Será que o peixe que você consome está contaminado? artigo de Frederico Lobo
Será que o peixe que você consome está contaminado? artigo de Frederico Lobo
Salmo salar “Salmão”
Reino: Animalia
Filo: Chordata
Classe: Actinopterygii
Ordem: Salmoniformes
Família: Salmonidae
Composição nutricional em 110g de salmão grelhado
Calorias 261,95 10%
Triptofano 0,33g
Vitamina D 411 UI
Ácidos Graxos Ômega-3 2,09g
Selênio 53,07mcg
Proteína 29,14g
Vitamina B3 11,34 mg
Vitamina B12 3,25mcg
Fosfóro 420 mg
Magnésio 138,35 mg
Vitamina B6 0,52mg
Chumbo 30mcg
Mercúrio 350mcg
Peraí, Chumbo ? Mercúrio ? Será que esses metais tóxicos (por sinal, já abordados num post aqui da liga da saúde) são constituintes naturais do Salmão? Não !
Mas assim como tais metais (e outros poluentes ambientais) podem intoxicar diversos tipos de peixes, podem também te intoxicar.
Triste a situação e infelizmente, a contaminação de peixes por tais compostos, principalmente o mercúrio não é tão rara assim. Não existem muitos estudos estratificando o grau de contaminação de peixes de água doce ou salgada, mas os poucos publicados nos deixam preocupados.
- http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/21874404
- http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/21868305
- http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/21868094
- http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/21862130
- http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/21847486
- http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/21835399
- http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/21822576
Segundo a revista Sueca Ambio, a ingestão de peixe contaminado com mercúrio é a principal via de exposição ao metal tóxico e uma ameaça para a saúde no mundo todo.
A poluição de oceanos, lagos, rios e mares deixou alguns peixes com altos níveis tóxicos de mercúrio, cuja ingestão é especialmente prejudicial para grávidas, recém-nascidos e crianças.
Como já citado no post sobre mercúrio, há décadas a ciência vem evidenciando os danos causados, inclusive pelos baixos níveis de mercúrio, no desenvolvimento e função cerebral, função renal, sistema cardiovascular. No estudo, os cientistas ressaltam que mesmo com toda problemática ligada aos efeitos do mercúrio, ainda não foi feito o suficiente para reduzir a exposição ao mínimo. Apesar da redução das emissões de mercúrio registradas nos países desenvolvidos nos últimos 30 anos, os níveis continuaram elevados por causa das emissões dos países em desenvolvimento.
O relatório, aprovado por mais de mil cientistas na Conferência Internacional sobre a Contaminação do Mercúrio, realizada no segundo semestre de 2009, em Madison (EUA), destacou que os efeitos tóxicos do mercúrio também aumentam o risco de ataques cardíacos, especialmente entre os homens adultos.
Nos Estados Unidos, a fim de reduzir a exposição ao mercúrio, o governo lançou uma campanha para alertar as mulheres grávidas para o consumo limitado de peixes, especialmente de pescado branco e mariscos, que devem ser ingeridos em quantidades inferiores a 340 gramas por semana.
Segundo a Organização Mundial de Saúde, ínfimas porções de metais tóxicos são consideradas seguras. No caso do mercúrio, o limite seria de 5 microgramas por quilo de peso por dia. Ou seja, uma mulher de 60 quilos poderia ingerir até 300 microgramas de mercúrio diariamente e, em tese, não correr nenhum risco. Mas vale notar que esse limite não foi estipulado para grávidas. Quem espera um bebê precisa mesmo redobrar os cuidados e por isso as autoridades sanitárias deixam essa alerta para gestantes.
Uma medida similar é promovida pela agência sanitária britânica, a Food Standards Agency, que aconselha as grávidas a evitar o consumo de tubarão e peixe-espada, e limitar o de atum, já que estes são os peixes com os níveis de mercúrio mais elevados.
Há dois anos, a revista SAÚDE da editora Abril, comprou diversas espécies de peixes em um dos principais centros de abastecimento do país, a Ceagesp, Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo. As amostras foram levadas ao Laboratório de controle de alimentos da Secretaria Municipal de Saúde, em São Paulo, que fez a análise dos teores de chumbo e mercúrio. E todos os pescados apresentaram resíduos deste último metal. Sim, todas as amostras apresentavam resíduos de chumbo e mercúrio.
Os especialistas alegam que não há razão para entrar em pânico. Exceto o cação, que não à toa é apelidado de lixeiro do mar, os outros estavam dentro dos limites de tolerância estipulados pelo Ministério da Saúde e pela Organização mundial de Saúde. Segundo os especialistas, pitadas desses metais, embora sejam terríveis, são até toleráveis (mas esquecem do efeito acumulativo no nosso organismo e geralmente é isso que ocorre).
Eu, como médico com prática ortomolecular, não acredito que exista níveis atóxicos para tais substâncias. Qual o ideal? Ter ou não ter mercúrio ou chumbo no organismo? Qual o mais saudável? Obviamente, não ter nenhum desses metais ditos tóxicos, mesmo sendo difícil diante de um ambiente tão contaminado.
