Chefe de energias alternativas do BNDES diz que setor solar é o que mais cresce no mundo
Wikipedia – Parque Fotovoltaico de Lieberose, na Alemanha, que gera 71,8 MW
“Os europeus, o Japão, os asiáticos têm fomentado bastante essa fonte alternativa. No Brasil temos todas as condições de reproduzir esse crescimento da fonte solar” Com os custos dos painéis elevtrovoltaicos, que convertem a luz do Sol em eletricidade, em queda no mercado internacional, a energia solar deve se tornar economicamente viável em poucos anos. Empresários interessados em abrir plantas de fabricação de painéis solares no Brasil têm chance de obter acesso às linhas de financiamento do BNDES dedicadas à inovação tecnológica, disse Antonio Carlos de Andrada Tovar, chefe do departamento de energias alternativas do banco.
Tovar fez essas afirmações durante seminário sobre a matriz energética brasileira, realizado no final de outubro pelo jornal Valor Econômico, em Brasília.
Participando de painel que discutiu a elevação da participação das fontes alternativas na matriz, Tovar chamou atenção para a necessidade de se criarem mecanismos de estímulo à energia solar no Brasil. “Ela tem um potencial de crescimento fantástico”, declarou ele, afirmando que o preço dos painéis caiu mais de 90% nos últimos 30 anos, ao mesmo tempo em que a tecnologia tornava-se mais eficiente.
“Já há mais de 35 GW instalados mundialmente”, disse. Em comparação, a energia eólica – considerada já uma fonte madura – tinha instalados no globo, em 2008, 120 GW. “O setor vem crescendo mais de 50% ao ano desde 2000. A rigor, é o setor que mais cresce no mundo”.
“Os europeus, o Japão, os asiáticos têm fomentado bastante essa fonte alternativa. No Brasil temos todas as condições de reproduzir esse crescimento da fonte solar, não só pelas características de localização do país, a irradiação solar no Brasil, mas também a nossa cadeia de fornecedores de quartzo, que é a matéria prima para o desenvolvimento do setor”, declarou.
Potencial inovador
Tovar afirmou que, a despeito dessas precondições favoráveis, o Brasil ainda não conseguiu se valer do potencial solar em sua matriz energética. “Isso seria importante para diversificar a matriz, reduzir a dependência de combustíveis fósseis e reduzir os investimentos com transmissão, já que a energia solar está próxima dos centros de distribuição”.
A Comissão de Minas e Energia pretende convocar uma audiência pública para discutir as perspectivas da energia solar A adoção da energia solar também ajudaria no compromisso com a redução das emissões de gases do efeito estufa. Ele ainda chamou atenção para a queda significativa dos custos do equipamento de geração de energia solar ao longo dos anos. “Cada vez mais, essa energia ficará competitiva frente às outras”.
Tovar mencionou também – destacando que se trata de “um ponto a que damos muita atenção no banco” – o potencial inovador e agregador de tecnologia da energia solar. “Há um potencial grande de fomentar novos fornecedores, novas indústrias de alto valor agregado”, disse, lembrando que um eventual investimento em energia solar acabaria tendo impacto em outras áreas, como a dos semicondutores. Em termos do custo da geração, ele afirmou que o preço da energia gerada pelos painéis caiu de US$ 30 o watt, nos anos 80, para US$ 2 o watt, atualmente.
Eólica
Outros participantes do painel concordaram com a avaliação de Tovar sobre o futuro da energia solar. Miguel Saad, presidente da CPFL Renováveis, disse que essa modalidade de geração “está chegando no médio prazo”, e deve se tornar competitiva dentro de 5 a 10 anos.
Sérgio Marques, presidente a Bioenegry, companhia que vem implantando parques eólicos no nordeste brasileiro, disse que a energia solar, hoje, “é a eólica de quatro anos atrás”, numa referência às dificuldades que esse tipo de energia teve quando de sua implantação inicial no país, que requereu incentivos por parte do governo.
