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Para pesquisador, resposta das mudanças climáticas está nas geleiras da Groenlândia

 

Esqueçam os cálculos matemáticos, as previsões catastróficas e os 2 graus Celsius a mais na temperatura média que, segundo climatologistas, seriam o limite entre um ambiente sob controle e o caos. Para Jorgen Peder Steffensen, do Centro de Gelo e Clima, da Universidade de Copenhague, a resposta para todas as incógnitas do aquecimento está no gelo. E são blocos de gelo, trazidos do norte da Groenlândia para seus laboratórios, que Steffensen estuda há 31 anos. Analisando peças de mais de dezenas de séculos — e sem usar casaco, num armazém onde a temperatura desaba para -26º C — o cientista assegura ter chegado ao ano exato em que terminou a última Idade do Gelo. Em entrevista ao GLOBO, ele afirma que as geleiras, onde sedimentos se acumulam com o passar do tempo, são o único arquivo de como era nosso planeta antes da industrialização. Reportagem de Renato Grandelle, em Extra Online.

A IDADE DO GELO: “Nós conseguimos determinar o fim desta era em um ano em particular. Houve uma grande mudança na quantidade de gelo de um ano para o outro, e isso ocorreu há 11.714 anos — talvez um pouco antes ou depois. Nossa coleção de gelo nos permite conhecer eventos ambientais de até 16 mil anos.”

VANTAGEM DA GROENLÂNDIA: “A cobertura de gelo da Groenlândia e a da Antártica são as mais limpas do mundo; nova neve acumula a cada ano, sem a perda da antiga. Ali vemos cinzas de incêndios florestais, sal do mar, ácido de erupções. E outra motivação é que sabemos que o mundo está mudando, mas ninguém lembra como ela era antes da industrialização. E as geleiras contam essa história. Esse dado é chave para qualquer coisa que pode ser feita pelos tomadores de decisão e pela classe política mundial.”

FUTURO CAÓTICO: “A Idade do Gelo comportou-se de uma mesma forma mais parecida com a da economia mundial do que a de um experimento físico. Ela é caótica. O que vemos são mudanças climáticas muito bruscas. Isso é muito chocante, porque muitos modelos climáticos empregados hoje pela comunidade científica funcionam de uma forma que, pondo gases-estufa e considerando o crescimento da população, o aquecimento será gradual. Mas o sistema climático parece ser muito mais complexo. Dessa forma, ele não pode ser mais confiável do que um economista. E, cinco anos atrás, nenhum deles previu a crise atual.”

GASES-ESTUFA: “O aumento atual da emissão de gases-estufa não tem procedente. Sabemos que vai aquecer. Mas não como isso vai afetar os padrões do tempo, da chuva. Não dá para trabalhar com o aumento de 2 graus Celsius porque esse não é um número que ocorrerá igualmente. No Brasil, pode ser de menos de 1 grau; no Polo Norte, entre 5 ou 6. Usam este índice porque foi ele o registrado entre as duas últimas idades do gelo. Quando ele aconteceu, o mar ficou 5 metros mais alto.”

MUNDO NAS GELEIRAS: “Comparamos informações das geleiras da Groenlândia com sedimentos de lagos europeus e de Bogotá; com cavernas da China e corais das Bahamas. E todos registraram os mesmos eventos, na mesma época e ordem. Em certas localidades, como no alto platô do Quênia, a temperatura, 25 milhões de anos atrás, era só 2 graus mais baixa, enquanto na Groenlândia ela era 26 graus abaixo. Era a Idade do Gelo: nos trópicos, manifestava-se pela ausência de gelo; nas latitudes mais altas, pela temperatura baixa. Com mais calor, vai chover ainda mais nos locais onde a torneira já está aberta. Entre eles, o Brasil.”

(*) O repórter viajou a convite do Centro de Geogenética da Universidade de Copenhague (http://geogenetics.ku.dk/)

EcoDebate, 30/09/2011

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