Ambientalistas e ruralistas intensificam ofensivas para defender suas posições sobre o Código Florestal
Em meio ao início das discussões no Senado sobre a reforma do Código Florestal, ambientalistas – contrários ao texto votado em maio pela Câmara – e parlamentares favoráveis à nova lei iniciaram nesta segunda-feira ofensivas para defender suas posições sobre a questão.
Enquanto três ONGs (Greenpeace, WWF e SOS Mata Atlântica) promoviam em Brasília um seminário com críticas ao Código, um grupo integrado pela senadora Kátia Abreu (sem partido-TO) e pelo deputado Aldo Rebelo (PC do B-SP) defendia a nova legislação, na sede da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp).
Ambientalistas
No seminário de Brasília, o advogado Gustavo Trindade, do Instituto O Direito por um Planeta Verde, disse que o artigo 8º da proposta anula as funções das Áreas de Proteção Permanente (APPs) em propriedades rurais.
Hoje, a legislação veda a intervenção ou supressão de vegetação nas APPs (encostas de morros, áreas de nascentes, margem de rios, mangues e outras áreas consideradas de interesse ambiental), exceto nas hipóteses de utilidade pública, interesse social ou baixo impacto ambiental previstas em lei, e desde que não haja alternativas.
O novo texto, segundo Trindade, abriria o caminho para o uso das APPs também para atividades agrossilvopastoris (culturas agrícolas ou criação de animais) e tiraria do Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente), um órgão federal, a atribuição de deliberar sobre intervenções nessas áreas.
“Na prática, significa que as APPs poderão ser usadas para atividades agrossilvopastoris independentemente da vontade do poder público”, disse o advogado.
Crítica
“Essa proposta foi feita claramente para quem nunca cumpriu com as leis vigentes. Ela pode acabar com a reserva legal em todos os biomas.” – Gustavo Trindade, do Instituto O Direito por um Planeta Verde
Trindade diz ainda que o novo Código seria injusto com os proprietários de terras rurais que seguem as leis vigentes, ao conceder somente aos infratores das regras atuais o direito de abrir mão de suas reservas legais.
Ele afirma que, hoje, os donos de terras são obrigados a preservar uma porcentagem da vegetação nativa do território (reserva legal), que é de 80% para propriedades em áreas de floresta na Amazônia Legal, 35% em regiões de Cerrado na Amazônia Legal e 20% nas demais regiões do país.
Com o novo Código, segundo Trindade, os proprietários que que tiverem desmatado ilegalmente toda a vegetação, se forem pequenos proprietários, não terão de reflorestá-la, ao passo que os grandes donos de terra poderão reduzir as áreas reflorestadas a parcelas inferiores às porcentagens hoje exigidas.
“Essa proposta foi claramente feita para os que nunca cumpriram com as leis vigentes. Ela pode acabar com a reserva legal em todos os biomas do país”, diz o advogado.
Ruralistas
No evento realizado na Fiesp, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes, em rápido pronunciamento, defendeu uma maior discussão do “direito ao desenvolvimento”, o que considera “matéria de pouca consideração”.
Relator do projeto do Código Florestal na Câmara, o deputado Aldo Rebelo disse que a atual legislação não funciona, já que expõe grande parte dos agricultores a uma situação de irregularidade.
Defesa
“As unidades de preservação são da maior importância, e o Estado precisa assumir isso. Não é possível um ônus individual para um bem que é coletivo.” – Kátia Abreu, senadora (sem partido-TO)
“Como pode num país uma determinada atividade estar operando quase 100% na ilegalidade?”, questionou o deputado, afirmando que a maior parte das propriedades brasileiras não possui a reserva legal, o que, segundo ele, inviabilizaria a produção no caso de pequenos agricultores.
Integrante da bancada ruralista, a senadora Kátia Abreu, que disse esperar que o código seja votado no Senado em outubro, afirmou ser “radicalmente contra a reserva legal”, a quem chamou de “corpo estranho” dentro de unidades produtoras. “Só no Brasil há reserva legal”, disse.
Ela defendeu que as unidades de conservação sejam constituídas pelo Estado por meio de desapropriações.
“É assim no mundo inteiro. As unidades de preservação são da maior importância, e o Estado brasileiro precisa assumir isso. Não é possível um ônus individual para um bem que é coletivo”.
Tanto Kátia Abreu quanto Rebelo falaram da necessidade de expandir a produção agrícola em um contexto de inflação causada pela escassez de alimentos no mundo.
Rebelo também se defendeu das críticas de que o novo código, estruturado por ele, estaria apenas contemplando os interesses dos ruralistas. “Fizemos mais de cem audiências públicas. Esse foi o projeto mais debatido nos últimos tempos”, disse.
Reportagem de João Fellet e Maurício Moraes, da BBC Brasil, publicada pelo EcoDebate, 16/08/2011
[ O conteúdo do EcoDebate é “Copyleft”, podendo ser copiado, reproduzido e/ou distribuído, desde que seja dado crédito ao autor, ao Ecodebate e, se for o caso, à fonte primária da informação ]
Inclusão na lista de distribuição do Boletim Diário do Portal EcoDebate
Caso queira ser incluído(a) na lista de distribuição de nosso boletim diário, basta clicar no LINK e preencher o formulário de inscrição. O seu e-mail será incluído e você receberá uma mensagem solicitando que confirme a inscrição.
O EcoDebate não pratica SPAM e a exigência de confirmação do e-mail de origem visa evitar que seu e-mail seja incluído indevidamente por terceiros.
Vejamos se eu entendi.
O Brasil é o único pais que tem a figura da reserva legal, para terras particulares.
Nos outros somente há reservas públicas.
Nos outros países, as florestas praticamente inexistem, digo dos desenvolvidos. Então nós devemos tomar o mesmo caminho.
Hummm, talvez também devamos fazer um programa de armamento nuclear? Afinal os EUA tem suas armas…
Muito bem, então para fazer reservas, o governo deverá desapropriar terras, e instalar as reservas.
Mas o governo não está nem respeitando as reservas que existem, vai destruir um monte delas para construir hidroeletricas por todo pais, só para começar a conversa.
Então ninguém vai mesmo fazer nada.
Falando em não fazer nada, como a maioria das propriedades rurais está irregular neste quesito, mudamos o código. Então quem já transgrediu fica perdoado.
Ok, temos também muitas pessoas em situação irregular com o fisco, físicas e jurídicas. Vamos abolir os impostos.
Que coisa não, acho que está na hora de abolir sim a camara inteira, e convocar novas eleições.
Desta vez com gente séria.
Nem precisa mudar os códigos de ética, basta serem cumpridos.