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Notícia

Pesquisa da UFRJ desenvolve suplemento energético à base de açaí

 

Michelle Meiklejohn
Antocianinas, pigmentos do açaí,
ajudam a prevenir a fadiga precoce

Atletas de alto desempenho têm um enorme dispêndio de energia durante a prática esportiva. Pensando nisso, as farmacêuticas Mirian Leite Moura, Lúcia Jaeger de Carvalho e Jacqueline Peixoto, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), desenvolveram uma bebida energética à base de açaí. Com grande concentração de açúcares, o suplemento não só repõe mais rapidamente as energias perdidas, como ameniza o estresse oxidativo em condições de treinamento intenso. O projeto, intitulado “Desenvolvimento de bebida energética funcional para redução do estresse oxidativo em indivíduos treinados”, recebeu recursos do edital de Apoio ao desenvolvimento de Inovações no Esporte no Estado do Rio de Janeiro.

A bebida, que também é fonte de vitamina C e tem um toque cítrico de sabor, está em fase final de desenvolvimento. Por ser rica em antocianinas – da família dos flavonóides, pigmentos naturais do açaí, responsáveis por sua cor característica –, ela fortalece o sistema imunológico. “São as antocianinas as responsáveis por reduzir o estresse oxidativo, resultante do excesso de exercícios, e que leva a um aumento na produção de radicais livres no organismo, o que possibilita risco de fadiga precoce e pode ocasionar danos celulares e lesões”, explica Jacqueline Peixoto. Segundo Mirian, “o suplemento, além de nutritivo e rico em bioativos, é também prático para consumo. E ainda traz benefícios adicionais à saúde, fortalecendo o sistema imunológico e o desempenho do esportista”.

Para comprovar a efetividade da bebida, diversos testes foram realizados: in vitro, no Laboratório de Controle Bromatológico (LabCBrom) e no Laboratório de Tecnologia e Análise Instrumental de Alimentos; e, in vivo, observando sua ação no organismo, a partir do consumo da bebida por atletas voluntários. “Não adianta nada colocarmos açaí na composição da bebida se o seu principal componente, as antocianinas, não surtirem efeito no corpo do atleta. Os testes in vitro e in vivo são fundamentais para provarmos a efetividade da bebida no metabolismo dos esportistas”, explica Lúcia de Carvalho. De acordo com Jacqueline, os resultados foram bastante positivos, atestando a eficácia nutritiva e terapêutica da bebida. “Comprovamos, por exemplo, que a bebida mantém grande concentração de antocianinas, e pudemos verificar como funciona o mecanismo de captura de radicais livres”, afirma Jacqueline.

No teste piloto, feito com os próprios atletas, os resultados também foram satisfatórios. Numa prova em campo aberto, em que os atletas foram divididos em dois grupos, 14 esportistas de pentatlo e maratona realizaram corrida intensa de quatro quilômetros. Foram verificados os níveis de estresse oxidativo e o desgaste muscular, antes e depois do consumo da bebida, e comparadas as condições dos atletas que consumiram e dos que não consumiram o suplemento. “Também tiramos amostras de sangue antes e depois da corrida, para comparações. Nessas amostras, pudemos verificar que a recuperação celular dos atletas que tomaram a bebida foi muito melhor. Conseguimos diminuir a acidose muscular e a atividade das enzimas relacionadas ao estresse oxidativo e à fadiga precoce. Isso mostra como o rendimento dos voluntários que tomaram o suplemento foi aumentado”, falou Jacqueline.

A farmacêutica ressalta, no entanto, que diversos outros fatores interferem no desenvolvimento de um atleta nos treinos e competições. O número de horas de sono, como está sua alimentação, e até o funcionamento de seu próprio metabolismo podem influir no rendimento de cada um.

Atualmente a bebida está na fase de testes, em parceria que reúne o Laboratório de Atividade Física e Promoção da Saúde (LaBSau) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), a Universidade da Força Aérea (Unifa) e o Centro de Educação Física Almirante Adalberto Nunes (Cefan), da Marinha. Com o chamado teste ergoespirométrico – prova de esforço máximo realizada em esteira, em que o atleta corre com um aparelho na boca, o ergoespirômetro –, pode-se avaliar sua capacidade cardiorrespiratória de forma direta, controlando variáveis metabólicas, de treinamento e ambientais, como a alimentação, temperatura e umidade do ar. Os resultados, entretanto, ainda estão em fase preliminar.

Paralelamente, as pesquisadoras analisam o tempo de vida útil do produto e aceitação da bebida. “Quanto ao sabor, já sabemos que estamos no caminho certo. Na Feira FAPERJ, pudemos perceber que todos que provaram da bebida gostaram”, diz Jacqueline. No momento, com o auxílio da Agência de Inovação da UFRJ, as pesquisadoras avaliam a possibilidade de parcerias com empresas envolvidas em produtos para atletas. Elas pretendem ainda viabilizar no futuro a apresentação do suplemento em versão pó.

Reportagem de Danielle Kiffer, da FAPERJ – Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro ,publicada pelo EcoDebate, 24/08/2011

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