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Professora da Sociologia acredita que falta de solidariedade está por trás de comportamentos intolerantes

 

“Ausência de limites leva a um tudo-pode”, diz Maria Stela Grossi

Trotes e blogs de conteúdo sexista e racista, como aquele alimentado pelo ex-aluno da UnB Marcelo Valle Silveira Mello, têm uma coisa em comum: são guiados por comportamentos intolerantes. Para a professora Maria Stela Grossi, só o estabelecimento de regras pode frear esse tipo de comportamento. “A ausência de limites leva a um tudo-pode”, diz.

A professora, vice-coordenadora do Núcleo de Estudos sobre Violência e Segurança (Nevis), acredita que as relações de hierarquia presentes na sociedade podem ser um determinante para a intolerância. Na opinião dela, a falta de solidariedade está na raiz desse comportamento. “A sociedade competitiva tem a necessidade de descartar alguns e esse descarte pode ser via intolerância”, declara.

Maria Stela pesquisa teoria sociológica, violência, conflito e segurança. Em entrevista à UnB Agência explicou como uma crise de valores na sociedade gera comportamentos intolerantes que podem acabar até mesmo em violência física.

UnB Agência: Quais são as possíveis motivações de comportamentos intolerantes?
Maria Stela Grossi:
A variedade é enorme. Mas podemos destacar a hierarquização da sociedade. Essas hierarquias acabam criando perspectivas de superioridade e inferioridade. Esse é um dos mecanismos que pode desvelar processos de intolerância.

UnB Agência: Como essas hierarquias podem chegar à intolerância?
Maria Stela Grossi:
A hierarquização não se dá só no plano econômico, se dá na dimensão social e valorativa. Isso gera uma ideia de que alguns são superiores aos outros. Associado a isso, a sociedade tende a resolver seus conflitos de forma violenta. A violência não é a forma mais natural de resolver conflitos, mas vem sendo usado com uma frequência muito grande. Qualquer tipo de atrito acaba dando origem a esse movimento de intolerância.

UnB Agência: Essa é uma questão da sociedade ou se resume a comportamentos individuais?
Maria Stela Grossi:
Na Sociologia, buscamos entender as dimensões que podem acarretar determinados tipos de comportamento. Precisamos levar em consideração que em alguns desses contextos há situações em que podemos falar de algo próximo ou no limite das paranóias ou esquizofrenias num nível individual. Mas também devemos pensar a sociedade.

UnB Agência: Pensar a sociedade como?
Maria Stela Grossi:
Temos de pensar que tipo de sociedade é essa que, numa certa medida, “fabrica” esse tipo de relacionamento e esses valores que acabam formando pessoas assim. É a negação da condição de sujeito. O outro passa a ser um objeto e, enquanto objeto, eu faço dele o que eu bem entender. Aquele que se sente superior deixa de reconhecer no outro um igual. Quando eu vejo no outro algo, e não alguém, desconsidero a questão de humanidade e o desdobramento disso é uma atitude em que tudo pode ser possível porque o outro é objeto.

UnB Agência: Mas nem todo sentimento de superioridade gera intolerância. Que outro sentimento pode estar associado a essa superioridade?
Maria Stela Grossi:
A indiferença. Mas quando o comportamento ganha visibilidade significa que esse comportamento intolerante foi manifestado de alguma forma. Pode ser um insulto, agressão física, humilhação, chacota ou a combinação dessas formas de violência física e simbólica, que não se resumem a esse episódio desses indivíduos que foram pegos nas redes sociais. Até mesmo os trotes que a gente vê no campus têm essas brincadeiras que desconsideram o outro.

UnB Agência: O trote representa um comportamento intolerante?
Maria Stela Grossi:
A situação de calouro ganha essa característica de inferioridade e isso acaba se desdobrando na humilhação e pode chegar até as últimas consequências. É impensável que comportamentos intolerantes se façam presentes no ambiente acadêmico. São alunos que frequentam uma universidade pública e, portanto, deveriam ter a responsabilidade social pelo espaço que estão ocupando.

UnB Agência: Quais as raízes em comum de atitudes como a do blogueiro e dos estudantes praticantes de trote?
Maria Stela Grossi:
Falta de solidariedade. A solidariedade está sendo cada vez mais rara. A forma como a sociabilidade é desenvolvida desde a infância faz com que valores que poderiam evitar a violência sejam esquecidos. No lugar, as crianças crescem com valores que podem estimular a violência. É um jogo de vale-tudo que às vezes se inicia em uma simples brincadeira. A sociedade competitiva tem a necessidade de descartar alguns e esse descarte pode ser via intolerância.

UnB Agência: Como evitar comportamentos intolerantes?
Maria Stela Grossi:
Instituindo regras claras. A ausência de limites leva a um tudo-pode.

Por Thais Antonio, da Secretaria de Comunicação da UnB.

EcoDebate, 05/04/2012

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