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O crescimento da demanda de energia no mundo, artigo de José Eustáquio Diniz Alves

 

O crescimento da demanda de energia no mundo, artigo de José Eustáquio Diniz Alves

[EcoDebate] Como diria Charles Dickens, “vivemos no melhor e no pior dos tempos, na idade da razão e da estupidez, na primavera da esperança e no inverno do desespero”. Crise e crescimento econômico se alternam.

Como serão os próximos 20 anos?

A economia mundial cresceu 5,2% em 2010, 3,8% em 2011 e deve crescer 3,3% e 3,9% nos anos de 2012 e 2013, de acordo com dados do Fundo Monetário Internacional (FMI). Isto dá uma média de 4% ao ano entre 2010 e 2013. As projeções das principais consultorias internacionais apontam que o ritmo de crescimento vai desacelerar um pouco. Porém, se o Produto Interno Bruto (PIB) mundial crescer em média 3,5% entre 2010 e 2030, isto significa que a economia global dobrará de tamanho no espaço de vinte anos.

Crescendo a economia também cresce a demanda por energia. Mas como existe eficiência no uso, a demanda de energia não cresce no mesmo ritmo do crescimento do PIB. Segundo estudo da companhia BP (British Petroleum) o consumo de energia deve crescer a 1,6% ao ano ou a 0,7% ao ano per capita, totalizando um crescimento de 39% entre 2010 e 2030 (menos da metade do crescimento do PIB no período). O crescimento do consumo de energia foi de 2,5% ao ano entre 2000 e 2010, deve cair para 2,0% ao ano entre 2010 e 2020 e 1,3% entre 2020 e 2030. Isto acontece devido ao aumento da eficiência, isto é, menor consumo de energia por unidade do PIB.

Entre os 34 países que compõem a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OECD em inglês) o consumo de energia deve crescer apenas 4% entre 2010 e 2030. Já os países que não pertencem à OECD o crescimento será de 69%, entre 2010 e 2030, ou 2,7% ao ano. Desta forma, os países da não-OECD, que já eram responsáveis por 54% do consumo mundial de energia em 2010 devem passar a consumir 65% em 2030. Desta forma, o mundo em desenvolvimento vai passar a consumir quase dois terços (2/3) da energia mundial em 2030, o que é uma grande novidade em relação ao que acontecia no século XX, quando os países desenvolvidos monopolizavam o uso da energia não-animal.

Ainda segundo a BP, a energia não-fóssil (nuclear, hidréletrica, biocombustíveis, solar, eólica, etc) deve apresentar o maior crescimento nos próximos 20 anos. Porém, as fontes fósseis (petróleo, gás e carvão) vão continuar representando mais de 75% da oferta de energia em 2030, sendo que o crescimento maior do consumo vai ocorrer nos países em desenvolvimento. Ou seja, se estas previsões estiverem corretas, mesmo com maior eficiência energética, o mundo vai continuar dependendo das energias fósseis nas próximas décadas.

Isto quer dizer que a emissão de CO2 vai continuar aumentando nos anos vindouros com o consequente aumento do aquecimento global e com todos os efeitos negativos sobre o meio ambiente. Também devem aumentar os acidentes com vazamento de óleo, principalmente no mar, como aconteceu no Golfo do México (com a própria BP) e como já está acontecendo no Brasil. As dificuldades de exploração de petróleo em águas profundas (além dos problemas de gestão administrativa) são um dos motivos que estão por trás da recente queda de valor das ações da Petrobrás. Em todo mundo, crescem as preocupações com os impactos ecológicos da indústria da energia fóssil.

Contudo, embora a BP esteja otimista quanto ao futuro, todo este aumento da produção e do consumo de petróleo, gás e carvão pode esbarrar no “Hubbert’s peak”, o que significa que o preço dos combustíveis vai aumentar devido ao esgotamento das reservas. Maior preço da energia significa maiores preços dos alimentos. Portanto, o mundo vai enfrentar um grande desafio para alimentar a população mundial e se adaptar às mudanças climáticas.

Evidentemente, a industria do petróleo tende a desconsiderar os problemas ecológicos e a considerar que o sucesso da produção de energia depende somente das novas tecnologias e dos novos investimentos. Mas os críticos alertam que o fim do mundo do petróleo está cada vez mais próximo e uma grande mudança de paradigma deve acontecer nas próximas décadas.

Onde está a razão? Onde está a estupidez? Nos próximos anos talvez saberemos qual o clima que nos aguarda: se a primavera da esperança ou o in(v/f)erno do desespero!

Referências:

Charles Dickens (1812-1870), A Tale of Two Cities: “It was the best of times, it was the worst of times, it was the age of wisdom, it was the age of foolishness, it was the epoch of belief, it was the epoch of incredulity, it was the season of Light, it was the season of Darkness, it was the spring of hope, it was the winter of despair, we had everything before us, we had nothing before us, we were all going direct to heaven, we were all going direct the other way – in short, the period was so far like the present period, that some of its noisiest authorities insisted on its being received, for good or for evil, in the superlative degree of comparison only”.

BP Energy Outlook 2030. London, January 2012. Disponível em:

http://www.bp.com/liveassets/bp_internet/globalbp/STAGING/global_assets/downloads/O/2012_2030_energy_outlook_booklet.pdf

José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br

EcoDebate, 12/03/2012

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