Prefeitos reconhecem falta de preparo para executar licenciamento e fiscalização ambiental
Apesar de defenderem a descentralização de decisões sobre desmatamento e recuperação de matas ciliares, prefeitos que participam do Encontro de Municípios com o Desenvolvimento Sustentável, em Brasília, reconhecem a falta de qualificação técnica na maior parte das cidades que podem vir a assumir essa responsabilidade. A transferência de algumas competências ambientais é um dos pontos polêmicos do texto do novo Código Florestal, que tramita na Câmara dos Deputados.
“É muito fácil os municípios receberem todas as atribuições, mas difícil colocar em prática. Se os municípios estiverem preparados, isso pode nos ajudar. Mas [os municípios] têm que estar bem qualificados e dentro das regras”, avaliou ontem (28) Mara Barcellos, prefeita de Muitos Capões, no nordeste do Rio Grande do Sul.
Para Zenildo Sampaio, prefeito de Nossa Senhora do Livramento, em Mato Grosso, a qualificação das administrações municipais depende apenas da decisão do Legislativo. “Se os municípios forem responsabilizados, eles vão se capacitar. Há 20 anos, os municípios não estavam preparados para tocar os sistemas de saúde pública, mas estão arcando [com a responsabilidade]. Hoje, são os municípios que mais investem em saúde”, disse.
Segundo Sampaio, o licenciamento ambiental tem sido uma das questões mais problemáticas na cidade matogrossense, que tem mais de 60% da população na zona rural. O prefeito explicou que, para conseguir a licença para a construção de um terminal rodoviário na cidade, teve que esperar 18 meses. “Faltam fiscais, técnicos. Os órgãos ambientais têm outras prioridades”, avaliou.
A reclamação é a mesma do prefeito Sinval da Silva, de Tibagi, Paraná, que defende regras claras para a descentralização das decisões. “O Ibama [Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis] é um órgão emperrado que não dá conta das demandas. As pequenas licenças, que não são atrativas, acabam ficando emperradas. Tem que criar critérios claros e a sociedade tem que criar mecanismos de fiscalização. É mais difícil esconder as coisas erradas em municípios, do que na esfera federal”, disse Sinval.
Para o prefeito de Maringá, no Paraná, Sílvio Barros, a municipalização do licenciamento ambiental e da fiscalização é “um processo irreversível”. Barros reconhece o despreparo da maior parte das administrações municipais, mas garante que Maringá está pronta se tiver que assumir a nova responsabilidade, desde que participe das definições de critérios sobre a nova atribuição. “A gente gostaria de participar da discussão de como isso vai ser feito dentro do nosso município e não receber uma formatação já pré-definida e nos caber apenas a responsabilidade de executar”, disse o prefeito paranaense.
Reportagem de Carolina Gonçalves, da Agência Brasil, publicada pelo EcoDebate, 29/03/2012
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Sou frontalmente contra a delegação de poderes aos municípios para efetuarem a fiscalização e o licenciamento ambiental. É entregar a guarda do galinheiro para a raposa.
Não que todos os prefeitos sejam enquadrados desta forma (existem exceções). O grande problema seria resistir as pressões políticas que viriam dos correligionários (senado,câmara,assembléia,governadores e de dentro do próprio município). Sabemos perfeitamente que esta posição
existe e que é impossível ao prefeito, não atender.Tem razão
O Prefeito de N.S.do Livramento quanto a demora do IBAMA, mas bastaria que o orgão criasse um departamento encarregado exclusivamente de licenciamentos urbanos. Os prefeitos podem fazer pressão para que o IBAMA crie este departamento. Se eu fosse Prefeito, de pronto, descartaria este presente de grego.Parece bom, mas verão que não é.
É com bons olhos que vejo essa descentralização, pois com certeza o IBAMA tem processos mais importantes para licenciar do que postos de gasolina e pequenas olarias. Mas para que isso funcione é preciso de profissionais capacitados e realmente comprometidos com a questão ambiental.