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Semana que vem não se fala mais nisso, artigo de Américo Canhoto

 

[EcoDebate] Claro que durante alguns dias a mídia dos programas da tarde vai explorar um pouquinho o assunto trazendo especialistas para debater abobrinhas teóricas sobre educação e comportamento; além de dar opiniões vagas e descompromissadas.

Neste mundo a gente se acostuma com tudo – notícia como a da morte do garoto Davi Mota Nogueira de 10 anos, ocorrida na Escola municipal Alcina Dantas Feijão de São Caetano do Sul; cidade de primeiro mundo em se tratando de qualidade de vida tupiniquim; um verdadeiro gueto de primeiro mundo encravado numa região de terceiro prá baixo. A tentativa de assassinato praticada por um “bom” garoto de dez anos de idade (segundo a escola), seguida de suicídio vai apenas ser rotulada de um acidente, uma fatalidade inexplicável.

Mas não é – conforme já colocamos exaustivamente ao longo dos anos vem mais por aí.

O que pode intrigar é que tenha ocorrido numa escola top municipal considerada de primeiro mundo 22 alunos por sala – que maravilha; (se fosse da rede estadual vá lá: 50 ou 70 alunos por sala e professor de educação física dando aula de ciências, física, inglês, etc.) se comparada com a maioria do país.

Como explicar? Aparentemente a caixa preta sumiu; pois estava guardada na mente da alma que praticou isso.

Há como resgatar a verdade para que o piloto não leve só o ônus do acidente?

Ainda não é o momento; mas breve a comunicação mediúnica vai abrir muitas caixa pretas das atitudes humanas rotuladas de desastres.

Até lá vamos brincar de pensar: Atualmente repetem-se diariamente as notícias sobre evasão escolar; causada pelo cansaço, pelo estresse e pela doença; aumenta a cada dia a violência nas escolas e a delinqüência juvenil; nunca houve tanto consumo de drogas, bebidas alcoólicas, fumo, gravidez e aborto na adolescência; também se tornou corriqueira a luta entre gangues rivais; e já é comum a depressão, o pânico e o suicídio de crianças e adolescentes. E, em todos os lugares e momentos; pais e professores reclamam que perderam o controle. “Que não podem mais com a vida deles”… Será possível que nessa safra de pessoas que estão nascendo nos dias de hoje estejam concentrados os piores, a ralé da evolução, para serem sentenciados e sofrerem a corrigenda necessária?

Claro que não!

A evolução das pessoas não pode ser contestada; até na forma física cada geração apresenta-se mais bonita que as gerações anteriores, ressaltando-se as naturais características de cada um, de acordo com suas necessidades e provas evolutivas; e avaliando-se uns pelos outros, são mais inteligentes e mais éticos, também.

Um fator de desequilíbrio para a saúde física, mental e emocional das crianças e jovens, é que hoje as mudanças são muito rápidas e as gerações anteriores não são capazes de acompanhar o alucinante ritmo de transformações; pela preguiça de pensar e imaturidade muitos estão defasados vivendo no antigamente, em momentos que já se foram. E o que é pior: tornaram-se incapazes de selecionar o que é importante do que é supérfulo na vida de um ser humano. Angustiam-se, deprimem-se, amedrontam-se e ensinam as crianças a reagir dessa inadequada maneira. É comum que crianças angustiadas, depressivas, em pânico tenham em casa bons professores nessas matérias (e até armas á disposição)…

Pais e filhos se entendem cada vez menos e ninguém tem tempo para ninguém. O que gera as crises de relacionamentos e o abismo entre gerações? Ficam no ar as perguntas: O que seria ideal fazer? E o que pode ser feito para resolver ou atenuar esse problema?

A cada ano mais e mais pessoas são atendidas pelos serviços de saúde e a cada dia a indústria de medicamentos bate recordes de produção e de vendas, esse fato, longe de ser um indicativo de melhor qualidade de vida, indica que a sociedade está cada vez mais doentia. Parece um paradoxo, mas, curiosamente, também as crianças e adolescentes de hoje adoecem mais que antigamente. Se isso fosse dito ontem soaria estranho e o autor dessa afirmativa seria rotulado de louco ou de pessimista. Pois, muitas pessoas dirão que é inegável que as “condições de vida” melhoram a cada dia e que os avanços da tecnologia voltada para a saúde são fantásticos com relação a ontem, isso, também é uma verdade. Mas, vamos além: E, se alguém afirmasse que, no rumo que as coisas caminham, as crianças de amanhã adoecerão tanto no campo físico quanto no mental/emocional ainda mais que as de hoje (psicopatas). Essa afirmação parece ser um contra-senso maior ainda, mas não é. Expliquemos: sem dúvida que melhoraram as “condições de vida”, mas de “vida/vegetativa” ou o lado orgânico da vida. Porém, o ser humano não se constitui só de material orgânico, não é só um amontoado de células regido por leis de casualidade. É muito mais que isso… É nesse ponto que nós, as pessoas comuns, temos que parar para pensar e refletir: Quem somos nós e o que fazemos aqui?

