Reflexões sobre qualidade de vida, artigo de Bruno Peron Loureiro
[EcoDebate] O Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA, da sigla em inglês) previu que seríamos 7 bilhões até outubro de 2011. A preocupação em torno do aumento populacional tem sido constante em meus escritos. Como se assegurará a “qualidade de vida” a tantas pessoas se a maioria padece da distorção de algum de seus vértices?
A resposta orienta-se pelo conceito de “qualidade de vida”, que é mutante, subjetivo e distinto de quantidade. Fontes infindáveis de informação atribuem sentidos a este termo, cuja importância se evidencia na canícula das sociedades modernas.
Este destaque deve-se a que se confunde o sentido do conceito com os avanços técnicos, que trazem muitas vezes novos desafios e denigrem a “qualidade de vida”. O automóvel passa de ser facilitador dos transportes para tornar-se agente de contaminação atmosférica, problemas respiratórios e estresse.
Os conceitos de “qualidade de vida” costumam abranger aspectos biológicos (bem-estar, condicionamento físico, propensão a doenças), culturais (hábitos de infância, convívios sociais, vicissitudes, meios de formação e informação), e econômicos (renda, capacidade de consumo).
É leviano remeter ao tema sem considerar ao menos estas três facetas do que atribui qualidade à vida, uma vez que a carência em qualquer uma delas impede o usufruto desta dádiva em sua plenitude.
O Brasil assiste a um momento contraditório de seu desenvolvimento, haja visto que a pujança de sua economia não se tem convertido em rendas bem distribuídas devido ao modelo de exploração de mão-de-obra e recursos naturais. Há um encanto injustificado por atores que não pensam no cívico e o público, como as empresas transnacionais.
Não obstante, o Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas(IPEA) divulgou um estudo que aponta aumento de 146% nos gastos sociais do governo federal de 1995 a 2009. As áreas envolvidas são: educação, trabalho, saúde, habitação, entre outras.
Agrega-se que o Ministério do Trabalho acusa que houve aumento de contratação de estrangeiros no Brasil. O país emitiu, no primeiro semestre de 2011, 26,5 mil autorizações de trabalho, que se concentram nas áreas de infraestrutura, engenharia e tecnologia.
O Brasil possui inserção privilegiada no circuito internacional em comparação com outros países historicamente colonizados e explorados devido à capacidade ingente de produzir riquezas e exportá-las, no entanto indispõe-se internamente com os problemas clássicos do subdesenvolvimento.
Como conciliar a “qualidade de vida” dos brasileiros com a remessa exportadora de nossos melhores alimentos e insumos industriais, enquanto a miséria e o descaso ainda assombram as favelas e nos encarecem os recursos que testificariam – em vez de desmentir – nosso lugar como “país emergente”?
A cooperação internacional – em vez da subserviência – tem sido a opção de ministros e chefes de Estado para melhorar a “qualidade devida” ao combater a fome, a guerra e a pobreza. É inconcebível que se tenha tantas opções de consumo nas regiões mais avançadas tecnicamente enquanto noutras é preciso caminhar quilômetros com baldes de água na cabeça para saciar a sede da família.
Economistas criaram o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH)em 1990, que mede a renda per capita,a expectativa de vida e a educação (índice de analfabetismo e matrícula escolar) dos países. A classificação baseia-se na variação de 0 a 1, sendo mais positiva a medição que se aproxima do 1.
O entendimento de “qualidade de vida” requer desanuviar confusões e dogmas que recheiam o conceito a fim de que a inserção de cada uma das sete bilhões de pessoas seja a mais ativa e saudável possível.
Podemos e devemos ser agentes do processo de desenvolvimento que contempla os aspectos biológicos, culturais e econômicos descritos anteriormente. A alimentação, os meios de convívio, os bons pensamentos e a interação política reduzem a culpa do acaso e nos conferem maior responsabilidade sobre o grau de qualidade com que vivemos.
Clichês são válidos para esta finalidade, como o de agir localmente e pensar globalmente, pois somos mais dependentes de processos de além-mar.
Quem delibera sobre sua “qualidade de vida”: você ou o acaso?
Colaboração de Bruno Peron Loureiro, mestre em Estudos Latino-americanos, para o EcoDebate, 14/12/2011
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