Wall Street e os OVNIS, artigo de Roberto Malvezzi (Gogó)
[EcoDebate] As manifestações dos “sobrantes” que acontecem em 82 países do mundo, chegaram ao coração dos Estados Unidos. Ali, uma multidão de desempregados, tendo pizzas pagas por gente do mundo inteiro sem pedir um tostão a quem quer que seja, chacoalha o mundo mitológico americano. O mercado eletrônico pode viabilizar o pagamento da pizza por qualquer insatisfeito do mundo, more onde morar.
O país até pouco tempo era inatacável, mas depois do 11 de Setembro não é mais. Era infenso a fenômenos climáticos, mas depois do Katrina não é mais. Era imune a todo tipo de crise econômica, mas os sobrantes de Wall Street atestam que não é mais.
Todos os filósofos da história sabem há tempos que o modelo civilizacional está em crise. Não é apenas o capitalismo. Porém, como ele é hegemônico, nele a crise é espetacular.
Mas, do ponto de vista da filosofia da história, nenhum império, nenhuma civilização, uma vez ameaçada, recua. Ao contrário, citando apenas o caso de Roma, ou do III Reich, ou do socialismo stalinista, os impérios seguem em frente, até desmoronar. Mas o que desmorona agora não é apenas um império, mas um modo de civilização, tido como o ápice da evolução social humana, particularmente nos 10 últimos mil anos. Portanto, sem pressa, o processo avança. Há espasmos de tranqüilidade, mas apenas até a próxima crise chegar.
Qual será o futuro humano? Não será o do bom senso. Nesses momentos impera a lógica do espólio, da vitória dos poderosos, sobre as cinzas dos derrotados. Os impasses civilizacionais se colocarão cada dia mais sem retorno, como a crise da água, dos solos, da biodiversidade, da energia, portanto da fome, da sede, das guerras pelo controle dos bens naturais que restarem. Talvez ainda tenhamos saudades da democracia burguesa, diante dos destroços do direito e das ditaduras cada vez mais violentas do mercado. Porém, lembrando Darwin mais uma vez, “não são os mais poderosos que sobrevivem, mas os que melhor se adaptam”.
Mas, o ser humano que emergir à frente, não será nem melhor e nem pior que o ser humano de hoje e de ontem. Será o velho ser humano, na sua grandeza e na sua miséria, incapaz de aprender com sua própria história.
Se ao menos os OVNIS que tem aparecido nos céus da China, de Jerusalém, da Noruega, fossem mesmo de extraterrestres, ainda teríamos uma esperança. Sairíamos dessa civilização provinciana e planetária, para enxergarmos nossa insignificância numa civilização universal.
Roberto Malvezzi (Gogó), articulista do EcoDebate, é membro da Equipe Terra, Água e Meio Ambiente do CELAM (Conselho Episcopal Latino-Americano) e assessor da Comissão Pastoral da Terra – CPT.
EcoDebate, 18/10/2011
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