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Pesquisa associa uso de tintura de cabelo por mulheres grávidas à leucemia aguda em lactente

Pesquisa associa uso de tintura de cabelo por mulheres grávidas à leucemia aguda em lactente
A associação entre os casos de câncer e o uso tintura de cabelo vem sendo analisada desde a década de 1970, mas as pesquisas eram desenvolvidas para pessoas mais velhas. Hoje o uso da tintura de cabelo é algo comum, principalmente entre adolescentes. Foto: Agência Fiocruz de Notícias

Pesquisa associa tintura de cabelo à leucemia infantil – A investigação encontrou evidências de uma possível associação entre o uso de tintura no início da gravidez e o desenvolvimento de leucemia aguda em lactente, com estimativa de risco duas a três vezes mais elevada em gestantes que se expuseram aos cosméticos no primeiro e segundo trimestres da gravidez

A utilização de tintura de cabelo por mulheres grávidas pode trazer alguma consequência ao bebê? Em sua dissertação no Programa de Saúde Pública e Meio Ambiente da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz), o biólogo Arnaldo Couto analisou uma possível associação entre o uso de produtos de tintura e alisamento de cabelo durante a gravidez e o desenvolvimento de leucemia aguda em menores de 2 anos. A investigação encontrou evidências sugestivas de uma possível associação entre o uso de tintura/alisamento de cabelo no período inicial da gravidez e o desenvolvimento de leucemia aguda em lactente, com uma estimativa de risco duas a três vezes mais elevada em gestantes que se expuseram àqueles cosméticos durante o primeiro e segundo trimestres da gravidez.

Exposição parental à tinturas e produtos de alisamento de cabelo e leucemias agudas em lactentes foi o título da dissertação, premiada pela Sociedade Brasileira de Cosmetologia como o melhor estudo na área de Cosmetotoxicologia, durante o 17º Congresso Brasileiro de Toxicologia realizado em Ribeirão Preto. O estudo foi orientado pelo pesquisador da Ensp e coordenador da Pós-Graduação em Saúde Pública e Meio Ambiente (SPMA), Sergio Koifman, e pela pesquisadora do Instituto Nacional do Câncer (Inca) Maria do Socorro Pombo-de-Oliveira. Também contou também com a colaboração acadêmica de Jeniffer Dantas Ferreira e Ana Cristina Rosa, ambas alunas do doutorado em SPMA da Ensp.

A dissertação é um estudo de caso-controle de base hospitalar, realizado em nível nacional, que recrutou os casos e controles de todas as regiões do Brasil, exceto a Região Norte. Os participantes foram constituídos por crianças menores de 2 anos, tendo os casos o diagnóstico de leucemia aguda estabelecido pelos métodos morfológico, imunofenotípico e moleculares; e os controles foram selecionados entre crianças hospitalizadas nas mesmas regiões de proveniência dos casos, tendo a mesma faixa etária e em tratamento para doenças não neoplásicas. Em relação às mães dos casos e controles, estas foram entrevistadas, obtendo-se informações padronizadas sobre o perfil socioeconômico da família, história ocupacional dos pais e hábitos de vida e de saúde da família, incluindo a exposição à tinturas/alisamentos de cabelo no período preconcepcional, na gestação e durante a lactação.

“A proposta de analisar a relação entre a tintura de cabelo e o possível desenvolvimento de câncer, incluindo leucemias, vem sendo estudada por diferentes pesquisadores com resultados contraditórios. De acordo com nosso conhecimento, este é o primeiro estudo a analisar esta exposição das leucemias em lactentes, principalmente quando ocorre durante a gestação. A associação entre os casos de câncer e o uso tintura de cabelo já vem sendo analisada desde o fim da década de 1970, mas as pesquisas eram desenvolvidas para as pessoas mais velhas, já que o hábito de pintar os cabelos era realizado por pessoas de uma determinada idade – na medida em que surgiam cabelos brancos. Hoje em dia, o uso da tintura de cabelo é algo comum, principalmente entre adolescentes”.

Agências reguladoras devem verificar composição química de produtos

De acordo com Arnaldo Couto, foram realizadas análises três meses antes da gravidez, durante a própria gestação, que foi dividida em três trimestres, e três meses após o parto. Além disso, os dois principais tipos de leucemias na infância são: a leucemia linfoide aguda (LLA) e a leucemia mieloide aguda (LMA), sendo a LLA a mais frequente (75% dos casos pediátricos). “Nossos dados encontraram um resultado interessante: observamos um aumento na estimativa de risco no primeiro trimestre da gestação em torno de 70%. Para LLA foi observado um aumento na estimativa de risco na ordem de 80% cujas mães mencionaram uso de tinturas e alisantes de cabelo no primeiro e segundo trimestre da gravidez. Em relação ao uso destes cosméticos durante a lactação, observou-se um excesso de risco na ocorrência de LMA de 2,59 vezes maior para mulheres que fizeram uso de produtos capilares”.

Ainda segundo Couto, que atualmente é aluno de doutorado do Programa de Saúde Publica e Meio Ambiente da Ensp, o estudo analisou as marcas comerciais de produtos para tintura de cabelo e realizou uma estimativa do risco a partir dos compostos químicos neles presentes. “Observamos uma diversidade de produtos, com cerca de 150 compostos diferentes nas tinturas. Destes, aproximadamente 32 apresentaram aumento na estimativa de risco.” Por conta disso, o trabalho alerta para uma maior fiscalização dos órgãos de vigilância dos cosméticos.

“É importante ressaltar que trabalhamos com o possível risco de leucemia no lactente, ocorrida a partir da exposição da mãe durante a gravidez. Os órgãos de vigilância dos cosméticos devem trazer essas informações mais completas para as usuárias. O trabalho sugere ainda que haja um aumento na estimativa de risco e isso revela a importância das agências reguladoras verificarem a composição química dos produtos, já que algumas substâncias presentes já são definidas como cancerígenas. Esses fatos necessitam ser claramente explicados para a sociedade”.

Reportagem de Filipe Leonel, da Agência Fiocruz de Notícias, publicada pelo EcoDebate, 15/07/2011

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