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A Suzano e a ‘cegueira’ do Baixo Parnaiba maranhense, artigo de Mayron Régis

 

Foto: Monocultura do eucalipto em Belágua/MA(Fórum Carajás)
Foto: Monocultura do eucalipto em Belágua/MA(Fórum Carajás)

[Territórios Livres do Baixo Parnaíba] A escolha do local para a edificação de um empreendimento industrial deveria ser objeto de uma ampla e profunda análise socioeconômica que, realmente, enumerasse os prós, os contras e as contradições da sua instalação em uma determinada região. No entanto, em qualquer análise prevalece a parte econômica sobre a parte social e esse prevalecimento se conforma na absoluta valorização de números e de conceitos completamente desafeitos a e desafetos da realidade local.

Os números e os conceitos fazem que as pessoas enxerguem a realidade pelas lentes da “imparcialidade”. A Justiça é cega e como tal não enxerga para onde pende a sua balança o que comprovaria que a “imparcialidade” pertence ao mundo das ideias e do conhecimento. A “cegueira” da Justiça obriga que ela apreenda a realidade a partir dos seus outros sentidos, principalmente, a audição. “Ouvir as partes”. Assim a Justiça se posiciona para realçar o contraditório e sanar a dúvida.

Contraditoriamente, a “imparcialidade”, pertencendo ao mundo das idéias e do conhecimento, disponibiliza, no máximo, um atestado de boa conduta para aquele que se insinua ou para aqueles que se insinuam por esse mundo das ideias e do conhecimento.

Poderia se dizer que a “imparcialidade” não é nada mais nada menos do que a venda que cega a Justiça para o mal que a acomete. A Justiça nasceu cega. “O mal da cegueira” acompanha a humanidade por séculos. As peças de William Shakespeare versam, em parte, sobre esse mal e como o homem ao ficar “cego” pela paixão, pelo ódio, pelo poder e pelo conhecimento, enlouquece simplesmente para saborear a insanidade.

A Suzano Papel e Celulose preteriu o município de Urbano Santos em favor do município de Chapadinha em sua decisão de qual seria o melhor local para a instalação de sua fábrica de pellets. Os moradores de Urbano Santos, Chapadinha, Santa Quitéria ou qualquer outro município do Baixo Parnaiba maranhense “enxergaram” o seu futuro em uma fábrica de pellets como as bruxas “enxergaram” o futuro de Macbeth? “A visão” ou “a cegueira” proporcionada pela fábrica da Suzano foi assinada em baixo pelos políticos e por segmentos da sociedade civil que como sempre veem mais os números e os conceitos trazidos por alguém de fora do que os números e conceitos destilados por alguém de dentro.

Do ponto de vista econômico, a Suzano selecionou Chapadinha por esta se situar num ponto de convergência com relação aos demais municípios do Baixo Parnaiba. Sem contar com a pressão política exercida pela família Bacelar e pelo grupo Sarney. O povo de Urbano Santos acusa a Suzano de traição por conta dos quase trinta anos de devastação das Chapadas do município. Faz um tempo que esse agravante deixou de ser privilégio para um município só.

Artigo originalmente publicado no blogue Territórios Livres do Baixo Parnaíba.

Mayron Régis, articulista do EcoDebate, é Jornalista e Assessor do Fórum Carajás e atua no Programa Territórios Livres do Baixo Parnaíba (Fórum Carajás, SMDH, CCN e FDBPM).

* Artigo enviado pelo Autor ao EcoDebate, 03/01/2012

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