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Artigo

Escorregamento de encosta em Ouro Preto: Passado e Presente Lado a Lado, artigo de Leonardo Andrade de Souza

 

[EcoDebate] Ainda estamos sob o efeito do grande escorregamento ocorrido nas imediações da rodoviária de ouro preto. Vamos precisar de algum tempo para executarmos as análises (que chamamos de no meio técnico de retroanálise) e elaborarmos os modelos de estabilidade do talude rompido, para entendermos melhor os mecanismos de ruptura e os parâmetros de controle.

As análises preliminares nos indicam, como de costume em todo o quadrilátero ferrífero de Minas Gerais (o que significa dezenas de Municípios), que o escorregamento ocorrido tem relação com o contato entre dois tipos de rochas com comportamentos completamente distintos, onde os itabiritos na porção superior da encosta muito porosos e permeáveis permitindo a entrada de um grande volume de água se encontram, não por acaso, com os filitos pouco permeáveis na porção inferior gerando uma superfície onde o fluxo de água intensifica-se diminuindo o atrito entre as camadas e, consequentemente, o fator de segurança, o que culminou na ruptura. Mas será que estamos neste momento tão difícil agindo corretamente ao afirmar que toda a Serra de Ouro Preto é instável, cidade tricentenária, chegando ao ponto de indicar a remoção de todos os moradores? Cabe aqui um parêntese ao ressaltar que os problemas enfrentados hoje por Ouro Preto, Mariana, Muriaé, Belo Horizonte e sua região metropolitana ocorrem todos os anos em dezenas de municípios do país, sendo Minas Gerais este ano apenas a bola da vez. Será que a declividade por si só já estabelece o que é bom ou ruim para se ocupar?

A geologia e seus condicionantes estruturais, as características geotécnicas dos materiais, as intervenções antrópicas adequadas, e não apenas as inadequadas, não mais contam na definição das áreas de risco de um município?. Mais uma vez misturamos suscetibilidade a processos geodinâmicos com risco geológico, suscetibilidade a processos geodinâmicos com cartografia geotécnica para aptidão urbana, escalas de análise, com escalas de ações e respostas aos problemas.

Estamos minimizando, para não falar quase eliminando, o uso da técnica adequada em prol da construção de espaços urbanos adequados e seguros. Que temos 30, 40, 50 anos de ocupação desordenada, isso já sabemos, o que precisamos de fato é continuar tentando estreitar a colaboração entre o Urbanismo, Geologia, Geotecnia, os conhecimentos do campo social etc, na construção de espaços e cidades seguras, contrapondo a fala fácil de que a solução é remover tudo. E mais do que isso, continuarmos lutando para a construção de políticas públicas que considerem a técnica no ordenamento dos espaços já consolidados e em consolidação.

Para finalizar, e voltando ao exemplo da cidade de Ouro Preto, cidade histórica tão conhecida mundo afora, reescrevo aqui o título deste artigo: o passado e o presente se colocam novamente lado a lado. Podemos observar nitidamente as cicatrizes de escorregamento esculpindo a encosta. De um lado, os resquícios dos escorregamentos ocorridos no ano de 1978, com reativação em 1989 e posterior abertura da rua de acesso ao Bairro chamado popularmente de Piolho a montante da área. Do outro, a cicatriz do escorregamento deflagrado em 03/01/2012.

Será que podemos imputar apenas as chuvas e a Serra de Ouro Preto a culpa pelo ocorrido? Ou será que a via de acesso principal da cidade, sopé do trecho rompido e a alteração da geometria deste trecho de talude, ou seja, ação antrópica e técnica também terão que entrar na fila de interrogatórios?

Leonardo Andrade de Souza
Eng. Geólogo
ABGE – Núcleo Minas Gerais

Colaboração do Geól. Álvaro Rodrigues dos Santos, articulista do EcoDebate

EcoDebate, 06/01/2012

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