Grupos americanos financiaram campanha para rejeitar mudanças climáticas
Um novo escândalo sobre mudanças climáticas começou nos Estados Unidos depois que vieram à tona documentos que mostram que grupos de direita financiaram uma campanha para influenciar a maneira como se ensina a questão nas escolas.
Documentos sobre a estratégia e o orçamento interno da Heartland Institute, uma organização sem fins lucrativos com sede em Chicago (Illinois, centro-norte), foram revelados na semana passada, mostrando que 200 mil dólares seriam gastos em um “projeto sobre aquecimento global”. Reportagem de Kerry Sheridan, AFP.
O projeto pregaria que “o fato de que os seres humanos estão modificando o clima é uma controvérsia científica” e que é igualmente “controversa a confiança” dos modelos climatológicos, segundo os documentos.
Também são mencionados milhares de dólares em doações provenientes da indústria e investimentos em combustíveis fósseis, um doador anônimo que deu 1,25 milhão de dólares e uma gratificação de 300 mil dólares para o grupo de cientistas rejeitar as descobertas da ONU sobre a mudança climática.
O Heartland Institute disse que um dos documentos que vazou era falso, mas não comentou os outros e se negou a responder os pedidos de entrevista da AFP.
O escândalo ganhou novas dimensões nesta quarta-feira (22), quando um congressista pediu que seja realizada uma audiência para determinar se um dos cientistas mencionado nos documentos – um funcionário do Departamento do Interior dos Estados Unidos – recebeu remunerações indevidas da Heartland Institute para negar a mudança climática.
Segundo os documentos, Indur Goklany, diretor assistente na seção de políticas de projetos, ciência e tecnologia do Departamento do Interior, recebeu 1.000 dólares mensais para escrever artigos sobre economia e política para o Heartland Institute.
Supõe-se que os textos apareceriam em um livro do Painel Internacional Não-Governamental sobre a Mudança Climática (NIPCC, em sua sigla em inglês), um grupo internacional de cientistas que critica os relatórios das Nações Unidas sobre o tema.
Um congressista democrata do Arizona (sul), Raul Grijalva, solicitou uma audiência do plenário do Comitê de Recursos Naturais, mencionando que não está claro se Goklany recebeu os pagamentos – o que é ilegal para os funcionários federais – e se outros cientistas governamentais estão envolvidos.
“Nosso Comitê tem obrigação de responder a essas questões”, escreveu Grijalva, cuja proposta de audiência deve ser aprovada por seus colegas.
David Wojick, outro contratista governamental do Departamento de Energia (DOE), poderia ser investigado por suas supostas ligações com o grupo, depois de os documentos mostrarem que receberia 25 mil dólares trimestrais por redigir novos programas escolares.
Nos documentos, Wojick é mencionado como “consultor principal na inovação” da seção de Informação sobre Ciência e Tecnologia do DOE.
A filial americana da ONG Greenpeace mandou uma série de cartas para o governo, solicitando uma investigação urgente para determinar se os documentos revelam pagamentos ilegais a cientistas federais e em consequência um conflito de interesses.
Os documentos mostraram que o Heartland Institute, fundado em 1984, realiza “uma campanha multimilionária, há vários anos, para semear a confusão sobre a mudança climática e sobre a ciência” que estuda esse assunto, disse à AFP Kert Davies, diretor de pesquisas do Greenpeace americano.
Peter Gleick, um proeminente cientista da mudança climática, se infiltrou no Heartland Institute para obter os documentos e é acusado de ter feito isso de forma fraudulenta.
Reportagem da AFP, no UOL Notícias.
EcoDebate, 24/02/2012
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