Silêncio sobre a homossexualidade nas escolas leva ao bullying, segundo críticos
Este distrito escolar suburbano em expansão, cuja maior parte está localizada no distrito da congressista Michele Bachmann, atraiu a atenção de uma das guerras culturais mais acirradas do país – sobre como a homossexualidade deve ser discutida nas escolas. Reportagem de Erik Eckholm, em Anoka, Minnesota (EUA), para The New York Times.
Depois de anos de um conflito duro entre os defensores de alunos homossexuais e os cristãos conservadores, a questão já é altamente polêmica aqui. Então, em julho, seis alunos entraram com um processo alegando que funcionários da escola não impediram o bullying incansável contra os homossexuais e que uma política do distrito que exigia que os professores permanecessem “neutros” nas questões de orientação sexual havia alimentado um silêncio opressivo e um estigma corrosivo.
Também neste verão, pais e alunos aqui aprenderam que o Departamento de Justiça federal estava envolvido profundamente numa investigação de direitos civis por conta de queixas de assédio contra um aluno gay do distrito. A investigação ainda está em andamento.
Enquanto isso, grupos cristãos conservadores pediram que as escolas evitassem quaisquer descrições da homossexualidade ou do casamento do mesmo sexo como algo normal, alertando contra qualquer capitulação ao que eles chamam de “plano homossexual” para recrutar jovens para um “estilo de vida anormal e pouco saudável.”
Acrescentando um elemento incendiário a mais, o distrito escolar sofreu oito suicídios estudantis nos últimos dois anos, fazendo com que funcionários do estado declarassem um “contágio suicida”. Se o bullying homofóbico contribuiu para alguma dessas mortes é algo muito questionado; alguns amigos e professores dizem que quatro dos alunos estavam sofrendo por conta da identidade sexual.
Em muitas cidades maiores, aulas de tolerância à diversidade sexual agora fazem parte da rotina da educação para saúde e treinamento anti-bullying. Mas nos subúrbios a batalha continua, talvez agora mais amarga do que aqui no Distrito Escolar Anoka-Hennepin, ao norte de Minneapolis. Com 38 mil alunos, é o maior sistema escolar de Minnesota.
Bachmann não falou sobre os suicídios ou sobre o debate acirrado sobre política escolar e não respondeu aos pedidos de entrevista da reportagem. Ela já expressou ceticismo no passado sobre programas anti-bullying e é aliada do Conselho Familiar de Minnesota, um grupo cristão que se opôs veementemente contra qualquer retrato positivo da homossexualidade nas escolas.
Funcionários da escola dizem que estão presos no meio, enquanto defensores dos direitos dos homossexuais dizem que não há um meio termo nas questões de direitos humanos básicos.
“Acho que os adultos estão muito mais interessados em nos transformar num campo de batalha do que os alunos”, disse Dennis Carlson, superintendente das escolas. “Temos pessoas na esquerda e na direita, e estamos tentando encontrar um terreno comum nesses assuntos.”
“Manter as crianças em segurança é uma preocupação comum”, diz ele, apontando para as iniciativas do distrito para combater o bullying e as novas iniciativas anti-suicídio.
Crianças gays, e alguns pais e apoiadores, dizem que essas iniciativas foram enfraquecidas pelo que chamam de “silenciamento” da discussão sobre diversidade sexual no distrito – uma política, adotada em 2009 em meio a um acalorado debate público, segundo a qual “ensinar sobre orientação sexual não faz parte do currículo adotado pelo distrito” e que os funcionários “deveriam permanecer neutros em questões relativas à orientação sexual.”
O processo foi aberto em julho em prol de seis alunos e ex-alunos, pelo Southern Poverty Law Center e pelo Centro Nacional pelos Direitos das Lésbicas, quando testemunharam ou ouviram relatos de atitudes homofóbicas, tendendo a “ignorar, minimizar, descartar, ou em alguns casos, culpar a vítima pelo comportamento abusivo dos outros alunos.”
Um dos réus, Kyle Rooker, 14, não declarou sua orientação sexual mas foi percebido como gay por um colega de classe, diz ele, em parte porque ele gosta de usar cachecóis brilhantes e cantar músicas de Lady Gaga. No ensino médio ele era chamado por apelidos quase diariamente e uma vez urinaram nele por cima da parede enquanto ele usava o banheiro.
“Adoro atenção, mas esse é o tipo de drama com o qual eu simplesmente não consigo lidar”, disse Kyle, acrescentando que quando ele foi ameaçado no vestiário, funcionários da escola fizeram ele se trocar no escritório do assistente do diretor em vez de impedir o bullying.
A demanda do distrito por neutralidade sobre a homossexualidade, diz o processo, é inerentemente estigmatizante, inibiu os professores de responder mais agressivamente ao bullying e os impediu de combater estereótipos destrutivos.
“Esta política envia claramente uma mensagem para os alunos LGBT de que há algo de vergonhoso no jeito deles e que eles não são pessoas válidas na história”, disse Jefferson Fietek, professor de teatro na Anoka Middle School for the Arts, usando a abreviação para lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros.
Fietek, conselheiro de uma Aliança Gay-Hétero recentemente formada na escola, disse que conhece vários alunos gays e lésbicas que tentaram ou consideraram seriamente o suicídio.
Colleen Cashen, psicóloga e conselheira da Northdale Middle School, disse que ao excluir a homossexualidade, a política criou “um clima de vergonha”, e que interpretações contraditórias da administração deixaram os professores com medo de testar os limites, vendo a homossexualidade e a história dos direitos gays como temas tabu. “Acredito que a política está criando um ambiente tóxico para os alunos”, diz ela.
Carlson, o superintendente, concordou que o bullying persiste, mas negou fortemente que o ambiente escolar é em geral hostil. Ele disse que receberá bem iniciativas que possam resultar das negociações sobre o processo ou com os investigadores federais. “Nós queremos que todos os alunos se sintam acolhidos e seguros”, disse ele.
Mas pais conservadores organizaram-se para fazer lobby contra mudanças. “Dizer que você deveria aceitar duas mães como sendo uma família normal – isso seria defender direitos”, disse Tom Prichard, presidente do Conselho Familiar de Minnesota. “Não deveria haver tolerância ao bullying, mas esses grupos estão usando o tema para tentar fazer avançar uma agenda social.”
Um grupo de pais do distrito que são aliados próximos do conselho familiar recusaram os pedidos de entrevista. Seu site diz que a depressão entre os adolescentes gays costuma ser culpa dos defensores dos direitos homossexuais que geram a falta de esperança: “quando uma criança foi deliberadamente mal informada sobre as causas da homossexualidade e dizem a ela que os atos homossexuais são normais e naturais, toda esperança de recuperação é retirada dela.”
Tradução: Eloise De Vylder
Reportagem [In Suburb, Battle Goes Public on Bullying of Gay Students] do New York Times, no UOL Notícias.
EcoDebate, 21/09/2011
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