“Poluição, ela é a grande culpada pela contaminação de pescados. “Desde os metais usados no garimpo até dejetos de grandes indústrias, muitas substâncias nocivas vão parar nos rios e acabam desaguando no mar”, conta a química Dilza Maria Bassi Mantovani. Assim, não importa se o peixe é de água doce ou salgada. O perigo mora principalmente nas águas dos arredores de fábricas de baterias, tintas, lâmpadas fluorescentes e soda cáustica. Mercúrio, chumbo e arsênio são componentes assíduos na fabricação desses produtos. “O problema é quando a indústria não tem o mínimo cuidado com o meio ambiente e deixa o veneno escoar sem dó nem piedade”
Um estudo recente ( http://www.scielo.br/pdf/rbepid/v6n2/10.pdf ) realizado pelo Instituto Evandro Chagas (Belém-PA) feito com 30 espécies de pescado, acusou que:
- 65% delas estavam contaminadas com mercúrio e acima dos teores permitidos
- Não apenas a água contém o veneno, as plantas aquáticas também, como servem de alimento para os peixes, eles acabam se entupindo de mercúrio.
“O metal se acumula em todos os tecidos do organismo, chega mesmo a atravessar a parede celular”, descreve o químico Aricelso Maia Lima Verde Filho, professor da Univ. Estadual do Rio de Janeiro. E isso vale tanto para o peixe como para o homem.
A péssima fama do mercúrio vem da década de 1960, quando correu mundo a notícia da contaminação de uma baía no Japão. Foram relatados casos de enjôo, dor de cabeça e até morte na época. Parece que o mercúrio prefere o sistema nervoso. Por isso crianças precisam ficar a léguas de distância dele. “As gestantes também devem evitá-lo, já que esse metal é capaz de atravessar a placenta”, alerta o farmacêutico Alfredo Tenuta Filho, da Universidade de São Paulo.
O chumbo, por sua vez, gosta de se alojar nos ossos. “Ele compete com o cálcio”, diz a nutricionista Késia Quintaes, doutora pela Unicamp. Em outras palavras, danifica o esqueleto.
Já o arsênio, que infelizmente apareceu em peixes do litoral paulista, segundo uma análise realizada pelo Instituto de Tecnologia de Alimentos (ITAL) , é capaz de provocar tumores e tem sido associado a danos no fígado”. http://www.scielo.br/pdf/cta/v25n2/25019.pdf
Você deve estar se perguntando, como saber se o peixe que eu comprou está contaminado. Segundo os especialistas, infelizmente é impossível ver as substâncias a olho nu, não tem cozimento que elimine metais pesados. Uma medida de segurança é tentar descobrir de que região eles vêm. Se for de locais reconhecidamente poluídos, fuja !
Qual o limite de metal tóxico para os peixes?
O peixe até pode ter uma pequena quantidade de metal tóxico, mas que fique bem claro, uma pequena quantidade. Eis as dosagens de segurança estipuladas pelo Ministério da Saúde brasileiro:
1) Mercúrio:
Peixes predadores: 1 miligrama por quilo.
Outros peixes: 0,5 miligrama por quilo.
2) Chumbo – Para todos os peixes: 2 miligramas por quilo.
3) Arsênio – Para todos os peixes: 1 miligrama por quilo.
E qual o nosso limite?
Como já dito acima, a Organização Mundial da Saúde considera como segura a ingestão de ínfimas quantidade de metais:
- Mercúrio: 5 microgramas por cada quilo do seu peso por dia (5mcg/kg/dia). Assim, uma pessoa de 60 kg pode ingerir até 300 microgramas por dia.
- Chumbo: 25 microgramas por quilo de peso por dia (25mcg/kg/dia). Ainda tendo como base os mesmos 60 quilos, são permitidos até 1,5 mil micrograma.
- Arsênio: De 0,1 a 7,20 microgramas por dia por quilo de peso (0,1 a 7,20mcg/kg/dia).
Tudo bem, os especialistas alegam que em tais quantidades estes metais não são deletérios para nossa saúde. Mas pensem de forma lógica, o indivíduo ingere hoje o peixe, amanhã algum vegetal que foi cultivado com agrotóxicos (e alguns agrotóxicos possuem mercúrio na sua composição), no outro dia ingere água com pequenas doses e por aí vai. Resultado, quanto solicitamos o mineralograma capilar, o laudo evidencia níveis altos de mercúrio. E afirmo categoricamente, a maioria da população está contaminada com metais tóxicos. De 10 mineralogramas que solicito, no mínimo 7 apresentam ou alumínio, ou chumbo ou mercúrio.
Muitas vezes o nível encontrado pode ser baixo, mas a longo prazo o mercúrio tem efeitos graves no nosso corpo, tudo isso de forma silenciosa e sem que a maioria dos médicos suspeitem. Afinal, comer salmão é “saudável”, mesmo que esse salmão seja criado em cativeiro, alimentado com ração e não apresente quase nada de ômega 3.
Abaixo a lista dos pescados analisados na pesquisa:
Linguado: Predador, ele come outros peixes. Mas, mesmo suscetível ao acúmulo de metais, sua carne não figura entre as mais contaminadas.
