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Um basta ao petróleo

 

O vazamento de petróleo provocado pela americana Chevron lembrou o episódio da explosão da plataforma de petróleo Deepwater Horizon, da britânica British Petroleum (BP), no golfo do México em 2010. Verdadeiros “rios” de óleo vazaram durante meses, naquele que foi considerado o maior desastre ambiental dos Estados Unidos.

As razões do desastre são as mesmas que estão por detrás do vazamento da Chevron, ou seja, economia de risco. A BP escolheu procedimentos arriscados para reduzir custos e não perder tempo.

O vazamento no Golfo recolocou em debate à época na sociedade americana o tema das energias alternativas. Apesar da intensidade, dramaticidade, amplitude e repercussão mundial do desastre ambiental, passado poucos anos o mesmo perdeu força na memória coletiva.

Ao contrário do que previu Sérgio Abranches, para quem a economia do petróleo seria duramente afetada pelo vazamento. Disse o ambientalista na época: “Esse é o tipo do desastre que não cai no esquecimento, porque suas consequências continuarão visíveis e provocarão perdas por anos a fio. A exploração de petróleo em profundidade no mar sofrerá restrições regulatórias e enfrentará cláusulas de precaução, em várias frentes. No médio e longo prazo, aumentarão os desincentivos ao uso de combustíveis fósseis e os incentivos à energia renovável limpa. Os programas de pesquisa e desenvolvimento em novas energias serão acelerados. A adoção de veículos elétricos e híbridos também”, afirmou. Os seus prognósticos estão longe de se confirmar.

Na mesma época, o teórico da era do pós-petróleo, Jeremy Rifkin, disse que o acontecimento deveria ser visto como um “basta”: “Agora basta. Esta é uma das mais graves catástrofes da história americana. É inaceitável continuar a correr riscos semelhantes. É preciso instaurar uma moratória imediata da extração de petróleo offshore em todo o Golfo do México (…) é o momento de escolher: de um lado, é a velha economia do petróleo, que já produz pouco bem-estar e muitas catástrofes; do outro lado, está a terceira revolução industrial baseada na eficiência, na inovação tecnológica, nas fontes renováveis”, disse.

Richard Steiner, respeitado biólogo marinho e consultor ambiental, comentou por ocasião da tragédia do golfo que “a verdadeira lição desse desastre é sobre o custo oculto do petróleo. Espero que possamos nos mobilizar para fontes alternativas de energia. Podemos ser até acusados de ingenuidade, mas ainda assim temos que insistir nisso. Temo que seja desperdiçada a última grande chance de promover energia sustentável antes de um colapso ecológico”. Para em seguida acrescentar: “Quanto mais cedo a transição for feita, melhor não só para o planeta, mas também para o bem-estar econômico deste país. Já estamos 40 anos atrasados, deveríamos ter despertado no começo dos anos 70”.

Na oportunidade Larissa Ramina, doutora em Direito Internacional alertou: “Deveríamos inserir no centro do debate sobre a crise ambiental a redução do padrão da demanda energética. O consumo aumenta a um ritmo maior do que a descoberta de novas jazidas, e estas, por sua vez, são de mais difícil acesso, e logo com custos de produção mais elevados e maiores riscos ambientais”.

Por isso, a pergunta do professor Frederico Brandini, do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (IO-USP), feito na época do crime ambiental no golfo e tendo presente agora o acontecido na Bacia de Campos continua sendo pertinente: “Mas de quem é a culpa, afinal? Apenas da BP? Ou da demanda mundial por energia?” Para logo emendar: “Não, a culpa é de toda a cadeia produtiva. E nós, coletivamente, somos responsáveis por tudo isso porque nos acomodamos na conveniência dessa dependência dos combustíveis fósseis como matriz energética”.

Agora, no caso da Chevron, o debate é retomado com uma importante advertência do físico Marcelo Gleiser: “Enquanto outras economias debatem como ir além do uso de combustíveis fósseis, o Brasil, com sua vasta rede hidrelétrica e potencial solar e eólico, parece estar querendo ir para trás”.

(Ecodebate, 30/11/2011) publicado pela IHU On-line, parceiro estratégico do EcoDebate na socialização da informação.

[IHU On-line é publicada pelo Instituto Humanitas Unisinos – IHU, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos, em São Leopoldo, RS.]

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