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‘Os desastres naturais estão aumentando’, constata o pesquisador Carlos Nobre

 

“O aumento do nível do mar devido às mudanças climáticas”, ´é uma das preocupações de Carlos Nobre, pesquisador, e hoje secretário do Ministério da Ciência e Tecnologia

Segundo ele, “o mínimo que se estima de aumento do nível do mar no século 21 é de 50 centímetros. Há cidades que estão à beira da linha costeira atual, que não será a linha costeira daqui a 100 anos”.

Eis a entrevista.

* Onde estão os maiores efeitos das mudanças climáticas no Brasil?

O evento mais notável que temos é a região metropolitana de São Paulo. A chuva se torna cada vez mais intensa lá. São dois fatores que contribuem para isso: o aquecimento global e a urbanização da cidade. Vou mostrar ao público que os desastres naturais estão aumentando e que isso está ligado, em parte, às mudanças climáticas.

* O que é esse projeto que o senhor vai apresentar?

Criamos um centro que tem a função principal de gerar e disseminar alertas de desastres naturais, na iminência de inundações e deslizamentos de encostas que poderão afetar populações de risco, como o que ocorreu em Santa Catarina ou no Rio de Janeiro. No caso do deslizamento de encostas, a ideia é de alertar as pessoas entre duas e seis horas de antecedência. Duas horas já é o suficiente se houver um sistema de defesa civil bem articulado e funcional para salvar as vidas.

* Que políticas públicas poderiam contribuir para a questão das mudanças climáticas no RS?

As mudanças climáticas são inevitáveis até certo ponto, e as dos próximos 20, 30 anos já foram determinadas pelas emissões que já fizemos. Por isso, temos de nos adaptar. As políticas públicas têm de ir na direção da adaptação a essas mudanças que já se tornaram inevitáveis. Por exemplo, uma agricultura mais resistente aos extremos climáticos, com espécies mais adaptadas a condições de seca. Temos de pensar também no fato inequívoco de que a temperatura está subindo. No Rio Grande do Sul, é muito frio atualmente para se plantar café, mas no futuro pode ser um clima adequado para esse cultivo. Além disso, o aumento da frequência de estiagens tem impacto no abastecimento de água das cidades, e as prefeituras têm de planejar seu abastecimento de água em razão às mudanças climáticas previstas.

* Que outras adaptações serão necessárias?

Outra preocupação é o aumento do nível do mar devido às mudanças climáticas. O mínimo que se estima de aumento do nível do mar no século XXI é de 50 centímetros. Há cidades que estão à beira da linha costeira atual, que não será a linha costeira daqui a 100 anos. Então nós temos de nos adaptar, avaliar o que é necessário fazer em cada cidade, em cada atividade costeira. Desastres naturais estão ficando mais intensos, e serão intensificados ainda mais no futuro, como, por exemplo, as estiagens e as chuvas intensas no Rio Grande do Sul. Devemos evitar que as pessoas ocupem áreas de risco extremo, planícies de inundação de rios, áreas costeiras muito próximas ao nível de mar. É necessário investir e promover a educação ambiental.

* O inverno no RS foi marcado por três precipitações de neve, o que não ocorria há 17 anos. Isso pode estar associado às mudanças climáticas?

Pode. Um evento individual não se pode atribuir ao aquecimento global. Em relação a ter nevado três vezes, as pessoas podem erroneamente pensar que isso não pode estar ligado ao aquecimento global. Neve precisa de muito frio, como o de uma frente fria, e também de umidade elevada. Um planeta mais quente não impede que uma massa de ar fria proveniente das latitudes subpolares atinja as regiões subtropicais. É reflexo do aquecimento global o aumento da quantidade de neve nas nevascas.

(Ecodebate, 08/09/2011) publicado pela IHU On-line, parceiro estratégico do EcoDebate na socialização da informação.

[IHU On-line é publicada pelo Instituto Humanitas Unisinos – IHU, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos, em São Leopoldo, RS.]

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