Se as condições de vida orgânica melhoraram; por outro lado, por enquanto, piora a cada instante as “condições de vida psico/emocional e ética das pessoas” já que a maioria se encontra desadaptada a este momento.

Outro fator que também colabora para piorar a condição de vida psíquica e emocional das crianças de hoje é a visão de mundo que lhes é ensinada pelos adultos; muito voltada para o imediatismo do levar vantagem em tudo, que gera a falta de tempo e de condições para se adaptar ao estresse, a praga do mundo moderno, que deteriora a qualidade de vida de muitos. Além do exemplo negativo da sociedade.

Não podemos fugir do que está ocorrendo, já que todos com certeza somos filhos e alguns de nós somos pais ou somos mães. Todos nos deparamos um dia ou a cada dia com situações que apontam erros no trato com a educação das crianças. E, ás vezes, num descuido, até nos culpamos com auto-acusações. Ah! Se eu soubesse, não teria…, ou nos acomodamos com desculpas até sem nexo; o pior é quando incriminamos os que nos antecederam como nossos pais e educadores. Descuidados, não nos passa pela cabeça que todos, sem exceção, somos ao mesmo tempo nesta escola: educandos e educadores. Podemos aprender até com os exemplos inadequados quando temos vontade.

O que é ser um bom pai, o que é ser uma boa mãe?

Quais as qualidades de um bom pai? E de uma boa mãe? E, o que é ser um bom filho?

Quantos de nós que hoje nos achamos bons pais e mães e até bons educadores constataremos, dia menos dia, nossa incapacidade ou nossa falta de qualidade para essa tarefa. Quando pensamos estar ajudando, atrapalhamos; quando imaginamos evitar sofrimento, criamos o sofrer futuro… Exemplo: pais que fazem trabalhos ou a tarefa de casa dos filhos, isso se constitui num grave crime evolutivo, pois, jamais, alguém pode fazer a tarefa do outro, isso é impedir seu aprendizado, retardar sua evolução tornar o futuro mais complicado e sofrido. Quanto mais facilidades nós oferecemos neste momento; mais dificuldades nós criamos para eles no futuro próximo ou distante.

A política é a arte da vida.

Viver é estar permanentemente se educando.

A vida em si, é um fato educativo.

A principal tarefa dos pais com relação aos filhos é com certeza ajudar ativa e efetivamente a educá-los para a vida.

O problema maior é que a maioria dos pais ainda é analfabeta funcional; no aprender com a vida e até na condução dos destinos da nação; como a maioria de nossos políticos (Universidade da Política Já!).

Preguiçosos desistem de aprender e de ensinar.

Daí; terceirizaram os filhos, atiraram todas as responsabilidades formativas no ombro dos professores das escolas, cuja função principal é a de informar – quando na vida política pagam para que outros façam projetos de Lei para serem votados. E, isso, parece ser muito grave, e é, mas nem tanto, já que para a natureza esse tipo de atitude não tem importância, pois para ela não existe o conceito tempo; então, nunca é cedo e nem tarde para aprender. Fácil ou difícil, cedo ou tarde, prazeroso ou sofrido, são conceitos de interpretação humana, modificáveis quando se queira… Quem vai colher os frutos dessa terceirização são eles mesmos e seus eleitores.

Sem dúvida, com o fim de semana chegando; todas as dificuldades pessoais e coletivas de ontem e de hoje que tem origem na falta de educação para a vida acabarão na mesa de um bar, no morcegar, na praia, no churrasquinho do fim de semana.

Epitáfio.
Aqui jaz.
DAVI MOTA NOGUEIRA
Mais uma morte sem sentido e inútil, que não foi capaz de colocar a pensar uma sociedade preguiçosa e estúpida.

Namastê.

Américo Canhoto: Clínico Geral, médico de famílias há 30 anos. Pesquisador de saúde holística. Usa a Homeopatia e os florais de Bach. Escritor de assuntos temáticos: saúde – educação – espiritualidade. Palestrante e condutor de workshops. Coordenador do grupo ecumênico “Mãos estendidas” de SBC. Projeto voltado para o atendimento de pessoas vítimas do estresse crônico portadoras de ansiedade e medo que conduz a: depressão, angústia crônica e pânico

EcoDebate, 26/09/2011

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One thought on “Semana que vem não se fala mais nisso, artigo de Américo Canhoto

  • Debora Wanderley

    O que pode levar uma criança de 10 anos á uma ato tão extremo.

    No dia que apareceu uma filmagem da escola tinha uma espécie de grafite na parede “os filhos choram e os pais não vê”. Esta frase deixou-me a pensar…sentimento de extrema solidão, numa situação de total impossibilidade de enfrentamento.

    Muitas crianças e jovens indígenas no Brasil estão também sendo levados a atos extremos como o suicídio.
    Existe algo muito grave acontecendo em nossa sociedade.

Fechado para comentários.