Denúncia: Índios Isolados da Fronteira Brasil-Peru continuam ameaçados por grupos paramilitares peruanos
Prezados(as) senhores(as) autoridades políticas federais e estaduais do Acre,
Abaixo mensagem de Andréia Martini, antropóloga professora da UFAC, assessora da ASKARJ (Associação do Povo Indígena Kaxinawá do Rio Jordão), e coletânea de textos anteriores (de Terri Aquino, José Meirelles e Altino Machado). Ela pede ajuda URGENTE, junto ao povo Huni Kuin (Kaxinawá) do Rio Jordão, município de Jordão, Acre.
A situação da invasão de milicianos peruanos no Acre está gravíssima e ainda não se tomou providências. O sertanista da FUNAI, Meirelles, e outros funcionários estão acuados na frente de contato com os isolados no Rio Envira, faz tempo, sem apoio.
Mas o mais grave está no Rio Jordão, em que os peruanos, ameaçando e acuando os índios isolados, e estes, por sua vez, ameaçando e acuando os índios “nossos” do Acre, os Huni Kuin (conhecidos como Kaxinawá), da TI Alto Rio Jordão, na última aldeia subindo o rio, a Aldeia Novo Segredo. Com medo, os Huni Kuin, na totalidade de famílias desta aldeia, estão se mudando para a aldeia mais próxima da cidade (São Joaquim, no centro de memória da ASKARJ), bem longe dali. Se chegou a este ponto, é porque é grave mesmo.
A confusão é geral, ninguém sabe informar ao certo quem são estes peruanos e o que querem, só que estão armados, violentos, tomando o territórios com acampamentos (desmatando, inclusive…) e expulsando os índios isolados, cada vez mais baixando Acre adentro. Podem ser traficantes peruanos, jagunços de madeireiras peruanas (que há muitas, na fronteira), as duas coisas juntas ou alguma terceira coisa que desconhecemos.
Os índios isolados expulsos, por sua vez, pressionam as terras dos índios “acreanos”, e estes isolados do Rio Jordão são também armados com espingardas e fuzis, previamente roubadas no Peru por eles quando foram expulsos de lá, por madeireiras e petrolíferas (legais e ilegais). Eles estão partindo pra cima da Aldeia Novo Segredo com armas mesmo.
O povo Huni Kuin tem criticado, junto a outros atores, a omissão do Governo Federal no caso, em especial na figura do Exército, bem como de autoridades estaduais. Eles dizem que se nada for resolvido rápido, eles mesmo, os índios, terão que se armar e “partir para a guerra” para defender seu território e recursos.
É realmente lamentável a ausência do Estado em nossas ricas fronteiras, como se as questões indígenas, ambientais, ecológicas, de soberania amazônica, de nada valessem. Há tempos (cerca de 07 anos atrás, se não me falha a memória) as madeireiras e petrolíferas do território peruano causam danos gigantescos à nossa sócio-biodiversidade (lembram-se das invasões na Terra Indígena Kampa do Rio Amônia, Parque Nacional Serra do Divisor e outras áreas?) e o Governo Federal ainda não conseguiu fazer gestão junto ao Governo Peruano para resolver as situações.
Agradeço a atenção, att,
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ROBERTA GRAF, Dra. em Gestão e Política Ambiental
IBAMA/Acre – Coord. Prog. Agentes Ambientais Voluntários
tels. (68) 3211-1718 / cel. 9217-3234
email: roberta.graf@gmail.com / skype: roberta.graf
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Queridos amigos e parceiros, bom dia.
Não sei se vocês sabem que há alguns dias a Terra Indígena Huni Kuin do Alto Jordão, está sendo invadida “por cima”. Trata-se de um grupo de ?? diz-se, milicianos peruanos que estão correndo com os índios sem contato vindos da TI Isolados do Alto Tarauacá e, possivelmente, FPEA do Alto Xinane (Meirelles).
Siã pediu-me que repassasse para amigos e parceiros, mesmo que rapidamente, um informe da situação para que todos tenham conhecimento desses fatos. Algumas medidas já foram tomadas, porém , já faz vários dias que não tenho mais noticias.
Parece que um grupo grande de Huni Kuin, está se organizando nas imediações do Novo Segredo. Claro que pacificamente. Estão também sugerindo que os isolados fiquem temporariamente ocupando a regiao superior do Novo Segredo, na altura de três igarapés acima à montante.
Siã mandou-me um emeio em que me explicava em detalhes, mas, o perdi (nem sei como). Num máximo resumo, os isolados já estavam muito próximos da Aldeia Novo Segredo ( a vigésima nona aldeia no Rio Jordão). Os moradores já haviam descido para a primeira aldeia São Joaquim para hospedar-se no Centro de Memória.
Poucas providencias oficiais até o momento. Mas, também estou sem novidades.
Siã estava subindo para lá nas terça passada. O rio está muito seco e creio que chegou apenas ontem.
Aqueles dias falei com Bane que estava no Alto, na comunicação no Novo Segredo que tem internet. Mas, hoje sem sinal. O tempo está feio em TRK ouvi agora no rádio.
Assim que tiver alguma noticia, reenvio para todos.
Quem tiver condições de mobilizar alguma agência, agradecemos.
Forte abraço
Profa. Dra. Andréa Martini
Formação Docente para Indígenas
Núcleo de Área em Ciências Sociais e Humanidades
Universidade Federal do Acre, Campus Floresta,
Pindorama da Espetacularidade Popular Brasileira (GP/CNPQ)
Nota do EcoDebate: sobre o mesmo tema sugerimos que leiam, ainda, a matéria “Índios Isolados da Fronteira Brasil-Peru ameaçados por grupo de peruanos armados”
EcoDebate, 15/09/2011
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Parece que vivemos em terra sem lei onde prevalece a força das armas.