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Artigo

Instalação de hortos florestais, artigo de Roberto Naime

 

[EcoDebate] Entre os argumentos que listam os impactos mais positivos das atividades econômicas de implantação de hortos florestais em geral vinculados a projetos de fábricas de celulose e papel, estão a criação de empregos ou geração de renda mais amplamente falando e a criação de fator gerador de impostos, cuja reversão para comunidades empobrecidas sempre são um fator de enorme atração destes projetos.

A questão é saber se o incremento de impostos nas regiões onde são implantados grandes projetos de silvicultura associados com indústrias de celulose e papel é suficiente para compensar eventuais recuperações de áreas degradadas que venham a se estabelecer em função de impactos nocivos aos ecossistemas.

Os impactos ambientais que requerem cuidados sobre os ecossistemas são inúmeros, mas entre eles predominam substituições de campos, florestas ou banhados por plantações florestais. Isto acaba implicando em impactos relevantes também sobre a biodiversidade, com expressiva redução da quantidade de espécies faunísticas em micro ou meso ecossistemas locais.

Estes impactos sempre podem ser atenuados com a implantação de corredores ecológicos, mas raramente são solucionados de forma permanente, eficaz ou satisfatória. A implantação e regularização de reservas naturais ou áreas de preservação também auxilia no conjunto das medidas, mas os maiores problemas se situam na disponibilidade de recursos hídricos, incluindo a interferência da redução da capacidade hídrica sobre a disponibilidade de alimentos, que se alterada influencia em muito a biodiversidade.

Muitas vezes a solução tanto para a disponibilidade de recursos hídricos, quanto para a manutenção da diversidade de alimento que interfere na biodiversidade da fauna é manejar as precipitações pluviométricas, induzindo maior taxa de infiltração do que de escoamento, já que não é possível interferir nas taxas de evapotranspiração que dependem mais de fatores climáticos.

Ainda não é comum na indústria madeireira em geral, e não apenas celulósica produzir através de integração com agricultores, da forma com que é feita a produção de aves e suínos. Esta seria uma prática que tornaria mais caros os custos de logística, mas certamente produziria menores impactos ambientais e estes seriam muito mais dispersos em áreas, muitas vezes se tornando insignificantes em magnitude.

Isto ainda teria uma outra grande vantagem. A integração com agricultores poderia auxiliar na manutenção de áreas de preservação florestal dentro de propriedades, integrar a silvicultura junto com a pecuária e a agricultura, tornando os ecossistemas de todas as naturezas muito menos suscetíveis a qualquer forma de impactação.

O fato de que os custos poderiam se tornar maiores com transportes ou outros fatores ficaria totalmente diluído numa economia ambiental que valorasse todos os fatores intervenientes e não apenas o valor da matéria prima madeira para a indústria da celulose.

Atualmente as grandes indústrias de celulose e papel, bem como os produtores de painéis de madeira tem as suas bases florestais consolidadas, restando aos demais setores que utilizam madeira, particularmente os setores moveleiro e siderúrgico, disputar a madeira restante num mercado pouco regulado e muito agressivo em todos os sentidos.

A grande idéia seria adotar o sistema de plantio integrado para a madeira, como forma de minimizar os impactos, potencializar a sinergia resultante de sistemas agro-florestais, criando ainda uma remuneração para os produtores de madeira diluída no tempo de maturação dos hortos florestais.

O setor deve se apropriar dos ganhos que rivalizam com taxas de retorno interno de investimentos próximas às taxas do setor financeiro e transformar este ganho num diferencial competitivo que pode ser obtido com a criação de um sistema de remuneração de agricultores ao longo da maturação das florestas e com o ganho intangível produzido pela implantação dos sistemas agro-florestais e auxílio na implantação de áreas de conservação de propriedades rurais.

Este ganho é praticamente imensurável em termos de economia ambiental holística. É difícil mensurar tudo que se pode obter de ganhos com a preservação maior de equilíbrio de ecossistemas.

Dr. Roberto Naime, colunista do EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.

EcoDebate, 06/12/2011

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