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Adoquim: Uma alternativa ecológica para a fabricação de cerâmica

 

Vinicius Zepeda

 

 Divulgação/Uenf

     
      Verônica Cândido mostra o corpo de prova (E), feito no
Lamav, e o adoquim (D); feito na Arte Cerâmica Sardinha

Uma parceria entre pesquisadores do Laboratório de Matérias Avançados (Lamav), da Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf), e das empresas cerâmicas Stilbe e Arte Cerâmica Sardinha, ambas do município de Campos, e fabricantes de cerâmica vermelha, vem desenvolvendo um novo tipo de pavimento intertravado para vias públicas que promete ser uma alternativa ao de concreto. Este produto, já utilizado no exterior, mas ainda raro no Brasil, é o chamado adoquim (ou piso intertravado de cerâmica), processado com o uso de diferentes tipos de argila. O uso do rejeito de cerâmica queimada e quebrada conhecido como “chamote” e argilito em mistura com argilas locais é o diferencial da dissertação de mestrado em Engenharia e Ciência dos Materiais na Uenf, defendida em janeiro deste ano pela bióloga Verônica Scarpini Cândido, bolsista da FAPERJ, sob a orientação do doutor em Engenharia de Materiais e professor do Lamav/Uenf Carlos Maurício Fontes Vieira.

Chamote é o material cerâmico descartado após a etapa de queima e submetido a um trituramento. Algumas indústrias cerâmicas de menor porte em Campos chegam a apresentar 10% de perda da produção somente na etapa da queima. “Estes rejeitos normalmente são depositados no próprio pátio das indústrias. Estimamos um potencial de produção de 900 toneladas por mês”, explica Verônica. “Esta valor é suficiente para que as indústrias da região, que fabricam produtos de elevado valor agregado possam incorporar teores de até 10% em peso na composição da massa”, destaca. Já o argilito é uma rocha de origem sedimentar com maior teor de óxidos, e sua queima é realizada a uma menor temperatura. “Ele acaba se tornando uma alternativa para a composição da massa cerâmica, uma vez que as argilas necessitam de uma quantidade maior de óxidos fundentes que melhoram as propriedades físicas e mecânicas das cerâmicas queimadas”, complementa.

Produto será comercializado industrialmente nos próximos meses

Carlos Maurício Fontes Vieira destaca a aplicação do estudo na inovação tecnológica das indústrias da região. “Nossa parceria com as cerâmicas da região, como a Stilbe e a Arte Cerâmica Sardinha, possibilita alcançar todos os estágios de um projeto de inovação tecnológica com produção final em escala industrial. O adoquim será utilizado em um dos pátios da Uenf e em cerca de dois meses a Arte Cerâmica Sardinha vai iniciar sua comercialização”, explica. Ele ainda destaca outra parceria do Lamav/Uenf com a Arte Cerâmica Sardinha, apoiada pela modalidade Auxílio a Projetos de Inovações Tecnológicas (ADT 1), da FAPERJ. “Até o meio do ano estaremos comercializando uma telha desenvolvida pelo processo de extrusão, tecnologia colombiana que garante uma alta produção com menor custo e mesma qualidade que o método comumente utilizado”, destaca.

Vieira ainda coordenou dois outros projetos, já em fase final de apresentação de resultados. O primeiro, com recursos do edital de Desenvolvimento Científico e Tecnológico Regional no Estado do Rio de Janeiro, consiste em desenvolver produtos de cerâmica vermelha utilizando resíduos siderúrgicos. Com o apoio do Programa de Apoio a Núcleos Emergentes de Pesquisa (Pronem), o grupo está utilizando resíduos de serragem de rochas ornamentais de Santo Antônio de Pádua para preparar massa de adoquim. “Este último projeto conta com parcerias com pesquisadores de diversas instituições: Lamav/Uenf, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Centro de Tecnologia Mineral (Cetem), unidade Campos do Instituto Federal Fluminense (IFF-Campos), e do Laboratório de Engenharia Civil da Uenf”, complementa.

Piso de adoquim dispensa necessidade de pintura

Verônica explica que outra vantagem do pavimento intertravado (adoquim) em relação ao confeccionado com concreto é dispensar a necessidade do uso de corantes. “Ele possui um aspecto rústico muito valorizado atualmente no mercado e uma coloração natural que pode variar de vermelha à cinza, de acordo com o tipo de argila utilizada na composição da massa. “Testes em escala laboratorial também provaram a resistência do material superior a 50 MPa (megapascais) – medida de resistência suficiente para estradas e pavimentos de tráfego pesado”, acrescenta.

A produção de cerâmica vermelha no município de Campos varia de acordo com a época do ano e é regulada pelas leis do mercado. Calcula-se que atualmente ela gire em torno de 70 milhões de peças por mês, como blocos de vedação, blocos para lajes, telhas, pisos extrudados, plaquetas de revestimento, bloco estrutural e tijolos aparentes. A fabricação do adoquim vai possibilitar a diversificação da produção cerâmica local, com a fabricação de um produto de elevado valor agregado. Além disso, o uso do chamote na composição da massa cerâmica vai possibilitar a valorização de um resíduo que é geralmente descartado.

Igualmente com apoio da Fundação e sob a orientação de Vieira, a engenheira ambiental Regina Maria Pinheiro cursou doutorado em Ciência dos Materiais na Uenf. Sua tese também buscou a produção do adoquim, mas além de produzir em escala industrial, Regina verificou algumas de suas propriedades, como sua resistência à abrasão e ao ataque químico.

Informe FAPERJ, publicado pelo EcoDebate, 28/02/2012

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