Estudo associa prevalência de síndrome metabólica a baixos níveis educacionais
Educação e risco cardiovascular – Estudo realizado por pesquisadores da UFSCar com 1.116 indivíduos indica que prevalência de síndrome metabólica em São Carlos (SP) passa dos 35% e está diretamente associada a baixos níveis educacionais
Um estudo realizado em São Carlos (SP) mostrou que a síndrome metabólica é altamente prevalente na cidade. Além disso, a gravidade do problema tem relação direta com os níveis educacionais da população.
A síndrome metabólica é um conjunto de fatores de risco cardiovascular que inclui hiperglicemia – com ou sem diabetes –, hipertensão arterial, obesidade e aumento da circunferência da cintura. A cidade de São Carlos tem 220 mil habitantes e fica a 230 quilômetros da capital paulista.
O estudo, realizado por pesquisadores da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), foi veiculado na edição online e em breve será publicado na versão impressa da revista Brazilian Journal of Medical and Biological Research. O trabalho teve apoio da FAPESP na modalidade Auxílio Publicação – Regular.
De acordo com a autora principal do artigo, a endocrinologista Angela Leal, professora do Departamento de Medicina da UFSCar, o estudo de base populacional envolveu 1.116 indivíduos de 30 a 79 anos de idade. O trabalhou incluiu coleta de sangue, avaliação da pressão arterial e medição de peso e circunferência abdominal, além da aplicação de questionários sobre condições de saúde e indicativos sociodemográficos.
A análise dos dados revelou que a prevalência da síndrome metabólica foi de 35,7% entre os homens e de 38% entre as mulheres. Com o critério que inclui circunferência abdominal, a prevalência sobe para 45,3% entre os homens e para 45,5% entre as mulheres.
“Os resultados mostram que a prevalência da síndrome metabólica é muito alta. Mas o que nos chamou mais a atenção é que foi observada uma clara associação do problema com a condição educacional. Quanto mais baixo o nível educacional, maior o risco de síndrome metabólica”, disse Leal à Agência FAPESP.
Os resultados, segundo ela, sugerem que o planejamento de políticas publicas de saúde voltadas para a redução do risco de síndrome metabólica, nos países em desenvolvimento, deve levar em conta o aprimoramento da educação.
“O baixo nível educacional é um gargalo para a saúde no Brasil. Não conseguiremos melhorar as condições de saúde se os níveis educacionais permanecerem baixos. Esse trabalho vem se somar a inúmeros outros que revelaram a correlação entre saúde e educação”, declarou.
Além da associação da prevalência da síndrome metabólica com a condição educacional, o estudo também detectou, em menores níveis, associação do problema com a faixa etária, o peso e a cor da pele, segundo Leal. Não foi detectada, no entanto, associação entre a prevalência da síndrome metabólica e a renda familiar, ou o hábito de fumar.
Entre as mulheres, a circunferência abdominal aumentada foi quase duas vezes mais frequente que entre os homens: 66,5%, contra 37,4%, segundo a pesquisa.
Além da pesquisadora, que coordenou o estudo, o trabalho teve o envolvimento de estudantes de graduação e pós-graduação do Departamento de Medicina e a contribuição de professores e alunos dos cursos de Fisioterapia e de Estatística da UFSCar.
As amostras, segundo ela, foram colhidas entre agosto de 2007 e junho de 2008. Para que a amostra fosse representativa da população, um trabalho de amostragem dirigido pelo professor Jorge Oishi, do Departamento de Estatística, havia sido realizado previamente.
“Os estudos de base populacional ajudam a traçar um perfil da população. O trabalho reuniu dados sobre alterações de colesterol, triglicérides e hipertensão arterial, além dos dados sobre o histórico de saúde e as variáveis sociodemográficas. Ainda colhemos dados sobre atividade física, que serão avaliados no segundo semestre de 2011”, disse Leal.
De acordo com os critérios de diagnóstico adotados, 13,5% dos indivíduos pesquisados apresentaram diabetes mellitus. Um estudo concluído pelo mesmo grupo em 2009, também sob coordenação de Leal, já havia concluído que a prevalência de diabetes mellitus chegava a 13,5% entre os habitantes de São Carlos. O número sugeria um aumento na prevalência da doença em relação a estudos anteriores feitos no Brasil.
No estudo atual, a síndrome metabólica foi abordada, no estudo, a partir de dois dos principais critérios internacionais: o da Federação Internacional de Diabetes – que inclui a variável da circunferência abdominal – e o NCEP-ATPIII (sigla para National Cholesterol Education Program – Adult Treatment Panel 3).
Para ler o artigo Prevalence of metabolic syndrome and its association with educational inequalities among Brazilian adults: a population-based study, de Angela Leal e outros, publicado na Brazilian Journal of Medical and Biological Research clique aqui.
Reportagem de Fábio de Castro, da Agência FAPESP, publicada pelo EcoDebate, 27/07/2011
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