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Controlar aquecimento global não é só uma questão de natalidade

 

As causas e efeitos das mudanças climáticas têm sido tema cada vez mais presente no discurso político, econômico e social. Sobre este assunto, o demógrafo Ricardo Ojima, que é professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), defende que considerar os aspectos demográficos como um todo (e não apenas o volume ou crescimento populacional) contribui para o que chama de um debate responsável.

A carência de discussões mais complexas para tratar da relação entre fatores populacionais e aquecimento global dissemina teorias que banalizam a dinâmica entre seres humanos, tecnologia, desenvolvimento econômico e as mudanças climáticas. Popularizam-se considerações simplificadas de que se reduzirmos o ritmo de crescimento demográfico, também diminuiremos os impactos das mudanças ambientais, afirma Ojima, em artigo publicado recentemente na Revista Brasileira de Estudos de População, com o título “As dimensões demográficas das mudanças climáticas: cenários de mudança do clima e as tendências do crescimento”.

Ojima explica que transformações nos padrões e hábitos de vida contemporâneos, a chamada transição urbana, independentemente do aumento ou não do número de pessoas no globo, aumentará o volume de emissões de gases de efeito estufa.

O convite para o esse debate pode ser encarado como uma crítica num momento fecundo para a área. Conclusões de que o controle de natalidade seria a forma mais barata de se reduzir emissões de carbono foram lançadas, por exemplo, no relatório “Fewer emitters, lower emissions, less cost” (“Menos emissores, emissões mais baixas, custo menor”, em tradução livre), da London School of Economics, encomendado pela organização não-governamental britânica Optimum Population Trust (OPT), em 2009.

Emergência de um debate ambiental mais complexo

O debate ambiental vem ganhando força nos últimos anos e obteve um destaque político, econômico e social a partir da publicação, em 2007, do 4º relatório do IPCC (Intergovernmental Panel on Climate Change), o AR-4. Tal destaque só poderia ser comparado à Conferência das Nações Unidas de 1992, a Rio 92, explica o pesquisador da UFRN.

Passados vinte anos desse evento no Rio de Janeiro, o que se tem em discussão é algo para além da poluição e degradação dos recursos naturais. Segundo explica Ojima, a questão ambiental, que até então era exclusividade do chamado “movimento verde”, foi incorporada pelas mais diversas áreas, cada qual buscando se apropriar do tema à sua maneira e de acordo com seus interesses.
Para Ojima, o estudo das questões ambientais, mais do que meramente relacionado à natureza, torna-se permeado pela consideração de aspectos sociais.

O clima, por exemplo, seria um sistema complexo que interage com a atmosfera, superfície, geleiras, oceanos, corpos d’água, seres vivos, hábitos e modos de vida humanos e, por isso, os estudos sobre este tema dependem da compreensão de um conjunto grande de variáveis que interagem entre si.

Para Ojima, um dos esforços mais importantes do IPCC é considerar o fator antropogênico na análise dos estímulos e das respostas às mudanças climáticas. Ele lembra que no relatório AR-4, o Produto Interno Bruto (PIB) per capita e o crescimento populacional foram os principais condutores do aumento das emissões globais durante as últimas décadas do século XX. “Mas, quem sugeriria uma redução no ritmo de crescimento econômico ou do PIB per capita? Somente os ambientalistas radicais teriam essa audácia. Assim, a ‘culpa’ do aquecimento global recai erroneamente sobre o ritmo de crescimento populacional”, provoca o demógrafo da UFRN.

Ojima afirma que é preciso abrir mão de julgamentos morais e simplificações reducionistas quando se estudam as causas e os efeitos da relação dimensão humana e mudanças no clima. “As evidências indicam que existem mais impactos provenientes da dinâmica demográfica do que apenas o seu crescimento absoluto, especialmente num contexto em que a cada nova revisão das projeções feitas pelas Nações Unidas, a tendência de diminuição populacional até o fim do século parece mais provável”, explica.

Matéria de Maria Teresa Manfredo, na ComCiência, Revista Eletrônica de Jornalismo Científico, LABJOR/SBPC.

EcoDebate, 01/02/2012

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