Áreas degradadas urbanas, artigo de Roberto Naime
[EcoDebate] O primeiro impacto ambiental e a primeira degradação de uma área urbana não deixam de ser o desmatamento ou o desflorestamento que se impõe nas áreas para implantação de malha viária urbana e construção de habitações.
Mas a lista é quase infindável, na verdade um ecossistema urbano que é uma cidade, importa alimentação do meio rural, energia que vem de fora e exporta resíduos sólidos e esgotos. Claro que esta é uma visão extremamente simplista da questão, mas serve para fixar a diretriz do tema que se debate.
Os veículos de transporte urbano individuais ou coletivos, lançam no meio atmosférico quantidade significativa de emissões de gases provenientes da queima de combustíveis fósseis. Estas emissões auxiliam na formação de ácidos a partir dos óxidos de carbono e enxofre, ocasionando os reconhecidos fenômenos de chuvas ácidas. Esta ocorrência interfere sobre ecossistemas aquáticos, sobre a agricultura e as florestas.
A questão dos resíduos sólidos gerados é outro problema relevante. É possível afirmar que existem muito poucas experiências de gestão integrada dos resíduos sólidos gerados no contexto de planos de saneamento ambiental que contemplem drenagem pluvial, tratamento de água para distribuição de água potável, recolhimento, tratamento e destinação de esgotos domésticos e gestão de resíduos sólidos.
Existem muito poucas situações de planejamento da gestão de resíduos que contemplem a coleta seletiva, usinas de triagem para geração de ocupação e renda com a consequente inclusão social e economia ambiental de matérias primas, água e energia das ações de reciclagem. E aproveitamento da parte orgânica para compostagem e produção de adubos orgânicos.
Ainda é predominante e amplamente hegemônica a ideia de enterrar os resíduos em aterros sanitários adequados.
Outra questão que degrada a qualidade da vida nas áreas urbanas é a ausência de tratamento dos esgotos domésticos, antes de destinação final ao sistema hídrico superficial. Mesmo nos países ditos de primeiro mundo, a recuperação dos sistemas hídricos é relativamente recente e ainda há muito por fazer.
Mesmo com sistemas cada vez mais eficientes e controlados de tratamento de efluentes industriais, seria negligente reconhecer que já existe plena eficácia nesta área. Ainda não é plenamente eficaz a remoção de todos os tipos de metais pesados e ainda ocorrem muitas contaminações de solos e águas superficiais e subterrâneas por este motivo.
Embora dos esforços oficiais, o Brasil ainda é reconhecidamente um país campeão de desmatamento, com dados impressionantes em relevantes tanto no bioma amazônico como nos cerrados.
A agricultura comercial, também denominada “agribusiness” é um importante setor econômico do país e traz renda e ocupação para uma parcela importante da população. Não chega a ser uma degradação urbana, mas guarda relação com a urbanidade no sentido que é patrocinada por agentes antrópicos.
Neste modelo agropecuário existe utilização intensiva de agrotóxicos que poluem sistemas hídricos superficiais, não respeitando áreas rurais ou urbanas.
Existe também uso maciço de antibióticos em criações animais extensivas ou intensivas, com reflexos ambientais em todos os meios, rural ou urbano.
Isto implica em contaminações na geração de alimentos, principalmente hortifrutigranjeiros, que tem sua qualidade muito alterada e consequências ainda relativamente desconhecidas. Ninguém em sã consciência pode ser contra o uso de agrotóxicos nesta situação, pois senão não haveria produção agrícola mínima e os agricultores estão muito longe de serem os principais beneficiários desta situação que é apropriada pela indústria química multinacional que atua de uma certa forma livre de qualquer controle.
As monoculturas ou oligoculturas perdem a principal característica dos ecossistemas de maior abrangência, que é a proteção que a resistência do conjunto traz aos indivíduos. As frequentes intervenções antrópicas nestas situações geram mais poluição química e física, com erosões e outras ocorrências.
Não se observam políticas públicas notórias na intenção de estimular ou coibir, através de legislação ou práticas fiscais, as ações que poderiam ser consideradas impactantes para o meio ambiente.
Existem apenas algumas políticas de agricultura familiar localizadas, que secundariamente geram efeitos indutores ou inibidores de práticas ambientais.
Mas não se deve patrocinar concepções que imputam aos governos a maior responsabilidade pelas mazelas ambientais. A sociedade como um todo precisa avançar e restituir laços de harmonia e dependência com a natureza, consolidando práticas de sustentabilidade em condições de equilíbrio com o meio ambiente.
Dr. Roberto Naime, colunista do EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.
EcoDebate, 24/10/2011
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O que mais me assusta é que, apesar de compreender que a sociedade civil tem responsabilidade sobre a questão ambiental, somos a menor parte! A maior parte da degradação ambiental, como a questão da água e da poluição dos solos provém de empresas e indústrias e, portanto, se for pra reagir teriamos que começar legislando e fiscalizando quem de fato polui e na quantidade que polui e para tanto é papel do Estado.
Não venham transmitir para a sociedade civil a preocupação com a água, quando ainda são financiados e incentivados programas de produção de alimentos que nada tem a ver com o loca, como a produção de maçãs no nordeste, isso sim é inviável.
Vamos nos preocupar com a questão ambiental, então que todos estejam envolvidos e não somente a sociedade civil, para além da falácia da ecopedagogia.