Agricultores interrompem tráfego de mineradoras no sul do Pará em protesto contra nuvem de poeira
Uma centena de agricultores ocupou ontem (22) a vicinal que liga os municípios de Floresta do Araguaia e Rio Maria à BR-155, conhecida como Estrada da Mineração, no Pará. O movimento é um protesto por causa do fluxo intenso de caminhões que transportam minério, levando poeira à Colônia Marajuara, ocupação não formalizada de 80 famílias às margens da estrada não asfaltada.
Os trabalhadores rurais chegaram bem cedo à estrada, às 5h30. Eles alegam que a nuvem de poeira provoca problemas respiratórios em adultos e crianças e ainda afeta a lavoura e o pasto. Segundo os agricultores, a poeira provocou a mudança da acidez do leite produzido na colônia, no trecho conhecido como Babaçu-Mamão. Eles se queixam também da falta de segurança no local e da ausência de sinalização.
Com a paralisação, os agricultores querem forçar um acordo com as empresas Mineração Floresta do Araguaia S/A (ligada à Sidepar) e Reinarda Mineração Ltda (ligada à australiana Troy Resources NL) para que a estrada seja asfaltada, com lombadas, e que haja fiscalização policial e sinalização. A companhia australiana explora ouro na região e a empresa brasileira extrai minério de ferro em outra mina, chamada Big Mac. De acordo com o promotor de Justiça Ney Tapajós, do Ministério Público do Estado do Pará, o problema maior é causado pelo escoamento do minério de ferro feito em grandes caminhões, do tipo bitrem.
De acordo com a assessora da Comissão Pastoral da Terra, Ana de Souza, os agricultores ainda se queixam do “barulho infernal” causado pela circulação dos caminhões durante toda a noite. Segundo ele, os caminhoneiros ganham por viagem, por isso o fluxo não tem interrupção e a velocidade é alta. Ela relata ainda que os agricultores encaminharam, há quatro anos, um abaixo-assinado ao Ministério Público pedindo modificações na estrada vicinal.
Ney Tapajós anunciou que, na primeira semana de outubro, vai entrar com uma ação civil contra a Secretaria Estadual de Meio Ambiente (Sema) a quem solicitou, há dois anos, estudo sobre o local e informações sobre as exigências do licenciamento ambiental que autoriza o funcionamento das minas. A Sema informou à Agência Brasil que prestou informações ao promotor, mas admite fornecer novos esclarecimentos.
O diretor da Sidepar, Rogério Gontijo Valadares, disse à ABr que as mineradoras se dispõem a fazer novas lombadas na estrada, aumentar a sinalização do trecho, fiscalizar a velocidade dos caminhões, furar poços artesianos próximos à rodovia para abastecer os caminhões-pipa que irrigam a pista e manter um trator do tipo patrola no local. A empresa alega, no entanto, que é “financeiramente é impossível” asfaltar o percurso.
Valadares estima que a mina deve continuar em funcionamento por mais cinco anos e enfatiza que a estrada é usada também por pecuaristas e por produtores de abacaxi e que o asfaltamento não foi exigido no licenciamento. A ABr também tentou entrar em contato com a secretária de Meio Ambiente do Pará, Teresa Lusia Rosa e com o secretário municipal de Meio Ambiente e Agricultura de Rio Maria, Eurípedes Bessa, mas não obteve resposta.
Reportagem de Gilberto Costa, da Agência Brasil, publicada pelo EcoDebate, 23/09/2011
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