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A mudança climática afetou os extremos climáticos e as grandes cidades em países em desenvolvimento são vulneráveis

 

Grandes cidades em países em desenvolvimento são extremamente vulneráveis às mudanças climáticas, diz IPCC

A mudança climática afetou os extremos climáticos, com ondas de calor, recorde de altas temperaturas e, em muitas regiões, precipitação intensa na segunda metade do século passado, informa relatório do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima) sobre Gestão de Riscos de Eventos Extremos e Desastres para avançar na Adaptação às Mudanças Climáticas (SREX). A vulnerabilidade de grandes cidades em países em desenvolvimento, como o Brasil, e a seca no nordeste são destacados no relatório. Do UOL, em São Paulo

Para os cientistas do painel, a adaptação às mudanças e a gestão de riscos de desastres de eventos extremos deve ser prioridade em todos os países. “Vemos que os eventos climáticos extremos atingem todos os países, mas a um nível local. Por isso, são necessários detalhes locais para tomada de decisões, embora sem esquecer o contexto global, de diminuir as emissões de gases do efeito estufa e adaptar às mudanças”, lembra Rajendra Pachauri, presidente do IPCC.
Pachauri destaca ainda que há uma grande disparidade nos impactos de eventos extremos similares nas diferentes partes do globo. O relatório aponta que os países em desenvolvimento são os que mais sofrem com as mudanças e por isso são também aqueles que mais devem investir na adaptação, baseado no conhecimento já existente.

O número de mortes por ciclone nas últimas décadas, exemplifica o relatório, foi maior em países pobres, sendo que a maioria da população exposta a este evento viva em países ricos. 11% das pessoas expostas a eventos extremos vivem em países pouco desenvolvidos, mas eles registram mais de 53% das mortes em desastres.

“Há muitas opções atualmente disponíveis que poderiam aumentar a preparação para a efetiva resposta a eventos climáticos extremos e melhorar a recuperação das áreas”, explica Vicente Barros, co-presidente do Grupo de Trabalho II. “Este relatório identifica lições aprendidas com vasta experiência em gestão de riscos de desastres e do foco crescente na adaptação às alterações climáticas”.

Seca e urbanização
A rápida urbanização e o crescimento das megacidades, especialmente em países em desenvolvimento, têm levado ao surgimento de comunidades urbanas extremamente vulneráveis, particularmente nos assentamentos informais e com a gestão inadequada do solo, afirma o relatório. Para lidar com essas vulnerabilidades críticas, será necessário considerar as forças sociais, políticas e econômicas, incluindo a migração rural-urbana, mudança nos meios de subsistência e as desigualdades econômicas como principais insumos para a tomada de decisões.

O relatório prevê um aumento em duração e intensidade das secas em algumas regiões do mundo, incluindo o nordeste brasileiro. Outras regiões que já sofrem com as secas e devem continuar a enfrentar o problema são: o sul da Europa e da região do Mediterrâneo, Europa central, centro da América do Norte, América Central e México e África Austral.

Ao mesmo tempo, há uma média confiança (numa escala com alta, média e baixa confiança) no aumento no comprimento ou no número de períodos quentes ou ondas de calor em muitas regiões do globo. Além disso, os cientistas acreditam no provável aumento na frequência de precipitações intensas ou aumento na proporção de quedas pesadas em muitas áreas do globo, em especial nas regiões de altas latitudes e tropicais, e no inverno nas latitudes médias do norte.

Conhecimento para adaptar
Os extremos climáticos são combinados com vulnerabilidades sociais e exposição a riscos para determinar os desastres relacionados ao clima. Assim, o Painel destaca que são necessárias políticas para evitar, se preparar para responder e se recuperar dos desastres para reduzir o impacto destes eventos e aumentar a resiliência das pessoas.

A exposição cada vez maior de pessoas e bens econômicos tem sido a principal causa, a longo prazo, do aumento das perdas econômicas relacionadas aos desastres do clima, indica o relatório. E os países com média e baixa renda são os mais vulneráveis.

De acordo com o relatório, as perdas econômicas ligadas a desastres associados ao clima são mais elevadas em países desenvolvidos. Mas as taxas de mortalidade e perdas econômicas expressas como uma proporção do PIB são maiores nos países em desenvolvimento. Durante o período de 1970 a 2008, mais de 95% das mortes por desastres naturais ocorreram em países em desenvolvimento. Em alguns países, em particular os insulares, as perdas têm elevadas, superando 1% do PIB em muitos casos e chegando a 8% nos casos mais extremos. Em alguns casos, como da ilha Niue na Polinésia afetada pelo ciclone Heta em 2004 e de Granada afetada pelo furação Ivan no mesmo ano, os custos superaram 200% do PIB.

“A principal mensagem do relatório é que nós sabemos o suficiente para tomar boas decisões sobre gestão de riscos de desastres relacionados com as mudanças climáticas. Às vezes, nós nos aproveitamos deste conhecimento, mas muitas vezes nós não fazemos isso”, diz Chris Field, co-presidente do Grupo de Trabalho do IPCC.

Segundo Field, o desafio é de um lado aumentar o conhecimento de base e de outro favorecer a tomada de boas decisões, mesmo em situações incertas. “As medidas mais eficazes são aquelas que suportam o desenvolvimento sustentável, fornecem uma
carteira diversificada de opções, e representam estratégias de “baixo arrependimento” no sentido de trazer benefícios para vários futuros”, analisa Field.

“O SREX oferece um nível de detalhe sem precedentes sobre as mudanças nos extremos climáticos já observados e também projetados, com base numa avaliação global de mais de 1.000 publicações científicas”, conta Qin Dahe, co-presidente do Grupo de Trabalho I do IPCC, que participou da elaboração do relatório.

No total, 220 autores de 62 países trabalharam no SREX, que conta com 592 páginas e deve ser divulgado pelo IPCC. Em abril e maio, ele será apresentado para políticos da América Latina, Ásia e África.

EcoDebate, 29/03/2012

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