Na indústria ou em casa, reutilização da água ajuda a evitar o desperdício
Cisternas são a opção mais sustentável e de baixo custo para o meio urbano e rural
No setor industrial ou no uso doméstico, a reutilização da água e o aproveitamento da água da chuva são recursos cada vez mais populares com as novas tecnologias. Alem da economia, também se evita o desperdício de um bem que está cada vez mais caro e escasso. O arquiteto do Instituto Acqua (Ação, Cidadania, Qualidade Urbana e Ambiental), Fábio Vital, ressalta, porém, que o brasileiro não possui a cultura de reuso de água e, além disso, não há políticas de incentivo. Em casa, a água da chuva e o reuso da água da torneira também são possíveis, porém, pouco explorados, de acordo com Vital.
Cisterna (Foto: Reprodução de TV)
“Na esfera residencial você já tem a possibilidade de armazenamento da água da chuva, para lavar calçadas e ruas, além da irrigação do jardim”, cita. Segundo Vital, as cisternas seriam a opção mais sustentável e de baixo custo para esse reaproveitamento nos centros urbanos. “O ideal seria criar e estruturar a legislação de incentivo ao consumo racional de energia e de criação de cisternas”, diz o arquiteto. Além disso, existem empresas que instalam em casas e prédios sistemas que captam a água da chuva. Por meio de filtros, a água pode voltar mais limpa ao prédio e, então, ser usada na descarga dos banheiros, na limpeza de pisos etc.
Na região semiárido brasileira, o programa Um Milhão de Cisternas (P1MC) e o programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2) têm a construção de cisternas como objetivo principal. As ações fazem parte do Programa de Formação e Mobilização Social para a Convivência com o Semiárido, realizadas pela Articulação no Semiárido Brasileiro (ASA), do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. O público-alvo dos programas são as famílias de baixa renda da zona rural de municípios do semiárido brasileiro, que não contam com fonte de água ou meio suficientemente adequado de armazená-la. Engrossam a lista também as famílias que possuam renda per capita familiar de até meio salário mínimo ou, no caso dos idosos, renda total da família de até três salários mínimos, devendo ser priorizadas aquelas enquadradas nos critérios de elegibilidade do Programa Bolsa Família (PBF).
“Os programas têm a preocupação de cuidar da água de beber, da água para a produção e para os animais. O P1MC quer levar uma cisterna para cada família, para captar água de chuva através do telhado. A ideia é ensinar às famílias como elas podem aproveitar melhor a terra e se inserirem no programa de reforma agrária, pensando a questão da água. Nesse programa, temos trabalhado, além das cisternas, as barragens subterrâneas, a construção de tanques de pedra e outros”, explica José Camelo da Rocha, assessor técnico e coordenador do Programa de Recursos Hídricos da AS-PTA – Agricultura Familiar e Agroecologia.
Veja matéria sobre barragem subterrânea
Para construir uma cisterna, o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) investe dinheiro, além de materiais de construção. As famílias beneficiadas também recebem capacitação para gerir os recursos hídricos e para conviver com o semiárido.
Tecnologia não falta e cada vez mais, de acordo com Vital, ela está sendo empregada no campo, na produção animal ou na colheita. “Seja para maximizar a produção ou enxugar o uso dos recursos naturais”, diz o arquiteto. O setor agrário é o que mais consome água, cerca de 70% do total utilizado, e para Vital é preciso agregar essa tecnologia para conservar.
Muitas indústrias já adotaram o sistema de reuso da chamada água não nobre, que não é própria para consumo. Para cortar gastos com a conta, muitas implantaram seus próprios sistemas de tratamento. “A indústria, em grande medida, já reaproveita, conserva e reutiliza a água”, explica. O arquiteto destaca que indústrias de papel e de cosméticos são os grandes consumidores e, logo, o reuso é fundamental para tornar viável e econômica a produção.
De acordo com o arquiteto, é importante pensar em reaproveitamento, mas também em como economizar recursos. Segundo Vital, nossa relação cultural com a água é ruim. “Achamos que é um recurso infinito”, diz. Por isso, segundo ele, é importante repensar essa relação e procurar soluções dentro de casa, como descargas que regulem o fluxo de água, torneiras de pressão e, principalmente, não considerar a água da torneira como algo sem valor. “Devemos valorizar a água, mesmo a que não usamos para beber”, afirma. Dessa forma, é possível conservar e manter um uso sustentável.
Montagem de uma cisterna:
Preservando água (Foto: Reprodução de TV)
O processo de construção da cisterna passa por oito etapas: escavação do buraco; fabricação das placas a partir da lavagem da areia e da mistura com o cimento, sendo que são quatro latas de areia para cada uma de cimento; fabricação dos caibros, feita com massa de concreto com vergalhão retorcido com um gancho na ponta, com duas latas de areia, duas de brita e uma de cimento (areia grossa), além de quatro tábuas de 1,30m comprimento, 6 cm de largura e 2 a 3 cm de espessura, 17 varas de vergalhão de ¼ de polegadas; levantamento das paredes com esse material; encaixe da cobertura; colocação do sistema de captação, ou seja, na entrada da cisterna, deve ser colocado um coador para evitar o ingresso de sujeira em seu interior; retoque e acabamentos, que consistem na construção de uma cinta de argamassa para juntar os caibros à parede da cisterna; e instalação da bomba manual.
Cisterna pronta, é hora de tratar a água com hipoclorito de sódio, um composto químico usado como desinfetante e agente alvejante. São duas gotas para cada litro de água.
Matéria no Globo Ecologia.
EcoDebate, 10/01/2012
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