Mineiras, artigo de Montserrat Martins
[EcoDebate] Em qualquer lugar você passa desapercebido em uma mesa sozinho, lendo ou escrevendo algo. Não em Minas. A simpatia das pessoas da mesa vizinha, quando eu estava almoçando no Xapuri, em Belo Horizonte, foi só a confirmação de uma atenciosidade muito particular que me chamou a atenção em apenas dois dias de passagem pela capital mineira.
Estive em BH no encontro por uma nova política e me dei conta, lá, que os gaúchos começam a conversa pelo fim, pela conclusão. Gaúcho diz direto o que pensa, conclui sem ouvir a opinião dos outros e depois faz um discurso só pra explicar e justificar sua posição. Mineiro começa o assunto pelo início, depois desenvolve argumentando, cuidando como você acompanha o assunto, e só então apresenta o seu ponto de vista final – ou não.
Participar de um movimento nacional tem essa delícia que é beber um pouco da cultura de cada povo, dos tão diversos povos que habitam esse país-continente. “O Brasil é um ótimo lugar para se fazer um país”, frase do Luís Fernando Veríssimo, é a mais bela e verdadeira definição do que somos. Suponho que ele estivesse se referindo não só ao nosso patrimônio natural, mas inclusive ao nosso patrimônio humano.
Estou sendo injusto com o Norte e Nordeste, sei, ao fazer esse elogio aos mineiros. É que não tenho como comparar, na verdade, porque no Nordeste eu sou visto sempre como turista, com essa cara de nascido no sul que trago comigo. Em São Paulo ou Brasília, há pessoas de todos os tipos e lugares, mas não se pode dizer que há uma cultura da atenção ou da conversa; já o Rio, bem, o Rio é um país à parte, não conta.
A moda da viola, jogar conversa fora, sorrisos gratuitos e fartos, simpatia de quem está sem pressa e de bem com a vida, foi o que respirei em Minas. Mesmo na área urbana da capital há um que outro terreno com umas vaquinhas, para lembrar que esse jeito bom de viver vem lá do interior, dos campos das Minas Gerais. Pessoas com ideologias diferentes discutem sem ofensas pessoais. Alguém pode lembrar que críticas ou denúncias contundentes são necessárias para mudar o mundo, que “não se faz omelete sem quebrar os ovos”, um ditado que é popular entre os gaúchos. Pode ser, talvez até seja isso mesmo, não sei bem, eu penso enquanto respiro o ar de Minas. Deixo para chegar a uma conclusão quando estiver no sul, de volta.
O baiano Caetano tem razão ao lembrar que “cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é”, não há um jeito perfeito de ser. O que achei meio demais, na simplicidade das pessoas mineiras, é que o Maradona deles (que na Argentina é uma religião) é o Aécio Neves (com exceção das da nova política, que preferem o Zé Fernando Aparecido). Aécio é idolatrado, à mineira, como sendo um gestor sério e grande conciliador político, o que torna muito interessante o fato de que o mineiro Fernando Pimentel seja a “bola da vez” da campanha tucana paulista, leia-se Veja, em sua saga de “serial killer” de ministros. Não tenho bola de cristal, mas essa eu pago pra ver. Ah, claro, um Feliz Natal, momento de perdão e conciliação, que se já não tivesse sido criado pela tradição cristã, teria sido criado pelas tradições mineiras.
Montserrat Martins, colunista do EcoDebate, é Psiquiatra.
EcoDebate, 23/12/2011
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Obrigado pelos elogios ao nosso Estado e ao nosso povo… Qdo puder venha conhecer os nosso parques florestais e as nossas grutas…
Abraço,
André