Estudo mostra que áreas de proteção ambiental podem levar 185 anos para atingirem o tamanho recomendável
As áreas de proteção ambiental do mundo são pequenas, desconectadas e sujeitas a ameaças como mudanças climáticas e espécies invasoras.
Além de não recebem os investimentos adequados, se as áreas de proteção crescerem no ritmo atual, demorarão 185 anos para atingirem o tamanho recomendável. O diagnóstico é de um estudo da Universidade do Havaí, publicado na última quinta-feira pela revista “Marine Ecology Progress Series”. Os autores da pesquisa são pessimistas: embora, nos últimos 30 anos, o número de locais resguardados contra a ocupação humana tenha aumentado significativamente, é provável que eles jamais atinjam o porte necessário para evitar a perda de biodiversidade.
Hoje, as cerca de 100 mil áreas protegidas no planeta ocupam 17 milhões de quilômetros quadrados de terra (o equivalente a 5,5% das regiões continentais) e 2 milhões de quilômetros quadrados de oceano (0,08%). Uma meta aceita mundialmente estipula que este índice deveria chegar a 30% – abaixo disso, a conservação dos ecossistemas corre perigo. Mas o colombiano Camilo Mora, coautor do estudo da Universidade do Havaí, reconhece que o percentual está fora de cogitação.
– Nem mesmo 10% seria uma meta realista – avalia. – Há uma pressão muito grande sobre a biodiversidade, causada pelo crescimento da população humana e sua demanda crescente por alimentação e moradia. Esta exploração pode levar à extinção de muitas espécies ainda antes de 2050.
Também daqui a menos de quatro décadas, o uso predatório de recursos naturais acenderá definitivamente o sinal vermelho do planeta. A conta de Mora é simples: hoje, cada habitante do planeta precisa de, em média, 2,1 hectares para satisfazer suas necessidades de alimento, energia, moradia, entre outros. Como somos quase 7 bilhões, a conta ultrapassa os 14 bilhões de hectares – 3 bilhões a mais do que a área da Terra.
– Já exigimos mais do que o planeta pode dar – alerta. – Considerando o crescimento da população e de sua demanda, em 2050 precisaremos de um mundo 27 vezes maior do que o nosso.
Com tantas necessidades para suprir – e muitos enfrentando carência de espaço -, os governos não investem nas áreas protegidas como deveriam. Hoje, as verbas destinadas anualmente a elas são estimadas em US$ 6 bilhões. Para que sejam administradas efetivamente, sua receita deveria ser quatro vezes maior, segundo estudos citados por Mora.
Atacadas por todos os lados e pouco prestigiadas em orçamentos públicos, as zonas ambientais não têm o tamanho minimamente necessário para cumprir o seu objetivo – proteger a biodiversidade. E, quando o faz, é de forma incompleta.
Das reservas em terra, 30% têm menos de um quilômetro quadrado. São pequenas demais para as espécies maiores. E, na maioria das vezes, estas áreas são isoladas uma das outras. Não há, portanto, uma bem-vinda troca de populações entre elas.
Tudo bem que, mesmo pequenas, estas regiões estão protegidas do desmatamento – e suas espécies, da perda de habitat. No entanto, outros estresses ainda rondam os ecossistemas, como a poluição (decorrente de sua proximidade com centros urbanos), espécies invasoras e mudanças climáticas. Por isso, mesmo animais e plantas que se refugiam ali podem esperar baixas em sua população.
– Vinte por cento dos corais estão em áreas protegidas, mas menos de 1% está verdadeiramente a salvo da exposição ao homem – ressalta Mora. – Os conflitos entre a proteção da biodiversidade e o desenvolvimento humano são uma constante, e este sempre receberá mais atenção. É recomendável que os governos mudem sua estratégia. Precisamos gastar mais tempo e esforço pensando em uma solução para a superpopulação e seu consumo.
Reportagem de O Globo, socializada pelo Jornal da Ciência/SBPC, JC e-mail 4311.
EcoDebate, 01/08/2011
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Se a intervenção dos governos é necessária para evitar que as condições de vida na Terra, já tão degradadas, sejam exauridas, esta deverá ocorrer no ponto que possa, de fato, solucionar o problema. Criar reservas ambientais sem adotar medidas para conter o aumento da população humana equivale,exatamente, a estocar alimentos, sem a proteção necessária, diante de um grande grupo faminto e sem outra opção para se alimentar. O estoque, inevitavelmente, será devorado, e, em seguida, o grupo, sem dispor de mais alimentos, perecerá.