Dez livros dez, artigo de Montserrat Martins
[EcoDebate] Não é minha praia escolher roupas, perfumes, sapatos… No fim, meus presentes de Natal acabam sendo sempre livros, que é o que eu penso que conheço, meus parentes só não sabem qual é o título do que vão ganhar esse ano. E quem ainda se importa com livros, a essa altura do campeonato ?
Estamos na era da cultura “líquida”, tudo é fugaz e escorre pelos dedos, debates “profundos” são feitos sobre temas tão relevantes quanto o comprimento da saia da Geisy Arruda, o peso do Ronaldo Fenômeno ou os “verdadeiros motivos” pelos quais a Fátima Bernardes saiu do Jornal Nacional. Tá bem, o povo tem o direito de se divertir, fofoca (mais até que o futebol ou a novela) é o esporte nacional mais popular. E é normal que fofocas se transformem em livros, também, porque é um grande negócio.
Então, vale a pena fazer uma lista de livros que merecem ser lidos, para ajudar a compreender o mundo em que a gente vive hoje. Para as novas gerações, podem ser considerados livros “clássicos”, indispensáveis. Para não ser mais pretensioso que os dez mandamentos, limitei a minha lista de sugestões a dez. Ah, sim, considero o Manifesto Ecológico do José Lutzemberger tão fundamental que não precisa entrar nesta lista, seria o mesmo que um padre indicar a Bíblia ou “A Arte de Amar” do Erich Fromm, obras que mesmo para ateus fazem parte da “cultura geral”.
Muitos jovens ainda não conhecem os livros desta lista abaixo e poderiam ser presenteados com eles, mesmo que dê algum trabalho procurar nos estoques das livrarias: alguns já estão ficando raros, porque o Paulo Coelho vende mais. Bem, aí vão as minhas sugestões de “dez livros dez” para os seus presentes de Natal.
1984, de George Orwell. Dá pra motivar dizendo que foi quem lançou a expressão “big brother”, ajuda a despertar a curiosidade da gurizada.
Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley. Muitas e muitas décadas atrás, já havia sido prevista a promessa da “pílula da felicidade”, tipo prozac.
O Homem à Procura de si Mesmo, de Rollo May. Há cerca de quatro décadas, previu o vazio de valores sociais e pessoais que tem levado milhões de pessoas à depressão, a doença do século XXI.
Machado de Assis, escolha você mesmo um de seus livros. Os machadianos preferidos, para mim, são os seus contos, “Missa do Galo” é o meu ícone literário.
Mário Quintana, tudo que ele escreveu, nunca vi um Mário Quintana ruim, se encontrar um mais fraco por aí, na internet, é falso.
Ficções, de Jorge Luís Borges. Para entender o que significa a expressão “leitura deliciosa”.
Olhai os Lírios do Campo, de Érico Veríssimo. Numa história envolvente, os dilemas das escolhas de valores de vida.
A way of being, de Carl Rogers, com prefácio de Irving Yalom (desdobrado em dois na edição brasileira, “Um jeito de ser” e “A pessoa como centro”). Um de seus capítulos é o melhor texto já escrito sobre empatia. O capítulo final prevê como será “a pessoa do futuro”, bastante profético: escrito há três décadas, vem confirmando muitas de suas previsões.
Comunicação Não-Violenta, de Marshall Rosenberg. Mostra como é possível compreender os outros, mesmo que tenhamos opiniões diferentes, expressando nosso ponto de vista sem agredir. Me lembrem de reler esse, sempre que eu “ratear”.
As palavras e as coisas, de Michel Foucault, para compreender como chegamos até aqui, na construção das ciências sociais (que não tem mais do que dois séculos); mas se preferir especular para onde vamos, pode escolher Noam Chomsky, “O governo no futuro”. Complementares, o denso Foucault ou o objetivo Chomsky, ambos profundos, podem ser o livro a dar de presente para você mesmo, para levar nas férias e ir digerindo as poucos, refletindo e dialogando com os autores. Para quem sente prazer em reler o mundo com novos paradigmas, aposto que Foucault ou Chomsky são satisfação garantida, ou o seu dinheiro de volta.
Montserrat Martins, colunista do EcoDebate, é Psiquiatra.
EcoDebate, 16/12/2011
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Gostei das dicas, obrigado.
Poderiámos enviar essa relação a um site de compra coletiva, provavelmente o preço seria interessante também.
Todos já sabem o custo dos livros no Brasil, são caros.
Bom para manter a estabilidade social, cada um no seu lugar, uns vendo bigbrother pela rede globo…
… e outros na rede com seu livro de 67,00 na mão… ou de 120,00…
… e outor na grande rede com sua face no book…
Abraço
Boa lista!!!
Não conheço a maioria dos títulos, apesar de conhecer os autores.
Só uma ressalva: não são todos os livros passíveis de compreensão por qualquer leigo, por exemplo, o livro de Foucault, as Palavras e as Coisas é extremamente denso e de díficil leitura, mas vale a dica!!!
Obrigada!