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Belo Monte, triste lobby. Entrevista com José Augusto Pádua

 

Tema recorrente após a recente divulgação do vídeo Movimento Gota d’Água, em que atores globais como Marcos Palmeira, Juliana Paes e Maitê Proença se unem contra sua construção, a Usina Hidrelétrica de Belo Monte, no Rio Xingu, Pará, tem suscitado debates acerca de sua eficácia.

A entrevista é da Revista Cult, edição no. 164.

O ex-coordenador da área de florestas do Greenpeace na América Latina e professor do Departamento de História da UFRJ José Augusto Pádua comenta o assunto: “Existe um lobby poderoso de empresas que ampliam seu capital com base em obras públicas e semipúblicas. A pressão imediatista dessas empresas gera uma cadeia de interesses que distorce o debate político”.

Eis a entrevista.

Os ganhos econômicos e energéticos da construção de Belo Monte compensam seus custos antropológicos e ambientais?

Não. Ser contra Belo Monte não significa ser contra a hidreletricidade. Mas cada projeto deve ser discutido de forma transparente, lúcida e minuciosa. O projeto, apesar de caríssimo, apresenta uma quantidade grande de problemas e dúvidas.

Não apenas graves problemas ambientais e antropológicos, mas também econômicos: custos reais da construção, quantidade real de energia gerada, preço real da energia a ser vendida etc.

Tudo isso teria de ser examinado com muito mais cuidado. A pressa constitui um caso exemplar de algo que precisa ser enfrentado pela democracia brasileira: a força do que já foi chamado de “capital empreiteiro”.

Existe um lobby poderoso de empresas, muitas das quais herdeiras das obras faraônicas do período ditatorial, que ampliam seu capital com base em obras públicas e semipúblicas. A pressão imediatista dessas empresas gera uma cadeia de interesses que distorce o debate político sobre as melhores opções para o manejo inteligente e integrado do território brasileiro.

Quais as alternativas para solucionar o problema de falta de energia que Belo Monte supostamente resolveria?

Há várias opções dentro de um planejamento energético amplo e cuidadoso. De imediato, existe a opção da repotencialização das máquinas e equipamentos das atuais usinas e da recuperação dos sistemas de transmissão hoje existentes.

Na época da construção de Itaipu, houve protestos similares aos que vemos hoje. É possível compará-los?

Essa comparação revela o valor da democracia. No período ditatorial, o debate foi bem mais restrito. Isso permitiu a concretização de desastres, como a destruição de Sete Quedas e o absurdo cálculo de custo-benefício da hidrelétrica de Balbina, no Amazonas. Os projetos atuais de hidreletricidade, por exemplo, são menos danosos do que foram no passado, e a pressão social foi fundamental para promover esses avanços técnicos.

A imposição de projetos como Belo Monte, cujo processo de licenciamento apresenta claras lacunas e distorções, caminha na contramão da transição histórica para modelos mais sustentáveis de desenvolvimento.

JOSÉ AUGUSTO PÁDUA INDICA

O QUE ESTOU LENDO
A Eternidade e o Desejo (Objetiva), de Inês Pedrosa, e Par-delà Nature et Culture (Gallimard), de Philippe Descola

O QUE ESTOU OUVINDO
Viagens a Lugares Inacessíveis: Composições de G. I. Gurdjieff e Thomas de Hartmann, de Artur Andrés (flauta) e Regina Amaral (piano), e Tum Tum Tum, de Déa Trancoso

O ÚLTIMO FILME QUE VI
Um Conto Chinês, de Sebastián Borensztein

(Ecodebate, 19/12/2011) publicado pela IHU On-line, parceiro estratégico do EcoDebate na socialização da informação.

[IHU On-line é publicada pelo Instituto Humanitas Unisinos – IHU, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos, em São Leopoldo, RS.]

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