Mercúrio: 0,05 miligrama* – Chumbo: não detectado
*por quilo
Pescada branca: De pequeno porte, ela pode se alimentar de plantas aquáticas que acumulam metais.
Mercúrio: 0,10 miligrama* – Chumbo: não detectado
*por quilo
Cação: Esse minitubarão é da turma dos predadores e costuma ter vida longa. Pode, então, passar muito tempo acumulando metais vindos de suas vítimas. Tanto é assim que, em sua carne, foi encontrada quantidade de mercúrio bem acima do tolerado.
Mercúrio: 1,47 miligrama por quilo, quando o limite seria 1 miligrama. – Chumbo: não detectado
Atum: Mais um predador que vive em águas profundas. Se ele comer peixinhos cheios de metais e outras substâncias maléficas, acaba contaminado.
Mercúrio: 0,13 miligrama* – Chumbo: não detectado
*por quilo
Sardinha: Outra espécie “vegetariana”. Ela pode comer algas e outros vegetais que contenham metais e, desse jeito, acabar contaminada.
Mercúrio: 0,08 miligrama*Chumbo: não detectado
*por quilo
Salmão: Também da turma dos predadores que vive nas profundezas do mar. Embora se alimente de outros peixes, não consta entre os mais contaminados no estudo, mas outros estudos brasileiros evidenciaram o contrário ( http://www.agronline.com.br/artigos/niveis-mercurio-carne-peixes-como-indicadores-contaminacao-pantanal e http://www.agsolve.com.br/noticia.php?cod=1801 )
Mercúrio: 0,09 miligrama*Chumbo: não detectado
*por quilo
Abaixo, algumas dicas que dou para meus pacientes quando forem escolher peixes:
1) Optem por peixes de escamas,
2) Optem por peixes de água doce pois eles se alimentam preferencialmente de frutos e folhas,
3) Escolham peixes de ciclo de vida média curto, pois provavelmente terão ficamos menos expostos a contaminantes:
Água salgada: sardinha, salmão selvagem.
Água doce: cará, carpa, corimbatá, dourado, lambari, manjuba, piau, tilápia, tambaqui, traíra, truta.
4) Evitem peixes de vida média longa: Tubarão, Peixe espada, Cavala, Filé de atum, Arenque e Cação,
5) De nada adianta não comer peixe e consumir vegetais contaminados com mercúrio (durante a aplicação de agrotóxicos). Portanto, prefira os orgânicos,
6) Atenção para as vacinas que contém um conservante à base de metilmercúrio (thimerosal),
7) Não pensem que peixes estão contaminados apenas com metais tóxicos. Uma série de outros contaminantes ambientais (por exemplo Bisfenol e PCBs) podem estar presentes no peixes e frutos do mar que você ingere. Portanto alterne: peixe, frango, carne vermelha, carne de porco, formas fermentadas da soja (tempeh, tofu) no dia-a-dia.
8) Visitem o link: http://www.foodandwaterwatch.org/fish/seafood/guide/
Bibliografia:
- http://www.scielo.br/pdf/rbepid/v6n2/10.pdf
- http://www.agsolve.com.br/noticia.php?cod=1801
- http://www.ecologiamedica.net/2011/01/disruptores-endocrinos-remanescentes.html
- http://www.ecologiamedica.net/2011/03/pesquisadores-encontram-provas-de-que.html
- http://www.ecologiamedica.net/2011/01/peixes-e-contaminacao-por-metais.html
- http://noticias.uol.com.br/ultnot/efe/2007/03/08/ult1766u20692.jhtm
- http://www.ecodebate.com.br/2010/03/03/pesquisa-identifica-processo-de-contaminacao-de-peixes-oceanicos-por-mercurio/
- http://www.ecodebate.com.br/2010/08/11/envenenamos-o-planeta-que-agora-nos-envenena-por-henrique-cortez/
- http://www.ecodebate.com.br/2008/11/04/mercurio-e-outras-toxinas-podem-afetar-o-desenvolvimento-do-cerebro/
- http://www.agronline.com.br/artigos/niveis-mercurio-carne-peixes-como-indicadores-contaminacao-pantanal
- http://www.agsolve.com.br/noticia.php?cod=1801
- http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/21806773
- http://documents.foodandwaterwatch.org/SeafoodCard2011.pdf
Artigo enviado pelo Autor e originalmente publicado no blogue Liga da Saúde (A Liga é formada por seis profissionais da área da saúde entre eles Médicos e Nutricionistas)
EcoDebate, 14/09/2011
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Olha, excelente artigo, obrigada, Frederico. Só tenho uma ressalva: não é bom aconselhar as pessoas a comer tilápia, pq esta é um verdadeiro desastre ecológico onde quer que se encontre, para o ecossistema local, esta exótica no nosso país. Também, é bom mencionar que alguns destes peixes estão ameaçados de extinção gravemente, é o caso do (delicioso) atum. E, convenhamos, comer peixe-espada e tubarão é um verdadeiro absurdo do exagero do consumismo, não? Abs, ROBERTA GRAF, Dra. em Gestão e Política Ambiental, servidora do IBAMA/Acre