COP17, em Durban: Convenção de Clima começa sem expectativa de acordo
Pessimismo global – A três dias da Convenção de Clima (COP-17) em Durban (28/11), na África do Sul, dados ambientais e até mesmo vazamento de e-mails de cientistas vêm sendo publicados com a perspectiva de influenciar as negociações. Ainda que ganhem grande repercussão, não alimentam a esperança de metas de redução da emissão de gases-estufa. Para muitos especialistas, evitar um retrocesso já pode ser considerado uma vitória. E, num pior cenário, até mesmo a capacidade da Onu de lidar com temas globais poderá ser abalada.
“Não devemos esperar qualquer avanço revolucionário em Durban”, adverte o cientista Carlos Nobre, secretário de Políticas, Programas, Pesquisa e Desenvolvimento do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação. “O grande acordo que ainda se vislumbra, pelo menos que não se regrida, é a questão das florestas, o fundo de assistência a países mais pobres.”
O ponto central de Durban é um segundo período do Protocolo de Kioto. A base legal do acordo, que cria um mercado para financiar medidas de mitigação dos gases-estufa e estabelece metas de redução de emissões para países desenvolvidos, terminará no fim do ano que vem. Divergências já anunciadas tornam improvável qualquer acordo neste tópico.
Negociadores americanos, por exemplo, sequer vão discutir o assunto, uma vez que o congresso dos Estados Unidos não ratificou o protocolo. Se o fracasso se confirmar, a última chance de renovação é a COP-18, em 2012, na Coreia do Sul. Porém, o prazo ficaria apertado demais, de acordo com Carlos Rittl, coordenador do Programa Mudanças Climáticas e Energia da ONG WWF-Brasil.
“Sem o Protocolo de Kioto não haverá marco referencial para discutir responsabilidades. Rússia, Japão, Austrália e Canadá também não vão se comprometer”, diz Rittl.
Nem mesmo o financiamento a países que ainda conservam suas florestas é certo. Os mais ricos, responsáveis pelas maiores emissões, e os em desenvolvimento, entre eles o Brasil, têm interesses divergentes. Ontem, Chris Huhne, secretário do Clima do Reino Unido, sugeriu um acordo em novas bases até 2015.
“Precisamos passar para um sistema que reflita a genuína diversidade e responsabilidade e capacidade dos países, em vez da diferenciação binária na qual você é “desenvolvido” se estava na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico em 1992″, disse Huhne à BBC.
O impasse faz reverberar a frustração com a COP-15, realizada há dois anos em Copenhague. Em vez de corte de emissões, foi decidido que a temperatura não poderia aumentar mais do que 2 graus até 2050. Meta esta que fica mais distante a cada dificuldade nas negociações. Enquanto isso, os alertas científicos são mais robustos e, as emissões, recorde, mesmo com a crise econômica.
“Desde a COP de Nairóbi, em 2006, sabemos que o custo de prevenção é de 1% do PIB. Se nada for feito, em 20 anos estaríamos astando 20% do PIB para lidar com problemas como elevação do nível do mar”, argumenta o coordenador dos cursos de pós-graduação da escola politécnica da UFRJ Haroldo Mattos de Lemos.
A Conferência de Clima será um termômetro do que estará por vir na Rio+20. Um fracasso retumbante em Durban tende a esvaziá-la. O governo brasileiro fará um corpo-a-corpo para garantir a vinda de delegações e de chefes de governos. “Por não ser uma conferência legislativa, a Rio+20 poderá apontar caminhos e parcerias”, disse o subsecretário de Meio Ambiente do Itamaraty e negociador-chefe Luiz Alberto Figueiredo Machado.
O professor do Departamento de Economia da PUC-Rio e assessor da prefeitura para a Rio+20, Sérgio Besserman salienta que o acordo climático, algum dia, será inevitável. “A Humanidade, nem sempre sábia, não é completamente estúpida.”
Já o pesquisador visitante do Instituto de Estudos Avançados da USP Luiz Gylvan Meira Filho é cético. “Os países tendem a deixar a negociação para o último instante.”
Matéria de O Globo, socializada pelo Jornal da Ciência / SBPC, JC e-mail 4392.
EcoDebate, 28/11/2011
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