hidroquinona: Toxina de combustível e cigarro prejudica resposta imune
Nível de hidroquinona dez vezes menor que limite afeta mecanismo imunológico de animais em experimento na FCF
Testes realizados na Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) da USP indicam a necessidade de se revisar os índices de exposição à hidroquinona, substância tóxica derivada do benzeno, que chega à atmosfera por meio de combustíveis adulterados e cigarros. Nos laboratórios da FCF, camundongos submetidos a uma baixa exposição à hidroquinona tiveram a resposta imune do organismo prejudicada. Atualmente, o valor tolerado para a concentração da substância é de 0,4 partes por milhão (ppm), de acordo com a Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb). Durante os experimentos, os animais estiveram expostos a concetração de 0,044 ppm, que mesmo sendo dez vezes menor, afetou seus mecanismos imunológicos.
O benzeno presente no meio ambiente é absorvido pela pele e vias respiratórias, onde sofre reações que originam a hidroquinona. “Ela prejudica a ação dos neutrófilos, células que circulam pelo sangue e migram para os tecidos, onde eliminam agentes inflamatórios, como bactérias”, explica a professora Sandra Farsky, que coordenou a pesquisa. “No caso da cidade de São Paulo, não há dados específicos sobre a exposição da hidroquinona em seres humanos, mas sabe-se que a quantidade de benzeno presente no ar é muito superior aos limites permitidos, devido ao grande número de veículos automotores, a adulteração de combustíveis e a presença de fumantes”.
Nos experimentos, um grupo de camundongos foi submetido por uma hora a uma concentração hidroquímica de 25 partes por milhão (ppm) de hidroquinona durante cinco dias. “Após esse período, foram realizadas medições sanguíneas e genéticas para identificar os níveis de exposição”, diz a professora da FCF. A conentração de hidroquinona encontrada na área de expsosição era de 0,044 ppm, dez vezes menor que o valor aceito atualmente, que é de 0,4 ppm. “Nestas condições os animais apresentaram alterações biológicas importantes”.
Em seguida, os animais foram submetidos a um desafio imunológico ao respirarem lipopolisacarídeos, componentes da parede celular de bactérias que causam inflamação. “Verificou-se que a resposta inflamatória foi deficiente”, ressalta Sandra, “indicando que apesar dos camundongos terem sido considerados normais pelos parâmetros de exposição existentes, a hidroquinona alterou seus mecanismos imunológicos”.
Riscos
De acordo com a professora, não é possível relacionar os resultados dos experimentos com animais com a exposição dos seres humanos a hidroquinona. “Entretanto, o estudo sugere que níveis baixos de exposição são capazes de mudar a capacidade de resposta do organismo”, alerta. “Isso reforça a necessidade da realização de estudos mais aprofundados sobre os riscos de exposição ambiental da substância”.
A toxicidade da hidroquinona é medida pelo hemograma (contagem de células do sangue) e pela formação de adutos de DNA (alterações no código genético das células que podem provocar lesões cancerosas). No Brasil, são adotados os limites de exposição estabelecidos pela Environmental Protection Agency (EPA) e National Institute Of Occupational Safety and Health (NIOSH), agências do governo dos Estados Unidos, trazidos pela Cetesb, ligada à Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo.
O benzeno, que origina a hidroquinona, era utilizado como aditivo na gasolina até a década de 1970, quando sua utilização foi proibida devido a alta toxicidade. “O combustível adulterado chega a apresentar até 8% de benzeno, que é liberado no ar pela queima de combustível e chega ao organismo pelas vias aéreas e pela pele”, aponta Sandra. O benzeno, bem como a hidroquinona, integram os quase 4 mil compostos presentes no cigarro.
A pesquisa faz parte dos trabalhos de mestrado dos pós-graduandos André Luiz Teroso Ribeiro e Ana Lúcia Borges Shimada, realizados no Laboratório de Toxicologia da FCF, com orientação da professora Sandra Farsky. As principais conclusões dos experimentos foram reunidos em artigo científico publicado na revista Toxicology.
Mais informações: email sfarsky@usp.br
Reportagem de Júlio Bernardes, da Agência USP de Notícias, publicada pelo EcoDebate, 23/08/2011
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