O futuro da população mundial: a diferença que meio filho faz! artigo de José Eustáquio Diniz Alves
[EcoDebate] A divisão de população das Nações Unidas (ONU) apresenta 3 cenários para a população mundial em 2100. No cenário mais provável, de fecundidade média, a população chegaria a 10,1 bilhões de habitantes em 2100, no cenário de fecundidade alta a população chegaria a 15,8 bilhões e na hipótese de fecundidade baixa, chegaria a 6,2 bilhões.
Portanto, a população mundial pode variar de 6,2 bilhões a 15,8 bilhões de habitantes no final do século XXI, dependendo do número médio de filhos por mulher. Pode parecer que esta grande diferença populacional ocorra devido a enormes variações nas taxas de fecundidade. Mas a diferença média nas taxas de fecundidade projetadas, nos 3 cenários, é de apenas 0,5 (meio filho) por mulher, acima e abaixo da taxa média.
No quinquênio 2005-10 a taxa de fecundidade total, na média mundial, era de 2,52 filhos por mulher. Se ela continuar em torno deste nível, a população mundial chegaria a 15,8 bilhões de habitantes em 2100. Se a Taxa de Fecundidade Total (TFT) cair gradualmente em apenas meio filho por mulher (para uma TFT de cerca de 2,05 filhos em 2100) então a população chegaria a 10,1 bilhões de habitantes em 2100 ( a taxa de reposição é de 2,1 filhos por mulher). Se a fecundidade cair mais meio filho abaixo da projeção média (para 1,55 filhos por mulher) então a população mundial ficaria em 6,2 bilhões de habitantes, aproximadamente a mesma população do ano 2000. Nesta hipótese, de fecundidade mais baixa, o crescimento populacional seria zero no século XXI.
Estes três cenários mostram que o montante da população mundial em 2100 pode ficar entre um leque de 6,2 bilhões e 15,8 bilhões de habitantes. Tudo vai depender do comportamento das taxas de fecundidade. Uma pequena variação de meio filho por mulher pode fazer o montante da população mundial no final do século XXI ficar abaixo dos atuais 7 bilhões de habitantes de 2011, ou mais do dobro deste número.
Os dados acima sugerem que não existe nenhum determinismo populacional e nem a “demografia é destino”. As taxas de fecundidade no mundo estavam em torno de 5 filhos por mulher, em 1960 e caíram pela metade em 2010, ou seja, de 5 para 2,5 filhos. Basta reduzir mais meio filho (0,5) para que a população mundial se estabilize em torno de 10 bilhões de habitantes em 2100.
Atualmente já existem muitos países com fecundidade em torno de 1,5 filhos por mulher, tais como China, Cuba, Grécia, Rússia, Suíça, Tailândia, etc. Também existem diversos países com fecundidade abaixo de 1,5 filhos por mulher, tais como Cingapura, Coréia do Sul, Espanha, Itália, Japão, Portugal, Taiwan, etc. Todos estes exemplos comprovam que uma grande parte da população mundial já vivencia uma fecundidade bem abaixo do nível de reposição.
Porém, no extremo oposto existem diversos países que possuem taxas de fecundidade acima de 5 filhos por mulher, tais como: Afeganistão, Angola, Congo, Etiópia, Moçambique, Nigéria, Somália, Tanzânia, etc. Se a fecundidade dos países que estão atrasados na transição demográfica cair para algo em torno de 2 ou 2,5 filhos por mulher, provavelmente a fecundidade média mundial vai ficar abaixo do nível de reposição. Se isto se confirmar nas próximas décadas, então a população mundial ficará abaixo de 10 bilhões de habitantes em 2100.
Desta forma, o futuro da população mundial depende fundamentalmente do comportamento da fecundidade de um conjunto de cerca de 30 países que possuem altos níveis de fecundidade atualmente. A literatura demográfica mostra que a fecundidade muito alta prevalece naquelas nações em que a população não têm acesso aos direitos de cidadania e os serviços de saúde sexual e reprodutiva estão longe de serem universais. Neste sub-conjunto de países é alto o percentual de gravidez indesejada. Por isto, políticas que possam ajudar a reduzir o número médio de filhos por família, em geral, contribuem para a redução da pobreza e para criar uma janela de oportunidade no sentido de aumentar o bem-estar da população.
Em termos agregados, o continente europeu já possui fecundidade bem abaixo do nível de reposição e deve ter a sua população diminuindo nas próximas décadas. A Ásia, as Américas e a Oceania possuem atualmente fecundidade em torno de 2,1 filhos por mulher e caminham para uma fecundidade abaixo do nível de reposição nas próximas décadas.
Já o continente africano, no conjunto, possuia fecundidade em torno de 4 filhos por mulher em 2010, sendo que o norte da África e a África do Sul já possuem fecundidade abaixo de 3 filhos por mulher. As altas taxas estão concentradas na África ao sul do Saara com fecundidade acima de 5 filhos por mulher.
Alguém poderia pensar que uma queda da fecundidade na África poderia despovar o continente, o que não é verdade. De acordo com a divisão de população da ONU, o continente africano possuia, em 2010, uma população em torno de 1 (um) bilhão de habitantes. Se a fecundidade ficar em torno de 5 filhos por mulher, a África, sozinha, chegaria a 15 bilhões de habitantes em 2100. Se a fecundidade cair para algo em torno de 2,5 filhos até o final do século, a população da África chegaria a 3,5 bilhões de habitantes em 2100. E mesmo se a fecundidade da África cair para menos de 2 filhos por mulher até o final do século, a população africana chegaria a 2,4 bilhões de habitantes em 2100.
Portanto, o maior crescimento populacional no século XXI vai acontecer na África. Mas este crescimento pode ser de “apenas” 1,5 bilhão de habitantes se o número médio de mulheres for caindo progressivamente até algo em torno de 2 filhos por mulher. Como também pode ser muito maior se a fecundidade não cair rapidamente.
Assim, quando se pensa na estabilização da população mundial, apenas uma variação de meio filho (abaixo ou acima da média) na taxa de fecundidade total pode fazer uma grande diferença na população global, em 2100. Nas projeções da ONU, a população pode ficar entre 6,2 bilhões e 15,8 bilhões de habitantes, no final do século XXI. Tudo vai depender do comportamento das taxas de fecundidade e das opções reprodutivas que as famílias fizerem (e forem capazes de fazer), nas próximas décadas.
José Eustáquio Diniz Alves, colunista do EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves{at}yahoo.com.br
EcoDebate, 21/09/2011
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O problema é que os atuais 7 bilhões de habitantes da Terra já estão destruindo tudo. Portanto, é urgente que haja um decréscimo nessa população e que ela se estabilize em valores equivalentes àqueles da década de 1950, e esse é um objetivo, acredito, impossível de ser alcançado. Resumindo: não há salvação.