Padrão de consumo no planeta é insustentável, afirmam pesquisadores
Em audiência sobre o tema “Decrescimento: Por que e como construir”, realizada nesta segunda-feira (5) na Subcomissão Permanente de Acompanhamento da Rio+20 e do Regime Internacional sobre Mudanças Climáticas da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE), os três professores convidados condenaram o desenvolvimentismo que leva a um consumo de recursos naturais acima da capacidade do planeta, e discutiram formas de conduzir a Humanidade a um padrão de redução de crescimento. A audiência foi presidida pelo senador Cristovam Buarque (PDT-DF).
Philippe Léna, diretor do Instituto de Pesquisa para o Desenvolvimento (IRD) da França, define decrescimento como um conceito intencionalmente mais impactante que o de desenvolvimento sustentável, porém necessário diante dos dados científicos – segundo o professor, a raça humana está “à beira do abismo, pisando no acelerador”, ressaltando que nenhuma causa natural em um milhão de anos causou tanto efeito sobre a Terra. Léna mostrou preocupação com o consumo insustentável dos recursos naturais e previu que a escassez trará aumento de conflitos armados. Em sua opinião, o aumento das desigualdades e a diminuição do nível de emprego atestam que índices tradicionais de desenvolvimento como o produto interno bruto (PIB) perderam o sentido, pois “o bolo não pode nem deve crescer”.
Carlos Alberto Pereira Silva, professor da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, considerou que os dias de hoje apresentam um paradoxo de crise ecológica sem precedentes ao lado da manutenção da “ilusão” de um ideal desenvolvimentista. O professor defendeu uma ética “ecoantropocêntrica”, lembrando que as pessoas fazem parte de uma comunidade de vida mais ampla e dividem espaço com muitas espécies: para ele, faz falta um “egoísmo inteligente”, no qual o cuidado com outras espécies seja visto como defesa da própria espécie humana. Na opinião de Carlos Alberto Pereira Silva, a lógica desenvolvimentista pode estar ligada ao culto ao corpo e à violência; como alternativa, aposta na valorização dos saberes das populações indígenas e iletradas.
João Luís Homem de Carvalho, professor da Universidade de Brasília (UnB), afirma que o padrão de consumo deve ser reduzido principalmente nos países ricos. Ele destacou o papel do Clube de Roma e do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) na apresentação de estudos que respaldam a necessidade do decrescimento – uma tese que, em seu ponto de vista, deve ser dirigida principalmente às crianças. O automóvel foi considerado “irracionalidade completa” pelo professor, que correlacionou a ineficiência crescente do transporte individual ao aumento do efeito estufa; Homem de Carvalho também defendeu a construção de prédios que dependam menos de refrigeração e aquecimento, além da relocação da produção de alimentos tornando-a mais próxima dos consumidores.
Matéria de Paulo Cezar Barreto / Agência Senado, publicada pelo EcoDebate, 08/09/2011
[ O conteúdo do EcoDebate é “Copyleft”, podendo ser copiado, reproduzido e/ou distribuído, desde que seja dado crédito ao autor, ao Ecodebate e, se for o caso, à fonte primária da informação ]
Inclusão na lista de distribuição do Boletim Diário do Portal EcoDebate
Caso queira ser incluído(a) na lista de distribuição de nosso boletim diário, basta clicar no LINK e preencher o formulário de inscrição. O seu e-mail será incluído e você receberá uma mensagem solicitando que confirme a inscrição.
O EcoDebate não pratica SPAM e a exigência de confirmação do e-mail de origem visa evitar que seu e-mail seja incluído indevidamente por terceiros.
O consumo continuará insustentável ad infinitum. Por que?
Já lhes dou a resposta. O consumo não é compra que se faz para suprir necessidades. O consumo é remédio. O consumo ajuda o indivíduo pertencer a algo, a algum grupo ou a alguém. Consumo é identidade. Tem muita gente que se identifica, se situa através do conhecimento. A pessoa que com alta escolaridade é capaz de abrir mão do consumo porque consegue saber qual seu papel na sociedade. O saber liberta. O não saber escraviza. O consumo dá voz a quem não faz eco.