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Ecossocialismo: alternativa para a atual crise socioambiental, artigo de Leonardo Trindade

 

[EcoDebate] Vivemos uma profunda crise socioambiental sem precedentes na história do homem neste humilde planeta azul, a qual ameaça a perpetuidade das mais diversas formas de vida. É uma crise que se manifesta a partir de uma mesma força estrutural – a expansão do sistema capitalista global.

Neste sistema, profundamente injusto, permite-se a apropriação privada do homem e da natureza e sua exploração, gerando lucros (e quanto mais, melhor!) para seus “donos”, enquanto o restante da sociedade e dos demais seres ficam com o ônus. O capitalismo já se perpetua por duzentos anos, e ao meu ver (e tantos outros também) ainda é principal empecilho ao pleno desenvolvimento do indivíduo e da sociedade humana.

No entanto, questioná-lo ainda é considerado um ato de idealistas e revolucionários. E acho que é mesmo, pois só mesmo com um ideal revolucionário para romper com o capital e seus artifícios de perpetuação. O pior deles, acredito ser a nova moda do capitalismo disfarçado de dócil ovelha, que se propaga aos quatro ventos, armadilha que dever ser evitada sobremaneira.

Ouvimos dos meios acadêmicos e dos próprios movimentos sociais e ambientalistas, reverberado pela grande mídia, a idéia da responsabilidade individual pela preservação e contra a degradação ambiental, numa tentativa de esconder seu conteúdo de classe. Essa concepção, própria do ecocapitalismo, parte da lógica que a solução dos problemas socioambientais somente seria possível através do avanço tecnológico e do controle do comportamento individual ecologicamente correto, de forma a nos iludir, fazendo-nos acreditar que vivemos no melhor dos mundos, pois agora o capital despertou para estas questões.

No entanto, enquanto perdurar a apropriação privada do trabalho e da natureza, enquanto as decisões relativas a produção forem tomadas visando o lucro privado e não pelas necessidades coletivas, enfim, enquanto o capitalismo dominar o planeta, este continuará em risco. O sistema capitalista não pode regular, muito menos superar, essa crise que deflagrou, pois fazê-lo implica em colocar limites ao processo de acumulação, no caso, uma opção inaceitável.

Mas, se o capital deve ser superado, e a solução não está contida dentro do próprio sistema, qual seria a solução? Acredito firmemente ques esta perpassa necessariamente pela corrente socialista, uma vez que se empregue o termo como a passagem a uma sociedade pós-capitalista. Mas não basta aquele socialismo de primeira época. Faz-se necessário um ecossocialismo, que redefina a trajetória e o objetivo da produção socialista em um contexto ecológico. De forma mais específica, uma produção socialista que relacione e respeite intimamente os limites ao crescimento, essencial para a sustentabilidade da sociedade, nos moldes da economia ecológica. E além disso, sem impor escassez, sofrimento ou repressão à sociedade. O objetivo é a transformação das necessidades, uma profunda mudança de dimensão qualitativa, substituindo os atuais valores dominantes (crescimento econômico linear, egoísmo, competitividade, consumismo) por valores orientados para a harmonia social e para a solidariedade, no respeito pela natureza e seu caráter cíclico, tão intrínseco a vida.

O ecossocialismo entende que uma sociedade formada por produtores livremente associados não finda o processo de democratização. Deve-se buscar a liberdade de todos os seres humanos de forma harmoniosa com a natureza, como objetivo e fundamento.

No próprio manifesto desse movimento, que serviu em grande parte para a elaboração deste texto, é expressa a consciência do quão remoto são estes objetivos em relação à atual configuração do mundo, tanto no que se refere ao que está baseado nas instituições quanto no que está registrado nas consciências. E por mais utópico que possa ser o ecossocialismo, não quer dizer que não se deve empreender a luta por reformas imediatas, concretas e viáveis na nossa sociedade. Reformas que além de resultados imediatos, sejam passos na direção certa, de outra sociedade, possível e realmente sustentável. Parafraseando Tim Jackson: os dias de gastar dinheiro que não temos em coisas das quais não precisamos para impressionar as pessoas com as quais não nos importamos… tem que chegar ao fim (esse final é meu).

Artigo enviado pelo autor e originalmente publicado no blogue Na Beirada

Fonte: Caderno ecossocialismo 1. Disponível em: http://www.ecodebate.com.br/pdf/ecossocialismo.pdf

EcoDebate, 14/10/2011

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Alexa

One thought on “Ecossocialismo: alternativa para a atual crise socioambiental, artigo de Leonardo Trindade

  • Evandro Barcellos Paixão

    Prezado Leonardo,

    Apesar de concordar com voce em muitos aspectos, creio que algumas afirmações feitas compromete muito a validade da ideologia apresentada por voce.
    Cordialmente, reafirmo sua crítica ao que chama-se ecocapitalismo… tudo virou “eco” todos os produtos vendáveis virou “eco”. O meio ambiete virou uma maré vermelha num céu cinzento e tenebroso, e o sol virou uma Logomarca radiante e “certificada”. Concordo, plenamente que o marquete ambiental, entre outros de cunho social, tem sido usado somente com fins de lucro.
    Contudo, quando voce se refere ao desenvolvimento tecnologico, e do comportamento individual frente as questões e soluções ambientais, voce se torna momentaneamente restrito em seu pensamento.
    Veja bem, por mais que o homem seja um ser social, a sua liberdade gira em torno de um ego existencial, que por hora pensa e haje coletivamente, mas que idependentemente toma decisões individuais por situações adversar.
    Veja também, que o ser humano é fruto de sua cultura que se retroalimenta em sua sociedade, por tanto, de maneira educativa e exemplar deve-se divulgar meios de re-culturação, e a partir daí construir o tal compaortamento ecologicamente correto.
    Volto a concordar que essa reconstrução cultural está longe de acontecer, visto que os aparelhos de LCD estão em todos os acentos, e que o futebol possui idolos em seu plano principal. E também a falta de conceitos reais sobre diálogo e aprendizado estão acabando.
    No que diz respeito ao desenvolvimento tecnologico, precisa-se criar o filtro que impede sua depreciação imediata. E ainda uma ferramenta que cria e inova as tecnologias em prol de necessidades reais. Mais aí caimos no assunto democracia utópica e distribuição e revalorização dos meios de produção.
    Grande abraço

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