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Artigo

Três anos de crise, três meses de indignação, artigo de Josep Maria Antentas e Esther Vivas

 

[EcoDebate] Estamos perto do terceiro aniversário da quebra do Lehman Brothers e do estouro formal da crise, “uma racionalização irracional de um sistema irracional” como nos lembra o geógrafo David Harvey. No momento do crack do sistema financeiro, os donos do mundo viveram um breve momento de pânico alarmados pela magnitude de uma crise que não haviam previsto, por sua falta de instrumentos teóricos para compreendê-la e pelo temor a uma forte reação social. Chegaram então as proclamações vazias de “refundação do capitalismo” e os falsos mea culpa que se foram evaporando, uma vez atingido o sistema financeiro e em ausência de una explosão social.

Entrou-se em uma nova fase que, com a crise e o déficit como pretexto, as políticas aplicadas no conjunto da União Europeia buscaram recortar os direitos sociais, infligir uma derrota histórica aos trabalhadores e reforçar os mecanismos de dominação de classe. Para os poderes econômicos as regulações sociais que ainda existem no velho continente são um freio para a competitividade internacional da economia europeia e um incômodo peso nas costas do se quere desfazer. As medidas do governo Zapatero desde maio de 2010 e os cortes do governo de Mas, na Catalunha, o “governo dos melhores” (com as tijeras), se inscrevem plenamente nesta dinâmica geral.

Chegaremos ao terceiro aniversário da crise com uma sensação ambígua. Por um lado, temos a cruel constatação da magnitude da tragédia e os graves efeitos sociais de um descalabro econômico que, longe de haver ficado atrás, ameaça agravar-se com a aceleração das turbulências financeiras internacionais, em um contexto onde as classes dominantes manifestam uma virulenta determinação em fazer com que todos paguem o custo de sua crise. Por outro lado, todavia, chegamos a este ponto com a alentadora evidência de que, finalmente, a revolta social contra um estado de coisas intolerável começou.

Efetivamente, se o movimento do 15M transmitiu alguma mensagem, esta é da esperança, frente ao desanimo e o pessimismo, na capacidade coletiva de mudar as coisas e de poder ser sujeitos ativos, e não meros objetos passivos das necessidades do capital e sua lógica do beneficio e a competência. A indignação é, precisamente, como assinalava Daniel Bensaïd, “o contrário do hábito e da resignação”.

A esperança que o movimento trouxe para aqueles que creem que “mudar o mundo de base” é diretamente proporcional a inquietude que têm gerado nos grupos dominantes da sociedade, abruptamente interpelados por um novo ator que desafia seu monopólio sobre os assuntos coletivos e a vida pública e questiona as definições oficiais da crise, que apresentam uma visão unilateral e interessada.

O 15M e a política dominante representam duas lógicas diferentes, irreconciliáveis. Por um lado, a aspiração a justiça social e a uma democracia real no sentido mais amplo do termo, quer dizer, a capacidade de decidir sobre o próprio destino. Por outro lado, os discursos dos interesses empresariais e o império do benefício privado. Ambas marcam dois caminhos antagônicos para nossa sociedade. Nosso futuro será muito diferente em função de qual prevaleça.

Em seus três meses de existência, o movimento significou um forte processo de politização da sociedade, de interesse pelos assuntos coletivos e de preocupação social de um espaço público usurpado cotidianamente pelos interesses privados. Têm significado uma aprendizagem colectiva do exercício da democracia e da auto-organização. Nos ensinou a começar a “aprender a desaprender” para nos desfazermos das ideias hegemônicas sobre a realidade e contribuir para difundir um “sentido comum alternativo”.

A maré de indignação mobilizada não alcançou, todavia, suficiente força para deter as políticas em marcha, se bem que têm conquistado algumas vitórias concretas, ainda que defensivas, importantes como a paralisação de muitos despejos e o debilitamento da aplicação das ordens de civismo.

Tudo isso, não é um mal balanço para um movimento que, goste-se ou não, está apenas começando a demostrar do que é capaz.

*Josep Maria Antentas é professor de sociología da UAB e Esther Vivas, colaboradora internacional do EcoDebate, é membro do Centro de Estudos sobre Movimentos Sociais(CEMS) da UPF.

**Artígo publicado em Público (ed. Catalunya), 03/09/2011.

***Tradução: Paulo Marques para o blog www.economiasocialistads.blogspot.com

@esthervivas
EcoDebate, 06/09/2011

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