Sistemas agroflorestais como modelo produtivo para a Amazônia
“Tudo que sai da Amazônia dá certo em outro lugar.” Com essa provocação o pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental Alfredo Homma chama atenção para a perda de oportunidades da região com produtos nativos, como o cacau e a borracha. A importância dessas duas culturas para geração de renda em sistemas agroflorestais foi tema de simpósio realizado na terça-feira (22), em Belém, dentro da programação do VIII Congresso Brasileiro de Sistemas Agroflorestais. Atualmente o Brasil importa um terço de seu consumo de cacau e 70% da demanda de borracha. Segundo Homma, cultivos perenes como esses, em sistemas agroflorestais, seriam a vocação produtiva da Amazônia.
Durante as exposições do simpósio, o engenheiro florestal Dan Petit Lobão, da Comissão Executiva de Planejamento da Lavoura Cacaueira (Ceplac), apresentou o conceito de conservação produtiva a partir da trajetória do cultivo do cacau na Bahia. Durante mais de 250 anos, uma forma de produzir a amêndoa preservou espécies florestais ameaçadas de extinção. “Nesse modelo, algumas árvores saem, outras ficam e o cacau e espécies de interesse econômico são introduzidos na mata. Trata-se de um sistema simples em sua concepção, mas de alta complexidade ecológica”, explicou. Segundo Lobão, esse modelo produtivo tradicional, se bem manejado, é um exemplo de geração de renda ao produtor e conservação ambiental.
Também atuando na Ceplac, o engenheiro agrônomo Adonias de Castro apresentou dados que apontam as vantagens da produção de seringueira em sistemas agroflorestais em relação aos monocultivos. “Com um sistema agroflorestal de três hectares, por exemplo, uma família pode obter renda de três a quatro salários mínimos depois que o financiamento for reembolsado”, disse. Castro também mostrou dados sobre a maior retenção de água em sistemas agroflorestais na comparação com monocultivos. “Os recursos hídricos são importantíssimos. Além da agricultura de baixo carbono, deveria haver um programa para incentivar a agricultura que armazena água”, afirmou.
Por último, o engenheiro florestal Jean Dubois, da Rede Brasileira de Sistemas Agroflorestais, falou sobre esse modo de produção como agentes capitalizadores no meio rural. A escolha de cultivos âncoras nesses cultivos, segundo ele, devem observar questões como a potencialidade de agregação de valor ao produto.
O VIII Congresso Brasileiro de Sistemas Agroflorestais iniciou-se nessa segunda-feira (21), em Belém. O evento acontece no Ano Internacional das Florestas – estabelecido pela Organização das Nações Unidas (ONU) – e se encerra hoje (25).
Texto de Vinicius Soares Braga, da Embrapa Amazônia Oriental, publicado pelo EcoDebate, 25/11/2011
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