminho que a Rio + 20 está trilhando segue a mesma via que leva ao precipicio e nada indica que haverá uma mudança de rota para evitar o colapso ambiental.
Referência:
OECD. Environmental Outlook to 2050: The Consequences of Inaction
José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br
EcoDebate, 13/04/2012
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Se as previsões ambientais para o ano 2050, isto é, para daqui a 38 anos, são as apresentadas no artigo, quais serão essas previsões para o ano 2100, caso possam ser feitas? Será que aí já terá ocorrido o colapso?
Os diversos especialistas em Ecologia não são ativistas radicais! Eles estudam, pesquisam e vivenciam situações que não podem percebidas por trás de mesas de escritórios em ambientes refinados. Não costumam ganhar salários astronômicos e vivem de modo simples, humildemente. A questão é que os “ecologistas” se preocupam com a viabilidade da “vida” e não das empresas. A natureza sempre foi altamente econômica mas respeita as demais espécies como parceiras insubstituíveis. Tem predadores também, mas até para isso existem regras rigorosas. Onde estão as regras da economia predatória? Elas só servem para os ambientes comerciais e competitivos. A natureza é cooperativa.
A “economia verde” não pode ser encarada como o remédio para todos os males. Para que essa utopia se torne realidade é preciso equiparar as responsabilidades dos países do norte e do sul. No modelo vigente onde impede o desenvolvimento de países pobres em detrimento do direito de poluir dos países ricos se torna impossível a instalação de uma “economia verde”, que na realidade trata-se de mais um slogam para a temática ambiental. Enfim, apenas o “enverdeamento” da economia não é capaz de mudar as previsões para 2050.