mexilhão dourado (Limnoperna fortunei): Nova ameaça aos rios do cerrado
Depois de se disseminar pelos rios do Pantanal, o mexilhão dourado (Limnoperna fortunei), um pequeno molusco invasor originário do sul da Ásia, que causa grandes estragos nos ambientes em que se adapta, está prestes a alcançar os cursos d água do cerrado. O alerta será feito pelo biólogo Flávio da Costa Fernandes, em sua conferência A ameaça do mexilhão dourado sobre os rios do cerrado, que faz parte da programação da 63ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).
Mestre e doutor em oceanografia biológica, Fernandes é pesquisador no Instituto de Estudos do Mar Almirante Paulo Moreira, da Marinha do Brasil. Entre 2005 e 2007, ele coordenou um grande projeto do Ministério do Meio Ambiente em conjunto com Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), que tinha como objetivo estabelecer medidas de controle do mexilhão dourado, evitando novas invasões, limitando a dispersão e minimizando os seus impactos. Participaram pesquisadores de instituições do Rio Grande do Sul, Paraná, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e Rio de Janeiro.
Esse pequeno molusco bivalve (de duas conchas) de água doce, que não passa de 4 cm, chegou à América do Sul, mais precisamente no Rio da Prata, na Argentina, em 1991, na água de lastro de navios vindos da China. “Dali, subindo os rios Paraná e Paraguai, fixado aos cascos de embarcações, o mexilhão chegou ao Pantanal e infestou os rios de cinco países: Argentina, Uruguai, Paraguai, Bolívia e Brasil”, conta Fernandes. Esse meio de dispersão é o mais usado pela espécie, mas não é o único. Ela também pode se espalhar por meio da pesca esportiva, abertura de canais, aderida às patas de aves ou no sistema digestivo dos peixes.
O mexilhão dourado foi detectado pela primeira vez no País em 1998 e, desde então, já infestou cinco estados: Rio Grande do Sul, Paraná, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e São Paulo. Agora, usando Rio Paranapanema como caminho, essa espécie exótica invasora já chegou à divisa de Minas Gerais e Goiás. Dali é um pulo para os rios do Cerrado, como diz Fernandes. Com a capacidade de se incrustar em qualquer superfície submersa, como madeira, rocha, plástico e até vidro, o mexilhão dourado pode causar grandes problemas.
Fernandes vai mostrar em sua conferência na Reunião da SBPC, que os impactos causados pelo pequeno molusco têm sido tanto ecológicos como econômicos. “O mexilhão fixa-se sobre todos os substratos consolidados”, explica. “Ele entope as bombas de aspiração, as tubulações de várias empresas que dependem da água dos rios para manter as suas atividades industriais, como fornecimento de água potável, energia elétrica e outros usos.” Na área ambiental, o animal altera todo o equilíbrio do ecossistema, eliminando espécies nativas, desestruturando a cadeia alimentar, por ser alimento de alguns peixes que serão beneficiados pela sua presença e por retirar da água as partículas em suspensão, deixando-a mais transparente, o que modifica todo o ambiente.
Segundo Fernandes, apesar de sua alta capacidade de causar estragos, há formas de combater o mexilhão dourado e evitar que ele chegue aos rios do cerrado. “Uma maneira de impedir essa invasão seria o controle de embarcações entre bacias, nas estradas por onde são transportadas, pois barcos que pescam numa delas teriam que ser examinados e limpos antes de ingressarem em outra”, diz. “A abertura de canais entre bacias também deveria ser evitada, pois ela viabiliza a invasão.” Apesar disso, o pesquisador diz que não tem conhecimento de um programa governamental ou privado para combate deste invasor nos rios do cerrado. “Infelizmente, a erradicação dessa espécie invasora deverá para as próximas gerações”, lamenta.
Serviço: A palestra do biólogo Flávio da Costa Fernandes será realizada no dia 15 de julho, das 10h30 às 12h00, no campus Samambaia da Universidade Federal de Goiás (UFG). A entrada é franca. A 63ª Reunião Anual da SBPC contará com 148 atividades, entre conferências, mesas-redondas, simpósios e encontros, além de 67 minicursos e cinco sessões de pôsteres. Boa parte dessas atividades abordará o tema principal do evento: “Cerrado: Água, Alimento e Energia”. Haverá ainda uma exposição de ciência e tecnologia, entre outras atividades paralelas. Veja a programação completa em: www.sbpcnet.org.br/goiania/home/
Fonte: SBPC
EcoDebate, 12/07/2011
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