Atualmente, no consenso dos participantes do painel – que além de Tovar, Saad e Marques, contou também com a presidente da Associação Brasileira de Empresas de Energia Eólica (ABEEólica), Elbia Melo – o uso dos ventos para produção de eletricidade já está consolidado no Brasil. A ABEeólica congrega não apenas geradores de energia, mas também a indústria de bens de capital para o setor, e já conta com 94 associados.
“O Brasil tem a energia eólica mais barata do mundo”, disse Marques, lembrando que, num recente leilão realizado pelo governo, o preço do megawatt-hora (MWh) de eletricidade eólica caiu abaixo de US$ 100, mais barato que o da energia hidrelétrica oferecida no mesmo evento. “A eólica está consolidada, competindo com a hidrelétrica e a térmica”, acrescentou Saad.
“Há interesse de investidores internacionais no Brasil”, disse Elbia, que retornava de uma viagem à China. “Os chineses estão interessados em fazer investimento no Brasil e trazer indústrias de bens de capital”. O Brasil atualmente gera 1,2 GW a partir de fontes eólicas, com a previsão de chegar a 7 GW em 2014, e a uma capacidade instalada, até 2020, de 20 GW.
A presidente da ABEEólica destacou a importância da tecnologia para o avanço dessa fonte energética. “A tendência de competitividade da energia eólica está muito associada à questão tecnológica”, disse ela, referindo-se ao domínio tecnológico dos geradores. Atualmente há sete indústrias no Brasil dedicadas ao setor, número que deve chegar a 11 em breve.
Apoio
Para deslanchar, a energia eólica contou com um impulso do governo, como isenções fiscais e o Proinfa, ou Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica, criado em 2004, além do apoio do BNDES.
“O Brasil tem a energia eólica mais barata do mundo” Tovar explicou que o banco, atualmente, tem dificuldades em apoiar projetos de energia solar do mesmo modo. “Um problema é como viabilizar uma planta energia solar, dado que não se tem contratos de longo prazo, o preço ainda não é competitivo. Se não há um contrato de vinte, trinta anos, que possa garantir a venda de energia a um preço determinado, você não consegue dimensionar o financiamento. O empreendedor não vai tomar a decisão de montar um parque solar se ele não sabe por quanto vai vender aquela energia. Hoje, se ele for concorrer num leilão, não vai sair vencedor, por conta do preço da energia solar”.
Para contornar essa questão seria possível, na opinião do representante do BNDES, a criação de leilões específicos. Outro impedimento é o fato de ainda não haver indústria de painéis solares instalada no Brasil. “Hoje você tem apenas uma empresa cadastrada no banco produzindo painéis solares com conteúdo nacional, que tende a chegar a 60%, que é o conteúdo nacional mínimo” para se obter boas condições de financiamento do BNDES. Tovar acredita que, se houver uma sinalização clara do governo em favor da energia solar, empresas internacionais virão produzir painéis no país, como já acontece com a indústria eólica.
“Como o banco não financia equipamentos importados em bases competitivas, você acaba não conseguindo financiar um parque solar em bases competitivas”, resumiu. Ele acredita que, se a indústria do setor puder ser estimulada no país, o Brasil poderá se tornar um polo exportador de tecnologia solar para a América Latina.
Tovar lembrou que o BNDES tem uma linha de apoio à inovação que poderia incentivar a implantação de uma indústria de equipamentos para parques fotovoltaicos no país. “Desde que se consiga caracterizar o projeto como inovação, e obviamente uma planta de solar no Brasil, fabricando painéis, tem características de inovação, obtém as melhores taxas hoje do banco”. A inovação, disse ele, é a maior prioridade do banco para os próximos anos.
Debate
No início de novembro, a Agência Câmara divulgou nota informando que a Comissão de Minas e Energia pretende convocar uma audiência pública para discutir as perspectivas da energia solar no Brasil. O evento ainda não tem data marcada, mas serão convidados representantes do governo e de entidades da sociedade civil ligadas ao tema.
Reportagem de Carlos Orsi, do Portal Inovação Unicamp, publicada pelo EcoDebate, 14/11/2011
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