Comentários sobre as bacia hidrográficas no RS, artigo de Roberto Naime
[EcoDebate] O Rio Grande do Sul tem aproximadamente 25 bacias hidrográficas. Um recente estudo do governo do estado indica que 14 destas bac ias hidrográficas se encontram em situação precária ou de alta vulnerabilidade quanto à qualidade de água.
Informações do Relatório Anual de Recursos Hídricos, datado de 2006 indicam grandes preocupações com os mananciais gaúchos. O relatório se encontra defasado em termos de tempo, mas a obtenção de informações sistêmicas de monitoramento hidrográfico sempre é problemática. O único trabalho divulgado anterior a este foi de 2002.
Embora a legislação ambiental predisponha a realização de um relatório anual sobre o tema, este dispositivo nem sempre tem sido atendido.
No estado do Rio Grande do Sul estão algumas das bacias hidrográficas mais degradadas do país como as bacias do Rio dos Sinos e do rio Gravataí.
Os maiores impactos são sobre o nível de oxigenação, presença de coliformes fecais ou quantidade de matéria orgânica. A qualidade da água nestes fatores já compromete o consumo da água. E torna mais onerosos e trabalhosos os procedimentos de tratamento de água para distribuição de água potável.
A análise das bacias hidrográficas mostra que competem na degradação ambiental o despejo de esgotos domésticos não tratados e efluentes industriais com tratamento inadequado ou sem tratamento. No interior do estado, em bacias como as dos rios Turvo, Taquari e Pardo são registradas contaminações por agrotóxicos e dejetos de criações intensivas de animas.
Não é só a qualidade da água disponível nas bacias hidrográficas que gera preocupação. O fator quantidade de água também preocupa. Em regiões do estado como Fronteira Oeste, região central e na própria região metropolitana de Porto Alegre ocorre déficit na disponibilidade de recursos hídricos em relação às demandas dos meses de verão. Isto leva à necessidade de racionamento ou de uso de água estocada em barragens ou reservatórios.
A situação se agrava no verão não apenas devido ao clima mas também à menor disponibilidade de água em função da ampliação do uso agrícola da água em lavouras irrigadas em culturas de verão como o arroz, largamente cultivado no estado.
A média mundial de uso de água para irrgação oscila entre 70 e 75%, mas a média brasileira se situa em 80%, menquanto no Rio Grande do Sul chega a ocorrer a aplicação de 97% da oferta hídrica em irrigação durante os meses mais quentes, enquanto no restante do ano fica em 92% em algumas bacias hidrográficas de regiões agrícolas. Em média o consumo humano fica com 4,5% enquanto a dessedentação de animais fica com aproximadamente 2,3 % e o consumo industrial atinge 1,1%.
O estado do Rio Grande do Sul tem grande tradição em irrigação, mas é evidente que ocorre superutilização, que gera conflitos de uso e que representa a manutenção do uso de tecnologias defasadas que poderiam e deveriam ser aprimoradas.
Estes dados, embora sofram carência de sistematização e continuidade, servem como alerta para que a sociedade como um todo, através dos comitês gestores de bacias hidrográficas debata e normatize o uso das águas superficiais para que todos os interesses sejam contemplados e não ocorram conflitos de uso e ocupação dos solos tendo como motivo de fundo a utilização dos recursos hídricos, quer sejam superficiais, quer sejam subterrâneos.
A quantidade de água disponível em uma bacia hidrográfica é a mesma, quer sejam utilizadas águas superficiais, quer sejam explotadas águas subterrâneas.
A quantidade de água disponível em uma bacia hidrográfica obedece a uma equação simples, chamada de balanço hídrico. É igual a pluviosidade (ou volume de chuvas) numa determinada região, extraídas as perdas com evapotranspiração. A quantidade de água superficial é a que sofre escoamento. E a quantidade de água subterrânea é a que sofre infiltração em aquíferos.
Mas a quantidade de água disponível em uma mesma bacia hidrográfica independe de ser superficial ou subterrânea. A quantidade de água é a mesma.
Por isto a bacia hidrográfica representa o conjunto mais apropriado para representar o geobiossistema regional, lembrando que esta concepção representa um agrupamento, capaz de expressar homogeneidades ou realçar diferenciações físicas espaciais e temporais no meio terrestre, como unidade territorial, geográficas ou cartográficas de mesma paisagem, definidas por características estatísticas do meio natural físico, químico ou biológico, hierarquizadas por um mesmo sistema de relações.
Dr. Roberto Naime, colunista do EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.
EcoDebate, 23/11/2011
[ O conteúdo do EcoDebate é “Copyleft”, podendo ser copiado, reproduzido e/ou distribuído, desde que seja dado crédito ao autor, ao Ecodebate e, se for o caso, à fonte primária da informação ]
Inclusão na lista de distribuição do Boletim Diário do Portal EcoDebate
Caso queira ser incluído(a) na lista de distribuição de nosso boletim diário, basta clicar no LINK e preencher o formulário de inscrição. O seu e-mail será incluído e você receberá uma mensagem solicitando que confirme a inscrição.
O EcoDebate não pratica SPAM e a exigência de confirmação do e-mail de origem visa evitar que seu e-mail seja incluído indevidamente por terceiros.